Enquanto a Variante Delta Regista um Aumento Significativo, a Procura de Oxigénio Supera a Oferta
EQUIPA DA ADF
Enquanto a variante Delta da COVID-19 assola África, pacientes em estado crítico que chegam aos hospitais enfrentam uma grande possibilidade de morrer, uma vez que os superlotados sistemas de saúde têm dificuldades de providenciar oxigénio suficiente e camas dos cuidados intensivos.
Um estudo com pacientes dos cuidados intensivos nos hospitais do mundo inteiro concluiu que aproximadamente metade dos pacientes de África morreram em menos de 30 dias em comparação com a média global de 31,5%. Os autores do estudo publicado na revista médica britânica, The Lancet, descobriram duas prováveis razões para as elevadas taxas de mortalidade em África:
“Primeiro, a escassez de recursos para cuidados intensivos em África pode contribuir para a elevada mortalidade nos cuidados intensivos,” escreveram. “Segundo, existe um número insuficiente de camas dos cuidados intensivos, com apenas uma cama para cada dois pacientes encaminhados para os cuidados intensivos.”
De acordo com o co-autor Bruce Biccard, da Universidade da Cidade do Cabo, a falta de recursos dos cuidados intensivos comprometeu a capacidade do continente de poder ajudar os que têm infecções graves.
Um dos principais recursos de cuidados intensivos escassos é o oxigénio. Os pacientes de COVID-19 utilizam quantidades enormes de oxigénio, através de máscaras faciais e ventiladores mecânicos.
A procura de oxigénio pelo continente está a superar a oferta, mesmo que o número de concentradores de oxigénio tenha triplicado ao longo do último ano.
De acordo com a Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, a admissão aos hospitais de pacientes com casos graves de COVID-19 encontra-se em níveis sem precedentes em 10 países. Seis países enfrentam escassez de camas dos cuidados intensivos. Os hospitais não possuem pessoal suficiente para satisfazer a demanda.
A carência de oxigénio tornou-se o factor decisivo para saber quem vive e quem morre.
“A prioridade principal dos países africanos é reforçar a produção de oxigénio pra oferecer aos pacientes em estado grave uma possibilidade de lutar,” disse Moeti recentemente.
Um estudo da OMS sobre os sistemas de oxigénio em hospitais do continente descobriu a existência de muito pouco oxigénio, falta de cilindros necessários para conservar o oxigénio, instalações de produção de oxigénio avariadas ou com fraca manutenção e pessoal com formação inadequada nas instalações de produção de oxigénio.
No Sudão, um fornecimento de energia não confiável implica que a principal unidade de produção de oxigénio do país seja incapaz de satisfazer as necessidades dos hospitais, o que resulta em mortes.
“O meu pai morreu pelo facto de não haver camas com ventiladores nos cuidados intensivos,” Sayda Mahmoud, uma residente de Cartum, disse à Reuter, com lágrimas.
Com menos de 2% dos 1,3 bilhões de habitantes de África totalmente vacinados e a fadiga a fazer com que muitas pessoas evitem o uso da máscara e outras precauções, a variante Delta passou a ter uma forte presença no continente. Os casos estão a aumentar rapidamente como também estão as mortes.
Na primeira semana de Agosto, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) registou 273.000 novos casos da COVID-19, um aumento de 14% em relação à semana anterior. Desde que a pandemia começou, em inícios de 2020, 6,8 milhões de pessoas em África ficaram doentes com COVID-19 e 173.000 morreram.
Trinta e dois dos 55 Estados-membros da União Africana estão a experimentar uma terceira vaga de infecções pela COVID-19. Alguns deles, incluindo Argélia, Quénia e Tunísia, estão a experimentar uma quarta vaga.
A taxa de mortalidade a nível do continente — percentagem daqueles casos que resultaram em mortes — situa-se em 2,5%. Contudo, vários países, incluindo o Egipto, a Somália e o Sudão, estão a registar taxas de mortalidade de cerca de 5%, de acordo com Dr. John Nkengasong, director do Africa CDC.
A OMS está a ajudar os países a melhorarem os seus tratamentos para a COVID-19 e a aperfeiçoarem as suas capacidades de cuidados intensivos, através do envio de especialistas para formarem profissionais de saúde. Também se está a fazer a entrega de suprimentos fundamentais, incluindo cilindros de oxigénio e ventiladores, e a ajudar a reparar as instalações de produção de oxigénio.
“O número de mortes aumentou acentuadamente nas últimas cinco semanas,” disse Moeti. “Este é claramente um sinal de alerta de que os hospitais dos países mais afectados estão a alcançar um ponto de ruptura.”
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