EQUIPA DA ADF
África já era um terreno fértil para medicamentos falsificados antes da pandemia da COVID-19 eclodir.
Agora os especialistas alertam que vacinas falsas e viciadas podem surgir e entrar nos mercados do continente quando as carências de vacinas legítimas persistirem.
“Observamos que ultimamente tem havido relatos de vacinas falsas encontradas na África do Sul,” disse o Ministro de Saúde daquele país, Dr. Zweli Mkhize, no Parlamento, no dia 10 de Março. “Isto foi trazido à nossa atenção pelos Serviços de Polícia da África do Sul que trabalham com a Interpol, e nós gostaríamos de indicar que este é um assunto muito preocupante.”
No dia 19 de Novembro de 2020, a polícia sul-africana descobriu 2.400 doses de vacinas contra a COVID-19 falsas e uma remessa de máscaras faciais N95 contrafeitas, avaliadas em aproximadamente 450.000 dólares. Três cidadãos de nacionalidade chinesa e um de nacionalidade zambiana foram presos, depois de a polícia ter feito uma incursão em dois armazéns em Germiston, na província nordestina de Gauteng, África do Sul.
As vacinas e as máscaras falsas foram importadas de Singapura para a África do Sul por uma empresa e entraram pelo aeroporto internacional de Joanesburgo, de acordo com a Interpol. Os documentos de importação declararam que as vacinas eram injecções cosméticas. Os produtos tinham sido publicados num aplicativo das redes sociais chamado WeChat South Africa.
Dias depois, a Interpol emitiu um alerta global, avisando os seus 194 países-membros para estarem atentos ao crime organizado que tem como alvo as vacinas contra a COVID-19.
“As redes criminosas terão também como alvo pessoas inocentes através de páginas da internet falsas e curas falsas, o que pode representar um risco significativos para a sua saúde ou mesmo para as suas vidas,” disse o Secretário-Geral da Interpol, Jürgen Stock, num comunicado.
“É importante que os agentes da lei estejam muito bem preparados para aquilo que será um ataque de todos os tipos de actividade criminal ligada à vacina contra a COVID-19.”
A incursão de Germiston levou a polícia chinesa a prender um circuito que fabricava vacinas falsificadas da COVID-19, em Beijing e nas províncias de Jiangsu e Shandong. A polícia chinesa apreendeu 80 pessoas e capturou mais de 3.000 vacinas falsas que consistiam numa solução salina, numa incursão de Fevereiro de 2021, feita no local de fabrico.
Stock considerou como “a ponta do iceberg quando se trata de crimes relacionados com a vacina da COVID-19.”
É um problema particularmente preocupante em África, onde a procura pelas vacinas é elevada, porque os países estão a ter dificuldades para implementar as campanhas de vacinação.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que menos de 1% dos 1,5 bilhões de habitantes de África tenham sido vacinados. A OMS também comunicou que 42% de todos os casos de medicamentos contrafeitos registados entre 2013 e 2017 ocorreram em África, que importa a maior parte dos seus produtos farmacêuticos.
O governo queniano reverteu a decisão de permitir que as empresas privadas de prestação de cuidados de saúde importassem vacinas.
“A participação de investidores privados no exercício de vacinação ameaça os ganhos feitos na luta contra a COVID-19 e coloca o país em risco internacional, caso bens contrafeitos consigam entrar no mercado queniano,” disse Mutahi Kagwe, Secretário Permanente do Ministério de Saúde do Quénia, no dia 2 de Abril.
Em Março, a Interpol também afirmou que existiam “denúncias adicionais de distribuição de vacinas falsas e tentativas de burla que tinham como alvo órgãos da saúde, como lares para idosos.”
A agência também alertou “que nenhuma vacina aprovada está actualmente disponível para venda online.”
“Qualquer vacina que estiver a ser publicitada nas páginas da internet ou na ‘dark web’ não será legítima, não terá sido testada e pode ser perigosa. Qualquer pessoa que comprar tais medicamentos está a colocar a si próprio em risco e a entregar o seu dinheiro a pessoas que fazem parte do crime organizado.”