EQUIPA DA ADF
Mais de uma dezena de países africanos estão a caminhar em direcção a uma terceira vaga de infecções pela COVID-19, de acordo com o director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC).
John Nkengasong disse, na sua conferência de imprensa do dia 10 de Junho, que 14 países estavam a caminhar em direcção a uma terceira vaga, numa altura que o continente passa por dificuldades de importar e administrar vacinas suficientes para proteger a sua população e confrontar a chamada variante Delta que foi primeiramente descoberta na Índia.
“Isso é lamentável, mas pode acontecer numa pandemia,” disse Nkengasong. “Vemos estas ondas a virem várias e repetidas vezes até termos uma vacina. Isso, na verdade, demonstra a necessidade de implementar as vacinas com rapidez e em grande escala.”
Na África do Sul, o Instituto Nacional de Doenças Contagiosas comunicou que o país tinha ultrapassado o limite e entrado para a terceira vaga com mais de 9.100 casos em apenas 24 horas. Quatro províncias — Estado Livre, Gauteng, Cabo Setentrional e Noroeste — registaram um aumento no número de casos consistente com uma terceira vaga de infecções. As hospitalizações também estão a registar um aumento.
Complicando mais os problemas, 13 países africanos registaram casos da variante B.1.617, também conhecida como a variante Delta.
“Vê-se claramente que a variante que foi identificada na Índia está a invadir o continente,” disse Nkengasong.
Contudo, não está claro até que ponto a variante Delta está a afectar a terceira vaga, acrescentou. As variantes descobertas na África do Sul e no Reino Unido influenciaram grandemente a segunda vaga de infecções.
Em meados de Junho, o Africa CDC registou mais de 5 milhões de casos de COVID-19 e mais de 135.000 mortes desde que a pandemia começou, no início de 2020.
“Muitos hospitais e postos de saúde de África ainda estão longe de estar preparados para um aumento no número de casos de pacientes graves da COVID-19,” Dra. Matshidiso Moeti, directora regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para África, disse à imprensa, durante uma recente conferência de imprensa.
Moeti apelou aos países africanos para se prepararem para um outro aumento no número de infecções. Ela disse que a OMS está disponível para ajudar os países, através do envio atempado de especialistas e de equipamento de importância vital, como concentradores de oxigénio, onde eles são necessários.
A maior parte dos países africanos possui menos de uma cama na unidade de cuidados intensivos para cada 100.000 pessoas, disse Moeti. Um baixo rácio de camas de UCI está associado ao aumento das mortes pela COVID-19, de acordo com um relatório publicado em Abril no Journal of Surgical Research, uma revista especializada em pesquisas relacionadas à cirurgia.
África do Sul continua a ser o país mais assolado do continente, com mais de 1,7 milhões de casos de COVID-19 e mais de 58.000 mortes desde que a pandemia começou. Juntamente com a África do Sul, os países que começaram a registar aumentos acentuados de casos da COVID19 incluem Guiné-Bissau, Namíbia, Nigéria, Serra-Leoa e Uganda.
“Vimos como a COVID-19 pode sufocar tão rapidamente os sistemas de saúde que não possuem equipamento para gerir um aumento do número de casos,” disse Moeti. “Então, a capacidade de prestação de cuidados para doentes graves continua a ser de grande importância.”
Entretanto, os países africanos diferem muito na sua habilidade de administrar as vacinas contra a COVID-19 para proteger os residentes vulneráveis. O continente recebeu aproximadamente 55 milhões de doses da vacina e administrou 65% delas. Egipto, Etiópia, Marrocos e África do Sul lideram o continente em termos de taxas de vacinação, mas, mesmo assim, apenas 0,6% da população do continente está completamente vacinado.
Do outro lado do espectro, Burundi, Eritreia e Tanzânia possuem as taxas de vacinação do continente mais baixas. O Togo recebeu o seu primeiro conjunto de vacinas provenientes da COVAX, a iniciativa global para a distribuição equitativa de vacinas, no dia 1 de Junho. O Chade começou a vacinar a sua população vulnerável, no dia 4 de Junho, disse Nkengasong.
Nkengasong elogiou o Ruanda como um modelo pela velocidade com que os profissionais de saúde são vacinados.
Com as importações do Instituto Serum, da Índia, suspensas provavelmente até ao final deste ano, o plano de vacinação de África ficou desarticulado. Milhares de pessoas receberam a primeira dose da vacina da AstraZeneca, feita pelo Instituto Serum e fornecida pela COVAX, mas não sabem quando receberão a dose que se segue para estarem completamente imunizadas.
Nkengasong apelou aos países para continuarem a realizar os testes da COVID-19 e suas variantes. Ele pediu que as pessoas que ainda não foram vacinadas para continuarem a usar as máscaras, lavarem as mãos regularmente e a praticarem o distanciamento social para reduzir o impacto da terceira vaga.
“Não estamos desamparados,” disse. “Temos algumas ferramentas nas nossas mãos. O plano é de trabalhar com a comunidade para certificar que estas ferramentas sejam adequadamente implementadas.”