EQUIPA DA ADF
Os hospitais quenianos estão a ficar sem oxigénio em meio a uma terceira vaga mortal de infecções pela COVID-19.
Durante uma comunicação transmitida pela televisão, no dia 31 de Março, o Ministro de Saúde do Quénia, Mutahi Kagwe, apelou as pessoas que possuem cilindros de oxigénio em casa para os devolverem aos centros de saúde caso não estejam a precisar mais deles.
Kagwe disse que a demanda de oxigénio no Quénia tinha aumentado de 410 toneladas por mês, no ano passado, para cerca de 880 toneladas por mês.
“Neste momento, a situação está num nível tal que a indústria está completamente sobrecarregada,” disse Kagwe. “Estamos a apelar a qualquer pessoa que tenha cilindros de oxigénio em sua posse para devolvê-los imediatamente, para que as empresas possam utilizá-los para fornecer oxigénio aos nossos hospitais.”
Nessa altura, o Quénia tinha uma taxa de positividade de 26,6% entre aqueles que tinham sido testados para o vírus, noticiou o canal de notícias KBC Channel 1. Havia 136 pacientes da COVID-19 a serem tratados na unidade de cuidados intensivos (UCI); 36 dos quais estavam a usar ventiladores e 91 estavam com oxigénio suplementar.
O apelo público por oxigénio veio numa altura em que o Quénia enfrentava uma terceira vaga de infecções, alimentada por uma variante do coronavírus que apenas existia naquele país. A falta de financiamento prejudicou os esforços dos profissionais de saúde para combater de forma mais agressiva e letal a variante, noticiou o jornal queniano The Daily Nation.
“Isso não é apenas pelo facto de que os quenianos estejam a baixar a guarda,” Omu Anzala, virologista e membro da força-tarefa nacional contra a COVID-19, disse ao jornal. “Já estivemos numa situação parecida antes, mas os números são assustadores. Apenas compreender o vírus fará com que possamos agir. Temos de alocar fundos para a vigilância.”
Anzala disse que era possível que mesmo os sobreviventes da COVID-19 não tenham a imunidade para lutarem contra a nova variante. As autoridades de saúde receiam que o aumento no número de infecções e de mortes venha a sobrecarregar o sistema de saúde do país porque os hospitais também enfrentam uma carência na disponibilidade de camas nas UCIs.
Até meados de Abril, alguns pacientes gravemente doentes do maior hospital do país, o Hospital Nacional Kenyatta, em Nairobi, apenas tinha uma cama de UCI disponível depois de um outro paciente morrer, um médico daquela unidade hospitalar disse à The Associated Press.
“A prioridade agora é como lidar com o aumento de pacientes em estado grave que precisam de atendimento de emergência na UCI enquanto os pacientes são obrigados a fazer fila para poder ter uma cama na UCI,” Dr. Andrew Suleh, um médico consultor, disse à The Daily Nation. “A menos que isso seja resolvido de forma urgente, iremos perder mais vidas.”
Esperava-se que as medidas reforçadas do confinamento obrigatório para controlar o surto durassem até pelo menos Maio.
O Quénia recebeu mais de 1 milhão de doses da vacina da AstraZeneca através do programa global COVAX, no início de Março. Entre as primeiras pessoas que receberam a vacina estão os profissionais de saúde da linha da frente, professores e pessoal de segurança. As autoridades quenianas pretendem vacinar 16 milhões de pessoas até Junho de 2022.
“Existe um pouco de receio em algumas pessoas” em relação às vacinas da COVID-19, Jean Koech, um enfermeiro de referência no Quénia, disse ao France 24. “Estamos a procurar instruí-los sobre os [efeitos colaterais] e o que devem esperar, e eles estão bem quanto a isso.”