EQUIPA DA ADF
Um robot branco com uma touca cirúrgica azul e olhos cilíndricos desliza pelos corredores do hospital com a facilidade de um enfermeiro veterano.
Embora Cira-03 seja capaz de realizar uma variedade de testes, o seu maior valor pode ser por aquilo que não é capaz de fazer: ficar doente e transmitir um vírus a outros pacientes.
“Esta invenção é muito importante durante a pandemia,” Abu Bakr el-Mihi, gestor do hospital do norte de Cairo onde o robot foi testado, disse à Reuters. “Reduz a taxa de infecção do nosso pessoal para zero, uma vez que tudo é automatizado.”
Mahamadou el-Komy, o engenheiro de 27 anos de idade que criou o robot controlado de forma remota, disse que o seu objectivo era criar algo que pudesse melhorar os resultados médicos mas também deixar os pacientes descansados.
“Eu procurei fazer com que o robot parecesse mais humano, para que os pacientes não tenham medo dele, de modo a que não tenham a sensação de que uma caixa está a caminhar em direcção a eles,” disse à Reuters. “Foi uma resposta positiva por parte dos pacientes. Eles viram o robot e não ficaram com medo. Pelo contrário, existe mais confiança nisto porque o robot tem maior precisão em comparação com os humanos.”
A terceira encarnação do robot de el-Komy demonstrou que podia administrar testes genéticos de COVID-19 com recurso a zaragatoa nasofaríngea, ecocardiogramas e raios-X. Mediu a temperatura dos pacientes e dos visitantes e apresentou os resultados num ecrã incorporado no seu peito.
“O robot pode realizar todos estes testes com precisão enquanto o médico está numa outra sala ou simplesmente fora do hospital,” disse.
El-Komy vive na cidade de Tanta, no delta do rio Nilo, 94 quilómetros a norte de Cairo. Ele desenvolveu três versões do Cira sozinho com peças disponíveis e uma impressora 3D. Ele estimou o custo em cerca de 4.700 dólares.
O Cira-01, o protótipo, era limitado. O Cira-02 tinha melhores sensores térmicos e podia comunicar verbalmente.
Para o Cira-03, el-Komy acrescentou um braço robótico e um reconhecimento facial melhorado. A inteligência artificial permite que o robot faça a contagem das pessoas que se encontram numa sala e determine se estão a manter o distanciamento social adequado. Ele pode dizer verbalmente às pessoas que não usaram máscaras faciais para o fazerem.
El-Komy começou a trabalhar na sua invenção em Março de 2020, pouco depois da COVID-19 ter sido declarada uma pandemia global. As primeiras duas versões levaram cerca de seis semanas para criar. A terceira levou oito semanas.
“Pensei em criar um robot porque muitos membros do pessoal de saúde pelo mundo morreram como resultado de contacto directo com pacientes do coronavírus,” disse el-Komy ao jornal egípcio The Seventh Day.
O país está a enfrentar uma segunda vaga da COVID-19. Depois de registar 138.062 casos e 7.631 mortes no ano passado, o Egipto teve 66.903 casos e 4.532 mortes até ao dia 4 de Abril de 2021, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
Afirmando que o Cira poderia reduzir o contacto directo entre o pessoal e os pacientes em 90%, el-Komy contactou o hospital mais próximo, Dar Al-Qamah, em Junho de 2020, propondo uma experiência.
O gestor do hospital está convencido.
“Se suspeitarmos que alguém tem COVID-19, o robot retira uma amostra de sangue. Nenhum médico se aproxima do paciente,” Abu Bakr el-Mihi disse à Reuters, em Novembro de 2020. “Se um paciente estiver em quarentena no meu hospital, o robot pode realizar ultrassons e coisas do género.”
El-Komy e Cira-03 ganharam uma medalha de prata em engenharia na Feira Internacional de Invenções de Genebra, em Março de 2021.
Agora ele tem uma meta maior.
Espera montar o Cira-04 para produção em massa num futuro breve e imagina tê-lo em todos os hospitais do Egipto.
“O meu sonho é de que o Cira alcance e beneficie a toda a humanidade e deixe uma marca no campo da inteligência artificial,” ele disse à Universidade Americana, na estacão de televisão de Cairo. “Não haverá apenas um robot em cada casa no futuro, mas em todos os estabelecimentos. Haverá robots em todos os lugares.”