Explosões na Guiné-Equatorial: o Mais Recente Exemplo de Uma Tragédia Evitável

EQUIPA DA ADF

Houve uma explosão estrondosa, chamas disparadas para o céu e uma nuvem escura de fumo formou-se por cima da linha das árvores, próximo de uma base militar, na Guiné Equatorial.

Depois seguiu-se uma outra explosão. E outra.

Multidões de pessoas fugiram com medo. Outros não tiveram a oportunidade.

A família de Jesus Nguema esteve entre os que tiveram a sorte. Uma onda de choque provocou um incêndio que destruiu o edifício do apartamento onde os seus sete filhos estavam. Nguema disse à Reuters que esperou por 12 horas em agonia antes de ter conhecimento de que eles sobreviveram.

“Por meio de um milagre, os meus filhos foram capazes de sair das chamas e salvar as suas vidas,” disse à Reuters.

Mais de 100 pessoas foram mortas e pelo menos outras 600 ficaram feridas pelas explosões na Base Militar de Nkoantoma, em Bata.As reportagens da imprensa local mostraram vítimas — maioritariamente crianças — a serem retiradas das pilhas de metal e concreto misturados. Os hospitais ficaram rapidamente sobrecarregados e com falta de sangue.

A família de Nguema esteve entre as 900 pessoas que foram alojadas em abrigos temporários, incluindo crianças não acompanhadas que perderam os seus familiares, comunicou o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assistência Humanitária.

O presidente Teodoro Obiang Nguema atribuiu a culpa da explosão à negligência no manuseio de dinamite. Depósitos militares que armazenavam explosivos acenderam “quando os vizinhos das machambas próximas acenderam chamas,” e as chamas espalharam-se até ao quartel, disse Nguema numa reportagem da Deutsche Welle. Entre as vítimas estão membros do exército e civis.

“As ondas de choques das explosões causaram grandes danos em quase todos os edifícios em Bata,” disse Nguema num comunicado televisionado.

O acampamento do exército foi construído numa floresta distante da cidade, mas Bata, com uma população de mais de 250.000, cresceu rapidamente entre 2004 e 2016. A área ao redor da base agora encontra-se densamente habitada.

Simon Conway, director de capacidade da Halo Trust, uma organização sem fins lucrativos que remove destroços deixados pela guerra, questionou a razão pela qual uma base do exército armazenava dinamite comercial utilizado em pedreiras.

“Os incêndios nas propriedades adjacentes geralmente espalham-se para zonas de armazenamento de munições na África Subsaariana porque ninguém corta o capim e o perímetro da cerca encontra-se em péssimas condições.” Conway disse à ADF num e-mail. “Raramente existe equipamento de combate a incêndios e se existe algum extintor, geralmente encontra-se obsoleto há muito tempo.”

É frequente haver cidades que se expandem ao redor dos locais de armazenamento de munições em toda a África Subsaariana. Conway disse que as munições deviam ter sido transferidas para um lugar mais seguro há muito tempo. Ele acrescentou que

armazéns de explosivos reforçados com terra, numa área com boa manutenção, são pouco propensos a detonar-se.

“E se o fizerem, eles são pouco propensos em alastrar-se e criarem a explosão de armazéns adjacentes,” disse Conway. “O raio da explosão ao redor de um armazém de explosivos deve encontrar-se dentro do perímetro da base militar para reduzir o risco para civis em caso de uma detonação acidental.”

Explosões não planificadas de pilhas de munições e explosivos em locais de armazenamento são um problema recorrente, com cerca de 15 destas explosões a ocorrerem anualmente a nível global. Citando dados do Inquérito sobre Armas Ligeiras, a Reuters comunicou que explosões não planificadas em locais de armazenamento de munições causaram aproximadamente 30.000 mortes a nível global, entre 1979 e 2019.

Os factores mais comuns nas explosões foram relâmpagos e calor excessivo, erros humanos de manuseamento, sabotagem, incêndios, problemas eléctricos e reacções químicas no armazenamento de munições.

O Instituto de Estudos de Segurança sugeriu que os governos testassem a estabilidade dos seus locais de armazenamento de munições, armas e outros armamentos e manuseassem adequadamente quaisquer dispositivos que não estejam a desempenhar as funções de acordo com as especificações.

A pedido do governo da Guiné Equatorial, especialistas técnicos do Centro Internacional de Desminagem Humanitária de Genebra estão a trabalhar com membros da Unidade Francesa de Neutralização de Engenhos Explosivos, Embaixada dos EUA e a Fundação Humanitária Golden West para apoiar os esforços de desminagem e investigar a causa das explosões, noticiou a ReliefWeb.

Os esforços também servirão para identificar os riscos para a população e para o meio ambiente, abordar as preocupações relacionadas com armazenamento e manuseamento e ainda providenciar recomendações sobre redução e mitigação de riscos para as autoridades nacionais.

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