EQUIPA DA ADF
Cinco anos depois do lançamento do primeiro sistema de caminhos-de-ferro ligeiros da África Subsaariana, o sistema de trânsito de Adis Abeba continua mergulhado nas dívidas perante os seus credores chineses e já foi penalizado em milhares de dólares de multas de pagamentos em falta.
De acordo com o The Reporter, da Etiópia, uma recente avaliação feita pelo Gabinete do Auditor Geral descobriu que, durante os seus primeiros quatro anos, o sistema conseguiu 11,1 milhões de dólares, mas custou 154 milhões de dólares para operar.
Num relatório, os auditores afirmam que o sistema está muito aquém do previsto pelo seu estudo de viabilidade original, que dizia que o mesmo pagaria pelos custos da sua construção em menos de 10 anos através da venda de bilhetes, publicidade e aluguer de espaços nas estações, entre outros métodos.
“O estudo de viabilidade foi inadequado e foi feito sem que se tivesse recolhido informação suficiente,” afirmou a análise do auditor geral. “Isto, aliado à ausência de um centro de manutenção para realizar reparações necessárias nos comboios e outros factores, contribuiu para as perdas sofridas pelos caminhos-de-ferro ligeiros.”
O Trânsito Ferroviário Ligeiro (TFL) faz parte de uma lista de projectos financiados por chineses, da Iniciativa do Cinturão e Rota, em África, que não conseguiram cumprir com os seus estudos de viabilidade escritos pelos chineses e mergulharam os países anfitriões em dívidas avultadas.
A Linha Férrea de Bitola Padrão do Quénia, que parte de Mombasa a Nairobi, por exemplo, teria de transportar o dobro da sua capacidade operacional actual para ser lucrativa, de acordo com o seu próprio estudo de viabilidade. Antes de a pandemia ter criado um abrandamento global da economia, a linha férrea já estava a funcionar 65% abaixo do esperado e a operar com uma perda de 70 milhões de dólares.
A Ethiopian Railway Corporation (ERC), que opera o sistema TFL de Adis Abeba, solicita empréstimos do Banco Comercial da Etiópia, de propriedade do Estado, para pagar os 475 milhões de dólares de empréstimo de construção devidos ao Banco de Exportação e Importação da China, que financiou 85% do projecto. A ERC já pagou 2,8 milhões de dólares em multas ao banco pelo atraso de pagamento, de acordo com o relatório.
O TFL cobre 34 quilómetros, num sistema em formato de T, que passa pelo centro da cidade e transporta os utentes para as zonas industriais. Foi concebido, construído e operado por empresas chinesas antes de as operações terem sido entregues à ERC. Faz parte dos 13,7 bilhões de dólares em empréstimos que a Etiópia recebeu da China, vasta maioria dos quais desde 2010. Cerca de um terço desse montante foi destinado a projectos de transporte.
O sistema começou a operar em 2016, com 40 comboios, mas regularmente opera com cerca de metade desse número. O vice-presidente do município de Adis Abeba observou, em 2018, que a rede eléctrica da cidade não tinha capacidade para electrificar o sistema, antes do início da construção. Mesmo com o seu próprio sistema de corrente eléctrica, o TFL ainda enfrenta apagões e atrasos que resultam em vagões arrumados e péssimos serviços.
As exigências da prestação de cuidados de saúde relacionadas com a COVID-19 obrigaram a Etiópia e os países de África a escolherem entre proteger os seus cidadãos e pagar as suas dívidas para com a China. Como estas dívidas, muitas vezes, provêm de bancos comerciais financiados pelo Estado, os países tiveram dificuldades de obter alívio por parte das autoridades chinesas.
A Etiópia solicitou ao fórum internacional do G20, em Janeiro, um alívio da sua dívida autorizada pelo governo, fazendo com que a Fitch Ratings baixasse a sua classificação do crédito.
Mesmo antes de a pandemia ter eclodido, em 2018, a Etiópia estava a buscar alívio da sua dívida chinesa. Obteve algum — uma prorrogação de 20 anos do reembolso do empréstimo de 4 bilhões de dólares para a construção da Linha Férrea Etiópia-Djibouti, outro projecto chinês que esteve muito aquém das expectativas.