China Apoia Energia a Carvão em África e Energia Renovável Internamente
EQUIPA DA ADF
Apesar dos recentes eventos negativos, a China continua a financiar a exportação de energia a carvão para África, através da Iniciativa do Cinturão e Rota. E faz isso enquanto o governo promove energia renovável internamente.
Desde o ano 2000, o Banco de Desenvolvimento da China e o Banco de Exportações e Importações da China disponibilizaram 51,8 bilhões de dólares em financiamento, para projectos de carvão a nível global, de acordo com o Centro Global de Políticas de Desenvolvimento da Universidade de Boston.
De entre os 34 projectos de centrais à base de carvão no mundo inteiro, 11 estão em África. A lista de países inclui Botswana, Quénia, Malawi, Moçambique, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Há centrais a serem construídas no Malawi, na Zâmbia e no Zimbabwe. As restantes aguardam aprovação ou enfrentam uma dura oposição por parte de residentes locais. Pelo menos uma parece ter sido abandonada.
“A China possui empresas da indústria transformadora e de engenharia à base de energia térmica, de propriedade estatal, de grande envergadura e que dependem de acordos para permanecerem operacionais,” Lauri Myllyvirta, analista-chefe do Centro de Pesquisas em Energia e Ar Limpo, disse à Bloomberg Quint.
A poluição, o gás natural barato e a queda do custo das energias renováveis fizeram com que o carvão se tornasse uma fonte de energia cada vez menos popular. Causando uma redução na actividade económica, a pandemia da COVID-19 também reduziu a procura global de energia. Os analistas em matérias de energia afirmam que os projectos chineses criam capacidade de energia em excesso de uma maneira que é menos flexível e mais prejudicial ao meio ambiente do que a energia eólica, solar ou hídrica.
As instituições financeiras de todo o mundo evitam projectos de energia à base de carvão — excepto as instituições que se encontram na China. Como resultado, os quatro maiores bancos que financiam centrais a carvão são chineses.
A política da China de exportar energia à base de carvão foi bem aclamada na África Austral e Oriental, onde os líderes consideram o carvão como uma forma de criar mais electricidade — e electricidade mais confiável.
O Banco Industrial e Comercial da China está a financiar a central eléctrica zimbabweana de Sengwa, no Lago Kariba, avaliada em 4,2 bilhões de dólares. Em 2019, o Zimbabwe aprovou o desenvolvimento da central eléctrica ZhongXin, em Matabeleland. A Sinohydro, da China, também irá expandir a central eléctrica de Hwange, no Zimbabwe, em dois terços até 2022.
No Botswana, a China apoiou vários projectos de centrais eléctricas a carvão, incluindo a central eléctrica de Morupule B, que abriu em 2012. A central teve tantas avarias e o governo considerou a hipótese, por um certo tempo, de vendê-la à empresa chinesa que a construiu.
O Botswana possui a segunda maior reserva de carvão de África. Lefoko Moagi, o ministro de recursos minerais, energia verde e segurança energética do país, considera o carvão como um “recurso natural dado por Deus” que é de importância vital para o plano de desenvolvimento económico do país.
“Precisamos de explorar mais e de forma limpa para o benefício das nossas comunidades e para o benefício do nosso país,” disse ao Bloomberg Quint. “Esta é uma oportunidade para que países como a China venham para este espaço.”
Mas recentemente, os planos da China de exportar energia à base de carvão para África estão a desfazer-se em fumo.
No Egipto, o governo arquivou planos, por tempo indeterminado, no início de 2020, para a sua primeira estação eléctrica a carvão, a central eléctrica de Hamrawen, financiada com fundos chineses e localizada no Mar Vermelho, optando por fontes renováveis.
Os residentes da histórica Ilha de Lamu paralisaram uma central eléctrica à base de carvão planificada para uma terra ambientalmente sensível, próxima das suas residências, que é um local considerado pelas Nações Unidas como Património da Humanidade e um ponto de atracção turística popular do Oceano Índico.
A central eléctrica faria parte do projecto actualmente em curso e financiado pelos chineses, do Corredor de Transporte Lamu Port-Sudão do Sul-Etiópia, que irá trazer um porto de águas profundas, linhas férreas, oleodutos e refinarias de petróleo para a costa norte do Quénia.
Activistas lutaram contra o projecto durante cinco anos, dizendo que o mesmo seria prejudicial para a sua saúde e para a economia local. Em 2019, o governo do Quénia suspendeu a licença daquele projecto. Até Novembro de 2020, o principal financiador do projecto, o Banco Industrial e Comercial da China, abandonou o projecto.
Uma segunda central a carvão financiada por chineses, e a mina a ela associada, planificadas para a região de Kitui, foi aprovada em 2010, mas continua paralizada por oponentes locais.
Os residentes da Ilha de Lamu dizem que o Quénia devia focalizar-se em energias renováveis em vez de aderir a antiquadas centrais eléctricas a carvão. Entre a energia hidráulica e a energia solar, as renováveis já produzem 90% da energia do país. O Quénia também tem planos de desenvolver a energia geotérmica.
“Eles podem produzir energia solar. Podem produzir energia eólica,” activista Raya Famau Ahmed, disse à Voz da América. “Podem produzir energia das marés — temos o mar, que é a espinha dorsal do povo de Lamu.”
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