EQUIPA DA ADF
Numa mesa de negociações do conflito do Sudão do Sul, Rita Lopidia Abraham é alguém que se vê poucas vezes. Como mulher, ela senta-se do outro lado em relação à maioria masculina dos participantes, representantes das partes em conflito. Alguns deles perguntaram por que razão ela estava naquele lugar.
“Poderá compreender que na essência são aqueles que transportam armas a quem se dá o espaço para negociar,” disse ela em entrevista a One Earth Future.
O seu grupo, EVE Organização para o Desenvolvimento das Mulheres, foi criado para advogar a favor das mulheres e raparigas que se encontram nos corredores da violência. Muitas destas mulheres vivem em acampamentos para pessoas deslocadas internamente. Algumas perderam os seus familiares na guerra e são as únicas que garantem o sustento das suas famílias.
“Apenas faz sentido que, em qualquer resolução de conflitos, as mulheres façam parte [dela] em termos de contribuir com os seus pensamentos e partilhar as suas experiências de conflitos para moldarem o debate à volta da paz,” disse ela.
Abraham foi delegada das negociações da paz do Sudão do Sul, em Adis Abeba, Etiópia, e em Cartum, Sudão. Ela assinou um acordo de paz em 2018 em nome da Coligação de Mulheres do Sudão do Sul para a Paz, um grupo de coordenação de 50 organizações de mulheres, reportou a Voz da América.
Em 2020, recebeu o Prémio Mulheres que Constroem a Paz, do Instituto da Paz dos Estados Unidos da América. O Prémio vem com uma quantia de 10.000 dólares. Ela disse que pensa em usar o dinheiro para financiar um projecto para ajudar mulheres jovens a desempenharem os seus papéis de liderança. Uma outra parte do dinheiro irá ajudar órfãos e crianças da rua do Sudão do Sul.
Ela pensa em continuar a emprestar a sua voz para a busca pela paz no seu país. Existe muito trabalho a fazer de modo a incluir as mulheres no processo de construção da paz. A análise feita pelas Nações Unidas de 14 processos de paz, de 2000 a 2010, chegou à conclusão de que apenas 8% dos negociadores e 3% dos signatários são mulheres. Muitos acordos de paz nem chegam a mencionar mulheres no seu texto.
“O que realmente me motiva tem sido a situação em que vivemos — a luta das mulheres face a violência que todos partilhamos,” disse ela ao instituto.
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