EQUIPA DA ADF
Avida de Sayyida Salme foi um redemoinho.
Ela era filha de um sultão do território onde agora é a Tanzânia. Sem direito a qualquer educação formal, ela aprendeu sozinha a ler e a escrever. Falava quatro línguas — Suahíli, Árabe, Turco e Alemão. Ficou grávida fora do casamento, o seu irmão tentou executá-la, mas ela fugiu para a Europa. Quando ficou uma mãe viúva, sem dinheiro, tornou-se uma das primeiras mulheres africanas a escrever uma autobiografia.
Diz-se que ela transportava consigo uma pequena sacola de areia de uma praia de Zanzibar, por toda a sua vida.
Nascida em 1844, em Zanzibar, era filha de Said bin Sultan Al-Said e uma das suas cortesãs. Foi uma das filhas do sultão, que tinha 36 filhos e vivia num palácio gigantesco que albergava mais de 1.000 pessoas. Aprendeu a escrever copiando o alfabeto árabe e o Alcorão.
O pai faleceu quando ela tinha 12 anos de idade. Com a morte do pai, ela tornou-se maior de idade e herdou riquezas e uma plantação. Dois dos seus irmãos, Majid e Barghash, lutaram para herdar o sultanato. Ela ficou do lado de Barghash e aos 15 anos de idade tornou-se a sua secretária-geral, escrevendo cartas para chefes em nome dele. Mas Majid foi o vitorioso, e quando ela trocou de lealdade para ele, ela alienou muito mais da sua família.
Sozinha e isolada, Salme fez novas amizades. Ao lado da sua casa vivia um jovem de negócios alemão chamado Rudolph Heinrich Ruete. Ela apegou-se às suas ideias do ocidente; ele ficou impressionado pela sua inteligência e beleza. O seu romance que desabrochava não foi do agrado dos europeus da comunidade, que não queriam ofender o sultão. E o sultão ficou de facto ofendido.
Quando a notícia começou a espalhar-se, de que a Salme, de 22 anos de idade, estava grávida, o seu irmão sultão mandou-a chamar e fez os preparativos para que ela fosse executada. Os familiares desencorajaram-no, dizendo que era cedo demais para saber se ela estava de facto grávida.
Quando ficou evidente de que ela estava grávida, o sultão deu ordens para que ela viajasse para a Arábia Saudita. Acreditando que seria assassinada pelo caminho, fugiu para Iémen, onde o seu filho nasceu. O bebé, entretanto, faleceu.
Meses depois, Ruete juntou-se a ela no Iémen. Eles casaram-se e ela mudou o seu nome para Emily Ruete e se converteu ao cristianismo. Depois mudaram-se para Alemanha, onde tiveram três filhos. Mas pouco depois do nascimento do seu filho mais novo, em 1870, o seu marido faleceu num acidente numa carruagem puxada a cavalo.
Ela ficou sozinha na Alemanha e não podia voltar para a sua terra natal. Tinha 25 anos de idade.
Ela tinha dinheiro, mas as mulheres na Alemanha naquela altura não tinham o direito de gerir as suas próprias finanças. Dois homens foram designados para gerir o seu dinheiro e ela perdeu a maior parte dele. Para poder se sustentar, ela começou a ensinar árabe. A história de uma mulher árabe de nascimento nobre ganhando a vida como professora foi notícia em jornais de toda a Europa.
Em 1886, ela publicou o seu livro de memórias, Memoiren einer arabischen Prinzessin. Dois anos depois, ela publicou uma tradução inglesa, Memoirs of an Arabian Princess (Memórias de uma Princesa Árabe). O livro recebeu críticas diversas, sendo que a maior parte das que não lhe eram favoráveis, reflectiam os preconceitos daquele tempo.
O livro, para além de contar a história da sua vida, incluía os seus longos comentários sobre os contrastes entre o mundo ocidental e o mundo árabe. O famoso dramaturgo irlandês, Óscar Wilde, admirou o seu livro, dizendo que, “A sua história de vida é tão instrutiva como a história e tão fascinante como a ficção.”
Ela, muitas vezes, recebe o crédito de ser a primeira mulher da África Oriental, e mulher árabe, a escrever uma autobiografia. Mas essa distinção pode não ser suficiente. Até ao Séc. XIX, livros de memórias escritos por mulheres em qualquer cultura eram raros. Ela pode ter sido a primeira mulher africana, de facto, a publicar um livro de memórias.
Em 1888, ela viajou para Zanzibar com a filha Rosalie, esperando reivindicar alguma parte da sua herança. Quando esta ideia não resultou, ela ficou amargurada e mudou-se para o que hoje é Tel Aviv. De lá, ela mudou-se para Beirut, em 1892, e regressou para Alemanha, em 1914. Faleceu 10 anos depois, aos 80 anos de idade.
Foi sepultada na Alemanha com uma sacola de areia de uma praia de Zanzibar.