EQUIPA DA ADF
A conturbada região de Tillaberi faz parte de uma área vasta e semiárida do Níger, numa tríplice fronteira com o Mali e o Burquina Faso. Os militantes atacam pequenas cidades e aldeias a sul da fronteira do Mali com uma frequência alarmante.
Na sequência dos recentes ataques que foram destaque de notícias internacionais, o governo federal e as suas forças de segurança, conhecidas como as FDS, estão a dar passos para estancar o derramamento de sangue.
O governo regional de Tillaberi está a fazer o mesmo e está a fazer o uso de uma rede de líderes locais e tribais para entrar em parceria nas suas necessidades de segurança.
Em Novembro de 2020, o governo de Tillaberi e a equipa dos assuntos civis do Exército dos EUA reuniram forças de segurança regionais e mais de 250 líderes locais para uma Conferência Regional de Líderes, com a duração de dois dias, para abordar sobre o extremismo e o contraterrorismo.
“O problema do terrorismo e da insegurança comunitária continua a ser um grande flagelo nas nossas aldeias,” Governador de Tillaberi, Ibrahim Tidjani Kateilla, disse à ADF. “Este tipo de conferências permite que os nossos líderes se possam conhecer uns aos outros, para melhor conversarem uns com os outros e criarem ligações excepcionais assim como para estarem informados sobre cada situação.”
Os líderes locais presentes na conferência pintaram um quadro sombrio da vida sob ameaça de militantes extremistas: muitos dos participantes dizem que tiveram de viajar das suas aldeias em segredo para evitar chamar a atenção.Para apoiar o processo da paz, os EUA financiaram o evento, incluindo as viagens dos líderes locais.
“Para uma paz duradoura, precisamos deste tipo de fóruns para os chefes das aldeias, chefes das comunidades, líderes de gado, líderes dos jovens e as FDS,” disse Kateilla.
Através de debates de um para um e em grupos, os participantes reconheceram como a grande distância entre as aldeias e um aumento na violência dos insurgentes tinham criado uma separação perceptível entre os líderes das aldeias, os oficiais do governo regional e as FDS.
Os grupos trabalharam para identificar os pontos de maior vulnerabilidade em Tillaberi, o que possibilitou que as forças civis e militares locais designadas Action Civil‐Militaire (ACM) reposicionassem os soldados e aumentassem as patrulhas para diminuir o tempo de resposta.
Os participantes também se comprometeram em abrir linhas directas de comunicação pela primeira vez. Eles concordaram em reunir duas vezes por ano e planificaram incluir as FDS na próxima conferência, em Maio.
“A comunicação entre os líderes a todos os níveis é fundamental para o sucesso da resolução dos desafios regionais de segurança,” o líder local da ACM, Ali Mohammed, disse à ADF. “Através de debates face a face, como estes, podemos aprender novas formas de lidar com os desafios de segurança actuais e emergentes assim como melhorar a partilha de informação e a prestação de informações.”
Embora os participantes da conferência tenham manifestado esperança através da sua colaboração, os recentes ataques representaram uma recordação trágica da instabilidade inerente da região rural.
No dia 2 de Janeiro, cerca de 100 terroristas islâmicos em motorizadas separaram-se em dois grupos e mataram mais de 100 residentes das aldeias de Tchombagou e Zaroumdareye, em ataques prolongados, ao meio dia, que também feriram dezenas de pessoas e obrigaram mais de 10.000 pessoas a fugir.
O Primeiro-Ministro, Brigi Rafini, visitou ambas aldeias no dia seguinte, trazendo ajuda humanitária e a promessa de um destacamento de forças de segurança para se instalarem com uma base militar naquela região.
“Viemos para oferecer apoio moral e expressar as condolências do presidente da república, do governo e de toda a nação do Níger,” disse aos repórteres. “Esta situação é simplesmente horrível. Mas serão levadas a cabo investigações de modo a que este crime não fique impune.”
De acordo com as estatísticas do Projecto de Localização e Dados dos Acontecimentos do Conflito Armado, os ataques, em Tillaberi, perpetrados pelos militantes, com ligações ao Estado Islâmico e ao al-Qaeda, mataram pelo menos 367 pessoas em 2019, quase todos eles na zona da fronteira tríplice — quatro vezes mais do que em 2018.
Houve o registo de 482 mortos na primeira metade de 2020.
Em Janeiro, o governo de Tillaberi baniu as viagens de motorizada para prevenir os ataques dos militantes através de um dos seus métodos de preferência, enquanto o Ministro do Interior do Níger, Alkache Alhada, comprometeu-se em “fortalecer a coesão ao longo da fronteira.”
Mas ainda há muito mais trabalho por fazer.
Numa reunião pública de líderes federais, regionais e locais, na cidade tillaberiana de Ouallam, no dia 9 de Janeiro, o General Mahamadou Abou Tarka lamentou a facilidade com que os terroristas atravessam a fronteira no norte de Tillaberi.
“As dificuldades de garantir a paz numa região como aquela do norte de Tillaberi são originadas do facto de que esta é uma zona fronteiriça aberta para o Mali, onde o governo infelizmente desapareceu,” disse Tarka, que exerce funções de Presidente da Alta Autoridade do Níger para a Consolidação da Paz. “Devemos procurar por eles e persegui-los incansavelmente na sua base em Mali, aniquilá-los, não permitir que tenham campo.”
Para vencer esta batalha contra os extremistas, disse, o exército, os líderes locais e o público devem trabalhar de mãos dadas.
“As forças armadas precisam do conhecimento que a administração tem das comunidades,” disse ele. “As consultas entre o exército e o governador, entre o exército e os prefeitos, devem ser permanentes.”