EQUIPA DA ADF
Enquanto as autoridades da Organização Mundial de Saúde chegavam a Wuhan, China, para estudarem a origem da pandemia global da COVID-19, a imprensa chinesa publicava reportagens que obscureciam os factos à volta do surto e rotulavam as vacinas do ocidente de serem ineficazes e perigosas.
As reportagens também pintam uma imagem optimista da vacina da China, embora ela não tenha passado pelo mesmo escrutínio rigoroso como o das vacinas do Ocidente. Descobriu-se que tinha apenas 50,4% de eficácia nos ensaios clínicos do Brasil, pouco acima da taxa de eficácia de 50% exigida para que se obtenha a aprovação regulamentar.
As reportagens falsas visavam particularmente atingir as vacinas produzidas nos EUA, nomeadamente pela Pfizer e pela Moderna, que demonstraram que são seguras e eficazes depois de vários ensaios. Uma reportagem do principal jornal da China, The People’s Daily, afirmou falsamente que pessoas idosas da Noruega morreram como resultado da vacina da Pfizer.
Os ataques preocuparam especialistas da área de doenças contagiosas, particularmente porque a China tem planos para distribuir a vacina da Pfizer aos seus próprios cidadãos. “O público chinês tem boa memória quando se trata de questões relacionadas com saúde e segurança,” Nicholas Thomas, professor de governação em saúde global na Universidade de Hong Kong, China, disse à revista Fortune. “Não faz sentido a China atacar uma das [vacinas preparadas para a distribuição].”
As mensagens da China em relação à COVID-19 encontram-se difundidas em todo o globo, incluindo em África, via reportagens online e blogs pro-China. As redes de televisão por satélite da China também difundem informação para 30 países africanos.
“Dá a impressão de que os propagandistas apostaram tudo na desinformação niilista ao estilo russo, sem compreender ou se importar com os danos que isso causa,” Bill Bishop, um observador atento da China e autor do boletim informativo, Sinocism, disse ao Politico.
Os esforços da China de desacreditar a Pfizer e a Moderna forneceram pontos de debate para cépticos das vacinas, levantando preocupações de que as pessoas irão ou recusar as vacinas por completo ou ser persuadidas a obterem uma vacina menos eficaz.
A propaganda intensificou quando a confiança na vacina da China a nível mundial diminuiu. Os trolls online e a imprensa estatal chinesa acusaram a imprensa ocidental de promover informação desfavorável sobre a vacina da China. Mesmo a conta do Twitter da vacina da Rússia, Sputnik V, reenviou a publicação do relatório chinês sobre a “política da vacina e padrão duplo da cobertura jornalística,” noticiou o Politico.
Muitas vezes, os promotores de desinformação manipulam vídeos para fazer com que se pareça que uma pessoa tenha tido uma reacção adversa à vacina. Um vídeo que circula muito na internet afirma que apresenta uma enfermeira a morrer depois que ela recebeu uma injecção. Na realidade, ela desmaiou.
“Eles irão criar sensacionalismo em qualquer coisa que acontecer depois que alguém tiver recebido uma vacina e irão atribuir isso à vacina,” Dr. Peter Hotez, um especialista em doenças contagiosas, disse à CNN.
O objectivo dos propagandistas contra a vacina é de distorcer os verdadeiros acontecimentos e dar às suas afirmações um nível de credibilidade, dizem os observadores. Rory Smith, um investigador do First Draft News, uma instituição sem fins lucrativos, que comunica casos de desinformação online, disse que estes trolls online procuram por um “pequeno grau de verdade” e tentam explorá-lo.
“É por isso que a desinformação, especificamente a desinformação sobre a vacina, também pode ser convincente,” disse Smith à CNN. “Mas esta informação é quase sempre tirada completamente para fora do contexto, criando afirmações de que são ou enganosas ou totalmente falsas.”