Com 9 Dólares, Refugiado Cria Negócio de Sabão para Esfregar a COVID-19

EQUIPA DA ADF

Todos precisam de sabão.

Para Innocent Havyarimana, que criou um negócio de sabão num campo de refugiados queniano, é mais uma mantra do que um lema.

O seu negócio visa garantir as necessidades básicas aos que vivem no acampamento e na comunidade acolhedora. O saneamento é de importância vital nos acampamentos de refugiados para prevenir surtos. A ameaça da COVID-19 fez com que o sabão fosse ainda mais essencial.

“Quando cheguei ao acampamento em 2013, apercebi-me de que a vida era muito difícil,” disse à ADF. “Comecei a imaginar, como irei viver aqui no acampamento. Decidi criar um negócio que não havia aqui no acampamento. Descobri que o sabão era trazido de fora do acampamento.

“Comecei apenas com dois tipos de sabão e dois trabalhadores pagos. Agora estamos a fazer 14 tipos de sabão e tenho 42 trabalhadores – 18 são da comunidade acolhedora e 24 são dos acampamentos de refugiados e reassentados.”

Havyarimana fugiu do Burundi em 2013 aos 29 anos de idade. Depois da morte da sua mãe, alguns familiares dela levaram a casa e ameaçaram acabar com a sua vida. Ele foi obrigado a abandonar os seus estudos de Química na Universidade de Burundi.

Depois de ter sido reassentado no acampamento de refugiados em Kakuma, Quénia, ele pediu ao braço humanitário da Federação Luterana Mundial para o levar para uma formação de 10 dias sobre como fazer sabão. Depois obteve um empréstimo para startups, no valor de 9,04 dólares (1.000 xelins quenianos ou KES), de uma amigo e antigo colega da escola em Burundi para comprar produtos químicos e fazer o seu primeiro lote de sabão.

Quando a procura aumentou, Havyarimana contraiu um novo empréstimo de 453,72 dólares (50.000 KES) numa organização não-governamental (ONG), chamada Action Africa Help Internacional. Ele reembolsou o valor em seis meses.

Também recebeu subvenções do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e da African Entrepreneur Collective NGO.

Agora com 37 anos de idade, casado e com dois filhos, Havyarimana é o fundador e PCA da GLAP Industries – um acrónimo para God Loves All People. A GLAP fornece sabão e outros produtos de limpeza para singulares, escolas, empresas e agências humanitárias.

Enquanto espera para ser reassentado com a ajuda do ACNUR, ele opera a sua empresa e ensina outros refugiados em Kakuma sobre como fazer sabão.

“Eu sei que estou a criar mais concorrentes para o meu negócio,” disse ele, “mas a Bíblia ensina, ‘Dê o que você tem e Deus te abençoará com mais do que você imagina.”

Havyarimana é apenas um exemplo do espírito de entreajuda comunitária de Kakuma, disse Kahin Ismail, gestor sénior de operações do acampamento do ACNUR.

“Os refugiados desempenham um papel importante na prevenção” da COVID-19, comentou na página da internet da organização. “Em Kakuma, existem muitas pessoas que estão a fazer algo na luta contra a COVID-19, quer seja na produção de máscaras ou nas campanhas de sensibilização.”

O sabão de Havyarimana traz higiene e sensibilização para Kakuma. Dá-lhe alegria e satisfação para poder cuidar dos outros.

“Durante este período de COVID-19, decidi reduzir os preços, empacotar o sabão em recipientes pequenos onde mesmo uma pessoa com baixa renda pode ter condições de comprar o sabão e prevenir o coronavírus,” disse ele. “Por vezes, ofereço sabão gratuito para a comunidade e para o sector público.

“Temos muitos refugiados vulneráveis, pessoas portadoras de deficiências e pessoas muito idosas, que não são capazes de comprar a melhor protecção para a COVID-19.”

Criado em 1992 no noroeste do Quénia, Kakuma é um dos maiores acampamentos de refugiados do mundo, acolhendo 196.666 pessoas. Houve 341 casos confirmados e 10 mortes no acampamento, no dia 24 de Dezembro de 2020, de acordo com o ACNUR.

Desde que o vírus eclodiu, a GLAP aumentou a produção em 75%.

Mas Havyarimana diz que o seu negócio não tem muito a ver com o dinheiro — tem a ver com servir. Porque todos precisam de sabão.

“É muito importante,” disse. “É o que eu sempre digo à minha comunidade africana: Vamos segurar um ao outro, e se alguém tiver uma boa ideia, apoie-o para que possa chegar longe, porque isso ajudará não apenas a ele mas toda a comunidade, todo o país, mesmo o mundo todo.”

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