Um ano depois, África Prepara-se Para a Fase Seguinte da Luta Contra a COVID-19

EQUIPA DA ADF

Um ano depois da COVID-19 ter entrado no vocabulário global, o anúncio de novas vacinas aumentou a esperança de que a vida em breve voltaria ao normal. Em toda a África, líderes do sector de saúde pública dizem que o continente ainda enfrenta algumas ameaças antes de chegar o novo começo.

Segunda Vaga

Depois de atingir o pico neste Verão, as taxas de infecção pela COVID-19 em África voltaram a aumentar, em alguns casos, de forma mais acentuada do que a vaga original. O continente agora regista mais de 2,5 milhões de casos — um aumento de 150% desde a marca de 1 milhão alcançada em Agosto.

A África Austral, que continua a ser o ponto de maior incidência da COVID-19 no continente, registou um aumento de 35% no número de casos entre meados de Novembro e meados de Dezembro, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC).

O Dr. John Nkengasong, director do África CDC, afirmou que a segunda vaga está ligada ao relaxamento das medidas de confinamento obrigatório e a reabertura de fronteiras, depois de ter passado o primeiro pico.

“Quando se levantam as medidas de saúde pública de forma rápida, o vírus retorna com vingança,” disse no informe semanal de actualização, a 17 de Dezembro.

Marrocos, Níger, África do Sul e Tunísia lideram a segunda vaga de infecções, disse.

Depois de um pico do Verão, pareceu que o Níger tinha derrotado o vírus, apenas para se observar o mesmo a retornar com mais vigor neste Outono.

A África do Sul encontra-se entre os poucos países do mundo que registaram a chegada de uma nova variante do vírus que apareceu recentemente no Reino Unido.

Planos de Vacinação

Mesmo quando as vacinas da COVID-19 são a notícia do momento na Europa e na América do Norte, não está claro quando os africanos irão receber as suas primeiras doses. A União Africana, o Banco Africano de Exportações e Importações e outros grupos estão a trabalhar com organizações internacionais para conseguir vacinas.

Ao mesmo tempo, estão à procura de aumentar a capacidade de África para o fabrico de vacinas da COVID-19. Agir deste modo irá aumentar a confiança na vacina e assegurar que haja um fornecimento adequado para o esforço de vacinar mais de 700 milhões de pessoas para se poder alcançar a imunidade comunitária, Dr. Nicaise Ndembi, conselheiro sénior para a área de ciências relacionadas com vacinas no África CDC, disse à ADF.

Embora a demanda pelas primeiras vacinas seja apenas um obstáculo, a tecnologia para se manter esta vacina em temperaturas exigidas de menos 70 ou menos 25 graus Celsius é um outro obstáculo. Poucas instalações são capazes de produzir estas temperaturas, de acordo com Ndembi.

Os líderes estão a observar o desenvolvimento de outras vacinas da COVID-19, com enfoque para aquelas — como a versão recentemente anunciada pela Oxford/AstraZeneca — que podem sobreviver em temperaturas de refrigeração habituais.

“As cerca de três vacinas que foram anunciadas não são as únicas,” disse Nkengasong.

Ele espera ter um menu de vacinas para poder escolher em Janeiro e, nalgum momento depois disso, proceder com um programa de vacinação de alcance continental. A Ethiopian Airlines informou que está preparada para fazer a distribuição de vacinas no continente, mesmo que seja necessário ter armazenamento em condições extremamente frias.

O escritório regional de África, da Organização Mundial de Saúde, em Brazzaville, República do Congo, espera ter 3% dos africanos vacinados até Março e 20% até ao final de 2021. Nkengasong absteve-se de comprometer-se com um prazo.

“Um dos maiores desafios é o de fazer a distribuição da vacina de forma atempada,” lamentou Nkengasong. “Ainda não sei quando estaremos a colocar as vacinações nas mãos dos africanos.”

Percepções

Quando o programa de vacinações de alcance continental iniciar, as autoridades de saúde pública terão de fazer com que as pessoas aceitem o tratamento. Uma pesquisa recente de 15.000 pessoas em 15 países africanos sugere que será mais fácil nalguns lugares do que em outros.

Na Etiópia, por exemplo, 94% da população afirmou que irá receber a vacina quando esta estiver disponível. Apenas 59% das pessoas na República Democrática do Congo afirmou que o faria.

Em termos gerais, cerca de 20% dos inquiridos afirmou que não aceitaria uma vacina da COVID-19. Nalguns casos, deve-se ao facto de a vacina ser nova e ter sido desenvolvida com maior rapidez do que as anteriores vacinas. Mas, em outros casos, teorias de conspiração, desinformação e rumores substituíram os factos.

“Esses 20% podem ter influência sobre os outros 80%,” Dr. Raji Tajudeen, director para a área de Instituições de Saúde Pública e de Pesquisa do África CDC, disse no comunicado de 17 de Dezembro. “As constatações desta pesquisa irão informar a estratégia, as mensagens públicas que serão utilizadas.”

As autoridades do sector de saúde pública devem levar a desinformação a sério se quiserem que o programa de vacinações tenha sucesso, disse a Professora Heidi Larson, da Escola Londrina de Higiene e Medicina Tropical, que realizou a pesquisa a favor do África CDC.

“Os factos nem sempre funcionam quando as pessoas têm ansiedades profundas,” disse Larson. “Mas precisamos de pelo menos abordá-los e não dispensá-los como algo sem importância.”

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