Estar Um Passo à Frente da Pandemia

EQUIPA DA ADF

Antes da COVID-19 atingir a África Subsaariana em finais de Fevereiro, o Dr. John Nkengasong organizou uma reunião de emergência de ministros de saúde na Etiópia.

“Nunca estive tão sério em toda a minha vida,” o director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC) disse ao jornal Financial Times. “Eles vieram do Egipto, Marrocos, Nigéria e África do Sul. Todos estavam lá.”

No mesmo mês, o África CDC adquiriu os seus primeiros 10.000 kits de testes e coordenou com o Instituto Pasteur, em Dakar, Senegal, para formar técnicos de laboratório para realizarem testes. Até Março, 42 países africanos eram capazes de realizar testes da COVID-19, de acordo com um relatório do Institute for Defense Analyses.

“Não conheço nenhum outro continente que se mobilizou tão rapidamente assim,” disse Nkengasong.

A seriedade com que os líderes africanos receberam a ameaça da COVID-19 e a velocidade da sua resposta são apenas duas formas através das quais o mundo pode aprender a partir da forma como a África lidou com a pandemia.

Apesar de um relatório das Nações Unidas, publicado em Abril, projectar que “entre 300.000 e 3,3 milhões de pessoas em África podem perder a vida,” os números de infecções e mortes foram muito menores.

A 6 de Dezembro, aproximadamente um ano desde que o novo coronavírus emergiu na China, houve 2.261.589 casos confirmados e 53.853 mortes no continente, de acordo com o África CDC.

Com mais de 1,3 bilhões de habitantes, África perfaz 17% da população mundial. Contudo, até Outubro, tinha registado 3,5% de mortes pela COVID-19.

Especialistas internacionais estão a estudar como a África evitou o desastre que tinha sido previsto. Aqui estão algumas teorias:

  • População jovem: De acordo com as estatísticas das Nações Unidas, África tem a população mais jovem do mundo, com uma idade média de 19,4 anos. Cerca de 3% das pessoas tem acima de 65 anos. Lares de idosos, onde o vírus devastou em outras partes do mundo, são raros no continente. Os idosos são mais propensos a viver nas zonas rurais, onde o distanciamento social é mais fácil.
  • Sistemas de Saúde: África possui grande experiência com doenças contagiosas tais como o Ébola, o HIV, a tuberculose e a pólio. A República Democrática do Congo teve o seu maior surto de Ébola quando a COVID-19 estava a propagar-se pelo mundo inteiro. Muitas das práticas e recursos utilizados para lutar contra estas doenças foram adaptados com sucesso para a COVID-19.
  • Viagens: Como os africanos tendem a viajar menos do que as pessoas de outras partes do mundo, a doença não se propaga tão rapidamente em maiores distâncias.
  • Clima quente: Na África do Sul, que tem quase metade do total do número de casos e mortes do continente, a COVID-19 atacou numa altura em que o Inverno atingia o Hemisfério Sul e diminuiu significativamente quando as temperaturas começaram a aumentar.

As intervenções e cooperações multilaterais também salvaram vidas.

As autoridades rapidamente implementaram confinamentos obrigatórios, toques de recolher obrigatório, declarações de estado de emergência e encerramento de fronteiras. O pequeno reino do Lesotho, que não tem qualquer saída para o mar, fechou-se antes mesmo de registar o primeiro caso. Na África do Sul, o Presidente Cyril Ramaphosa baniu o álcool e o tabaco.

O Ruanda ganhou aclamação internacional por utilizar drones e robots para prestar assistência nas testagens, rastreamento de contactos e para fazer cumprir as medidas de restrição.

Nkengasong atribuiu o baixo número de casos a “esforços conjuntos continentais.”

Numa altura de escassez de recursos, a União Africana e empresas lançaram uma plataforma de compras online para concentrar poder de negociação e comprar directamente dos fabricantes. Os governos da UA adquirem ventiladores, kits de testes e máscaras — algum desse material agora é adquirido em África.

“É a única parte do mundo de que tenho conhecimento que realmente criou uma rede de fornecimento,” Gayle Smith, antigo director da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional, disse ao jornal The Associated Press. “A África está a fazer muita coisa correctamente, o resto do mundo não está.

“É uma grande história que precisa de ser contada.”

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