Cavalos Passam pela República Centro-Africana de Novo

AGÊNCIA FRANCE-PRESSE

Um cavalo alazão apareceu nas ruas poeirentas de Bangui, cavalgando entre os carros esmagados, motocicletas-táxi e edifícios a desmoronar. O cavaleiro é uma figura bem conhecida da capital da República Centro-Africana (RCA): Soumaila Zacharia Maidjida, apelidado de “Dida,” é um antigo atleta que estabeleceu um recorde nacional de 800 m nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992.

Ele é um cavaleiro de mão-cheia na RCA, um país cuja pobreza, clima e guerra fazem com que seja um dos ambientes menos amigáveis para o hipismo no mundo.

“Todos conhecem o Dida”, disse o cavaleiro. “Quando os ministros e os chefes querem sair de cavalo, é comigo que eles vêm ter.”

Dida sonha criar um centro hípico, mas admite que a visão está muito longe. Ele trabalha como guarda para ajudar a alimentar os seus animais.

Os cavalos têm uma história conturbada na RCA, um país sem costa marítima que ganhou a independência da França em 1960. Muitas pessoas aqui associam os cavalos aos saqueadores, que atravessam as fronteiras a cavalo, vindos do Chade ou Sudão. Os cidadãos mais velhos, no entanto, lembram-se de Jean-Bedel Bokassa, um déspota amador de cavalos que, em 1977, foi coroado Imperador.

Bokassa tinha uma carruagem feita de bronze e ouro, que foi enviada da França para passear pelas ruas de Bangui. Numa ocasião trágica, dois dos cavalos morreram de insolação debaixo do impiedoso sol tropical. Bokassa importou centenas de cavalos durante o seu tempo e até chegou a fundar uma cavalaria.

Na infância, Dida observava as demonstrações e ficava animado com a ideia de cavalgar. 

Bangui tinha dois centros de equitação bem conhecidos — um era para a “alta sociedade”, essencialmente emigrados franceses, e o outro para o público.

Em 1996, os dias de glória do cavalo na RCA chegaram a um fim terrível. O exército criou um motim, dando início a um ciclo de violência e instabilidade do qual o país nunca se recuperou. Os dois centros hípicos de Bangui foram abandonados e os cavalos roubados, vendidos fora do país ou acabaram em bancas de mercados.

Contudo, Dida conseguiu salvar alguns dos seus animais e hoje, apesar das incursões de grupos da milícia que controlam dois terços do país, ele ainda vai para a fronteira chadiana para trazer de volta cavalos para Bangui.

“Os cavalos são a razão da minha vida — eu não consigo viver sem eles”, confessou.

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