Terroristas Atacam Civis no Norte de Moçambique

EQUIPA DA ADF

Nas vilas, conhecidas por aldeias, na província do extremo norte de Moçambique, Cabo Delgado, os ataques começam antes do amanhecer. Os militantes abrem fogo de forma aleatória e incendeiam casas. Os que têm sorte de escapar fogem para as florestas densas ou empilham-se nos barcos e arriscam as suas vidas no mar. Os que não escapam enfrentam um destino pior ainda.

“Eles raptam as mulheres para violá-las e obrigá-las a casarem-se com eles,” Fátima, uma mulher cuja aldeia foi atacada em Julho, contou ao reliefweb. “Matam os idosos. Os jovens são obrigados a juntar-se a eles [os militantes].”

Cabo Delgado é a província onde se localizam os depósitos mais valiosos de petróleo e gás de Moçambique, mas também é o local de conflitos onde insurgentes violentos ameaçam qualquer esperança de progresso no país.

De acordo com as estatísticas do Projecto de Localização e Dados dos Acontecimentos do Conflito Armado, ao longo do mês de Outubro, os militantes levaram a cabo 445 ataques em 2020, quase o dobro do número de ataques realizados no mesmo período do ano passado, que foi de 231 ataques.

Os rebeldes mataram mais de 2.000 civis e deslocaram mais de 300.000 pessoas desde 2017.

“Civis, especialmente mulheres e crianças, sofrem as consequências da violação massiva dos direitos humanos que inclui ataques brutais e raptos,” disse o porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados, Balbar Baloch, em conferência de imprensa.

“Houve relatos horríveis de brutalidade extrema perpetrada contra civis por grupos armados não-governamentais, no distrito de Muidumbe. Escolas, centros de saúde, hospitais privados e infra-estruturas do governo também foram atacados e destruídos.”

Em Agosto, os militantes islâmicos capturaram o porto estratégico de Mocímboa da Praia pela terceira vez este ano em ataques coordenados via terrestre e marítima. Um mês depois, eles capturaram duas ilhas da costa, incendiaram estâncias turísticas luxuosas e expulsaram os residentes. Dois massacres de civis de maior destaque deixaram grupos de advocacia de direitos humanos em todo o mundo revoltados.

O Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade de vários ataques este ano, mas o seu nível de envolvimento não é claro. A insurgência teve raízes em conflitos sectoriais lançados em 2017 por extremistas muçulmanos em Mocímboa da Praia. O movimento local foi cooptado em Junho de 2019 como parte da Província Centro Africana do Estado Islâmico.

Piers Pigou, consultor sénior do Grupo Internacional da Crise para a África Austral, disse que as ligações do grupo terrorista de origem local com o Estado Islâmico ainda são um mistério.

“Vimos o aumento dos níveis de sofisticação na estratégia e nas tácticas que empregavam e o armamento mais sofisticado que utilizavam,” disse à rede árabe de televisão Al-Jazeera. “Isso levantou suspeitas sobre a influência do Estado Islâmico. Na imprensa, vemos a jihad ligada às revindicações de responsabilidade, mas provas mais concretas do envolvimento do Estado Islâmico e seus actores no terreno ainda são especulativas.”

Uma parte do sucesso dos insurgentes é devida a uma falta de resistência organizada. As principais forças de segurança de Moçambique estão primariamente ocupadas com a protecção de instalações multibilionárias de petróleo e gás, deixando os soldados menos treinados a lutarem contra os rebeldes.

O primeiro ataque de grande envergadura fora de Moçambique efectuado pelo grupo ocorreu em meados de Outubro na fronteira entre Cabo Delgado e Tanzânia. Um chefe da polícia em Mtwara, Tanzânia, relatou que 300 terroristas entraram repentinamente numa aldeia próxima, mataram 20 civis e obrigaram dezenas a fugirem.

Isso levou a que fossem feitas solicitações de apoio regional e internacional, uma vez que Moçambique partilha as fronteiras com seis outros países — Eswatini, Malawi, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe.

“Não se deve esperar que Moçambique lide sozinho com uma potencial ameaça de segurança regional com este nível de gravidade e com esta magnitude,” político zimbabweano, Patrick Chinamasa, disse numa conferência de imprensa do dia 28 de Outubro. “Como membro da (Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral) e a UA [União Africana], Moçambique devia ter recorrido ao apoio regional e colectivo.”

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