China Envia Mensagens Contraditórias Sobre o Comércio de Animais Selvagens
EQUIPA DA ADF
Nas primeiras semanas da pandemia da COVID-19, a China tomou medidas para conter a provável fonte do vírus — carne infectada proveniente de animais selvagens, vendida nos seus agora famigerados mercados de produtos frescos.
No dia 1 de Janeiro, profissionais de saúde da província de Hubei encerraram o Mercado Grossista de Mariscos de Huanan, onde se considera ter originado o primeiro grupo de casos. Pouco depois, as autoridades de Wuhan baniram o comércio de animais vivos em todos os mercados.
No final de Fevereiro, a legislação chinesa baniu a compra, venda e o consumo de animais selvagens — quer tenham sido capturados ou criados — para prevenir a transmissão de doenças zoonóticas para seres humanos.
Mas, dois meses depois, quase todos os mercados de animais vivos em toda a China voltaram a abrir. E apesar de a proibição ter sido a restrição mais extensa de comércio de animais selvagens da China em décadas, ainda assim deixou enormes lacunas para outros usuários, tais como pesquisas biomédicas e medicina tradicional chinesa (MTC).
Depois da proibição, o mundo observou aterrorizado enquanto a COVID-19 se alastrava. Especialistas dizem que uma das formas de prevenir futuras pandemias será restringir o comércio e o consumo de partes de animais selvagens.
“Apenas através da proibição do comércio de todas as aves e todos os mamíferos selvagens vivos poderemos prevenir o risco de futuras emergências relacionadas com viroses, e, por conseguinte, outras formas de comércio devem também ser incluídas nesta proibição,” disse a Wildlife Conservation Society (WCS). “Ademais, isso cria uma potencial lacuna para os traficantes que podem explorar as isenções para produtos não destinados ao consumo para vender ou comercializar animais vivos da vida selvagem.”
A MTC continua a utilizar ingredientes provenientes de animais selvagens banidos. Praticantes e usuários acreditam que alguns animais selvagens têm benefícios para a saúde, o que ajudou a impulsionar o contrabando e o comércio ilegal de espécies como o pangolim, que está em vias de extinção.
A carne do mamífero mais traficado do planeta, o pangolim, é considerada uma iguaria na China. As suas escamas, que se acreditam que curam uma variedade de doenças, são utilizadas em grandes quantidades — sendo a maior parte proveniente de África.
As políticas oficiais da China em relação à vida selvagem e o padrão duplo de permitir que haja brechas para a MTC têm frequentemente sido uma fonte de frustração entre os governos e as autoridades de saúde, os conservacionistas, os activistas e os pesquisadores em todo o mundo.
A COVID-19 está longe de ser a primeira doença zoonótica com origem na China.
Uma carta aberta do dia 4 de Abril para a Organização Mundial de Saúde, enviada por um grupo de 241 organizações conservacionistas, afirmou que o surto da síndrome respiratória aguda grave de 2002 a 2003 emergiu nos mercados de venda de animais selvagens e matou 774 pessoas. Outras doenças associadas à vida selvagem incluem o Ébola, o síndrome respiratório do Médio Oriente, o HIV, a tuberculose bovina, a raiva e a leptospirose.
“As doenças zootónicas são responsáveis por mais de 2 bilhões de casos de doenças em humanos e mais de 2 milhões de mortes a cada ano,” disseram os autores da carta aberta.
Mas fazer uma reforma na indústria de carne de animais selvagens da China, de 7,1 bilhões de dólares, está a ser difícil. Mais enraizada ainda é a consideravelmente grande indústria de produtos da vida selvagem, que empregou mais de 14 milhões de pessoas em 2016 e foi avaliada em 74 bilhões de dólares, de acordo com um relatório de 2017 da Academia Chinesa de Engenharia.
Muito pouco mudou em África, de acordo com Tim Davenport, director para a conservação de espécies, na WCS, sediada na Tanzânia.
“Ainda existem poucas provas de que a nova legislação da China, que rege o comércio de animais selvagens, esteja a ter um impacto significativo em África,” disse ele à ADF. “Fóruns online, tais como Weibo, Alibaba, Baidu e Sogou , continuam a colocar animais selvagens e/ou suas partes à venda.
“A caça furtiva de espécies transaccionadas comercialmente, por seu turno, continua a crescer em todo o continente.”
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