Caminhar Sem Medo: Angola Faz Progressos em Direcção a um Futuro sem Minas

EQUIPA DA ADF

Uma viatura de marca Toyota Land Cruiser que transportava 13 pessoas explodiu, numa estrada de terra-batida, na região oriental de Angola, após pisar numa mina antitanque, no início deste ano. Cinco passageiros morreram, e os restantes contraíram ferimentos graves.

Provavelmente a mina estava escondida ali há décadas.

“Muitos carros passam por esta estrada,” António Perreira, o motorista da viatura, disse na cama do hospital, numa entrevista à Agência France-Presse. “Não sei como isso aconteceu. Pisamos na mina, e muitas pessoas morreram.”

Depois de três décadas de guerra civil, Angola ficou com um legado mortal: minas terrestres. Embora o conflito tenha terminado em 2002, Angola continua a ser um dos países com mais minas no mundo. Em 2019, 76 pessoas morreram vítimas de explosões de minas.

Aproximadamente um quinto da população do país vive em zonas com minas, o que afecta todos os aspectos das suas vidas.

“As minas terrestres não apenas matam e mutilam pessoas inocentes, mas também isolam comunidades de necessidades básicas tais como fontes de água, vias de acesso e terras produtivas cruciais para o cultivo e para a pastagem do gado,” disse o grupo de desminagem APOPO.

O país estabeleceu uma meta de remover todas as minas até 2025 e fez progressos significativos, removendo e destruindo aproximadamente 10.000 engenhos explosivos em 2019. Mas teve retrocessos devido a perdas de rendimentos causadas pela baixa dos preços do petróleo e pela recessão económica causada pela COVID-19.

Para ajudar Angola a manter-se num bom caminho, os Estados Unidos vão doar 11,1 milhões de dólares para a desminagem e gestão de depósitos de armas. Desde 1995, os Estados Unidos contribuíram com 145 milhões de dólares para estas causas em Angola.

“Vinte e cinco anos de apoio comprometido dos Estados Unidos para a desminagem humanitária resultaram na destruição de mais de 218.000 minas terrestres e outros engenhos explosivos perigosos e um devolução segura de mais de 463 quilómetros quadrados de terras ao povo de Angola,” disse a Embaixadora dos EUA em Angola, Nina Marie Fite, num comunicado divulgado pelo seu Gabinete, em Outubro.

Parte do financiamento irá ajudar a reabilitar e construir 16 instalações de armazenamento de armas e munições assim como formar especialistas em gestão de depósitos de armamento. Desde 2006, os EUA ajudaram Angola a destruir quase 108.000 armas excedentes e 588 toneladas de munições obsoletas e desnecessárias.

Os fundos irão também ajudar a apoiar o trabalho de desminagem humanitária a ser feito por dois grupos: HALO Trust e Mines Advisor Group. Catorze equipas de desminagem trabalharão para limpar antigos campos de batalha nas províncias do Bié, Cuando Cubango e Moxico. Entre outras actividades, a HALO recrutou e formou equipas de desminagem exclusivamente de mulheres a nível do país. O projecto da HALO, denominado 100 Mulheres na Desminagem, oferece capacitação e oportunidades a mulheres de zonas de baixo rendimento, muitas delas mães solteiras.

“A diferença que fazemos na comunidade é enorme porque as pessoas podem seguir com as suas vidas. Elas estão muito mais felizes porque se sentem seguras,” Rita Kassova Kachiponde, uma trabalhadora da desminagem, disse num vídeo da HALO Trust. “Ficarei muito, muito feliz quando Angola estiver livre de minas.”

Ao receber a doação dos EUA, Adriano Gonçalves, da Comissão Nacional Intersectorial de Desminagem de Angola, disse que a mesma seria usada de forma estratégica nas zonas mais afectadas de Angola, que estão registadas numa base de dados nacional. Gonçalves disse que o problema mais sério é o material bélico não detonado tal como morteiros e obuses que se encontram espalhados no solo. As crianças que procuram por metais nas ruas apanham despercebidamente os explosivos.

““Muitos desses casos são pessoas que procuram por meios de subsistência, e crianças e jovens encontram alguns desses objectos metálicos sem saberem que podem ser restos da guerra ou até material explosivo,” disse Gonçalves ao Novo Jornal de Angola. “Muitas vezes manuseiam de forma inadequada e acaba por explodir.”

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