EQUIPA DA ADF
Os ugandeses irão contribuir para o desenvolvimento de um possível tratamento da COVID-19 quando os ensaios da sua vacina forem lançados no país, em Dezembro.
O Instituto de Pesquisa de Vírus do Uganda (IPVU) realizará o ensaio para testar o tratamento que está a ser desenvolvido pelo Colégio Imperial de Londres, no Reino Unido. O ensaio irá examinar a segurança da vacina e a sua capacidade de desencadear uma reacção imunológica em seres humanos.
O ensaio da vacina contra a COVID-19 do Uganda é um dos 15 a decorrer no continente.
A participação em ensaios da vacina garante que os países africanos tenham um lugar à mesa no desenvolvimento e distribuição do tratamento final, de acordo com a Dra. Matshidiso Moeti, directora dos Escritórios Regionais de África da Organização Mundial de Saúde (OMS), em Brazzaville, na República do Congo.
“Também sabemos que quando tivermos a vacina, será necessário que ela seja implementada numa velocidade e escala sem precedentes. A equidade deve ser o foco central dos nossos esforços,” disse Moeti, numa conferência de imprensa da OMS, em Julho. “Muitas vezes, os países africanos acabam por estar no fim da fila para receber as novas tecnologias, incluindo as vacinas.”
Os ensaios de medicamentos orientados para África ajudam os pesquisadores a compreenderem como as vacinas e outros tratamentos interagem com diferentes grupos populacionais do continente, de acordo com o Dr. Richard Mihigo, coordenador para a imunização e desenvolvimento da vacina, na OMS, em Brazzaville.
“Testar as vacinas no continente garante que sejam gerados dados suficientes sobre a segurança e a eficiência das vacinas candidatas mais promissoras para a população africana para que possam ser implementadas com confiança em África, quando forem aprovadas,” disse Mihigo ao jornal de medicina The Lancet.
Nos últimos anos, o Uganda emergiu como um actor importante na pesquisa de vacinas e ensaios de medicamentos. O IPVU desempenhou um papel importante no desenvolvimento da vacina para o Ébola e continua à procura de uma vacina para o HIV. Possui 415 ensaios clínicos em processo.
Mas ainda há falta de confiança quanto aos ensaios da vacina no Uganda e em outros lugares. O director do IPVU, Pontiano Kaleebu, disse que a melhor forma de combater isso é através da manutenção de elevados padrões de ética e da partilha da informação com o público.
“Mesmo com esta COVID, enquanto preparamos para as vacinas, preparamo-nos também para comunicar com as comunidades, onde planeamos realizar os estudos, e respondermos às suas perguntas,” disse Kaleebu durante a conferência de imprensa da OMS sobre a COVID-19. “Penso que as comunidades confiarão nos cientistas se estes derem a informação correcta.”
Kaleebu também mostrou-se optimista quanto ao alcance da vacina para a COVID-19, especialmente porque muitas pessoas demonstraram que podem se recuperar da infecção.
“Para a COVID, como as pessoas se recuperam, será mais fácil correlacionar a recuperação com o sistema imunológico,” disse Kaleebu. “E depois desenvolver a sua vacina para imitar a natureza.”
Mesmo com o instituto a dar a sua contribuição nas pesquisas clínicas do continente, África contribui com apenas 2,5% dos seus participantes em ensaios clínicos no mundo inteiro. Como resultado, os africanos, muitas vezes, têm acesso a medicamentos importantes que salvam vidas anos ou décadas após terem sido disponibilizados em outros lugares.
“Na verdade, não estão a ser feitos ensaios suficientes da vacina em África,” disse Shabir Mahdi, que lidera o seu próprio estudo da vacina contra a COVID-19, na África do Sul, em conjunto com a Universidade de Oxford, no Reino Unido. Ele participou na conferência de imprensa da OMS com Moeti e Kaleebu.
Mahdi, pprofessor de vacinologia na Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, África do Sul, disse que o seu grupo abordou a Oxford e pediu para ser incluído no seu estudo da vacina.
“É crucial que sejamos capazes de compreender como estas vacinas funcionam no contexto africano,” disse Mahdi.