EQUIPA DA ADF
O Dr. Mamadu Baldeh lutou contra a COVID-19, cuidando de um paciente de cada vez, na Serra Leoa.
Quatro anos depois de ter saído da faculdade de medicina, o médico de 32 anos de idade era o único responsável pelo tratamento de pacientes da COVID-19 quando a doença apareceu pela primeira vez no país, em Março. Isso significa que ele, muitas vezes, dormia no Hospital de Connaught, em Freetown.
Desde então, o pessoal responsável pelo tratamento da COVID-19 no Hospital de Connaught aumentou para quatro médicos e 20 enfermeiros, mas eles ainda têm dificuldades de fazer o acompanhamento dada a demanda que os pacientes colocam sobre o frágil sistema de saúde do país, mesmo quando, conforme ele disse à ADF, os casos começaram a registar um declínio.
Baldeh, que deixou o hospital temporariamente no início de Outubro, para ingressar nos seus estudos de mestrado, disse que o pessoal daquela unidade sanitária trabalha para manter uma perspectiva positiva, enquanto os pacientes batalham.
“É isso que todos os meus colegas estão a fazer,” disse Baldeh à entrevistadora Vickie Remoe, durante o seu programa de internet The Local Response (A Resposta Local). “É preciso ser optimista. É a melhor coisa que temos — para continuar a lutar.”
A sala de isolamento da COVID-19 de Connaught é muito diferente daquela que foi a primeira experiência de Baldeh como médico: logo que saiu da faculdade de medicina, ele voluntariou-se como médico nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016, no Brasil. Baldeh cresceu na Serra Leoa e passou a sua infância em Scouting, o que o preparou para o serviço público, disse ele à revista Africa Renewal, das Nações Unidas.
“Na infância, eu desejava ter uma carreira de serviço: cuidar das pessoas que estivessem a passar por dor e mal-estar. Assim, eu decidi que me tornaria médico,” disse.
A Serra Leoa foi um dos últimos países de África a registar casos de infecção pela COVID-19. Tendo passado recentemente pela epidemia do Ébola da África Ocidental de 2014-2016, a liderança do país tem promovido medidas de protecção, tais como o uso de máscaras, o distanciamento social e a higiene para evitar as infecções tanto quanto possível.
“Nos primeiros dias da luta contra a COVID-19, parecia que estávamos em vantagem em relação ao vírus,” disse Baldeh.
Com uma população de 7,6 milhões de pessoas, até inícios de Outubro, a Serra Leoa tinha registado menos de 2.300 casos de COVID-19 e 72 mortes. Até aqui, continua entre os países menos afectados do continente. Mesmo assim, isso tem sido suficiente para sobrecarregar o sistema de saúde.
O Hospital de Connaught é o último recurso da Serra Leoa, em termos de cuidados médicos, mas tem apenas 12 camas de isolamento dedicadas aos pacientes da COVID-19. Recebe os doentes mais graves, que estão nos estágios mais avançados da doença, muitas vezes, transferidos de hospitais menores.
Desde cedo, o hospital teve falta de recursos para responder à demanda dos pacientes.
“O desafio começa quando podemos ter apenas um termómetro, ou apenas uma máquina BP ou dois oxímetros de pulso,” disse Baldeh ao The LocalResponse. “Ou quando temos um paciente que vem sem dinheiro e nós passamos uma receita. Ele não consegue ter os medicamentos porque não tem dinheiro. Então, temos de procurar recursos em algum lugar. Graças a Deus, temos algumas pessoas boas.”
Desde que iniciou o surto, Baldeh já recebeu donativos de materiais médicos fundamentais, o que significa que ele agora tem 12 camas de isolamento totalmente equipadas. Agora não tem de se preocupar tanto com ter de evitar a transmissão acidental do vírus, de uma cama para a outra. Mas a cada paragem, ainda é necessário visitar a sala de equipamento de protecção individual, para fazer a troca de máscaras, bata e outro equipamento — o que leva o seu tempo.
Depois existe a memorização: para evitar a contaminação cruzada, ele deixa canetas, blocos e qualquer outro objecto que possa transmitir a COVID-19 fora da sala de isolamento. Isso significa que deve memorizar os sinais vitais de cada paciente antes de sair da unidade para poder tomar nota.
Baldeh lidera a Associação de Médicos Juniores num país onde três quartos dos profissionais de saúde têm menos de 35 anos. No seu cargo, muitas vezes, é convidado para falar em programas como o da Remoe, para difundir a mensagem sobre a COVID-19, esclarecer rumores e dar conselhos valiosos.
“Nesta luta, o aspecto da comunicação tem algumas lacunas que precisam de atenção, se queremos transmitir a mensagem correcta para as pessoas,” disse Baldeh à Remoe. “Se começar a transmitir informações contraditórias, estaremos apenas a confirmar os seus receios.”