Enfermeiros nas Linhas da Frente da Luta Contra a COVID-19 em Zonas Rurais da África do Sul
EQUIPA DA ADF
Meses antes de a COVID-19 emergir, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou que 2020 seria o Ano do Enfermeiro. O título não podia ser mais adequado.
Em todo o mundo, enfermeiros lutam diariamente contra a COVID-19 e suportam o fardo do desgaste da rede de cuidados sanitários, défice do pessoal de saúde e falta de equipamento de protecção individual (EPI).
Em nenhum lugar as linhas da frente são tão desafiadoras quanto nas comunidades rurais e suburbanas da África do Sul, o país mais severamente afectado do continente, com 694.537 casos, de acordo com as estatísticas do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, tornadas públicas a 13 de Outubro.
“Todos os santos dias, você veste o seu uniforme e cuida dos seus pacientes,” Kedibone Mdolo, secretária provincial interina da Organização Democrática de Enfermeiros da África do Sul (DENOSA), disse à Reuters. “Você é a luz, especialmente neste tempo de COVID. Quando as pessoas estão a morrer de solidão nas enfermarias, os enfermeiros estão ali do seu lado.”
No Hospital Distrital de Taung, na província de Noroeste, na África do Sul, velas vermelhas, amarelas e brancas — cores da DENOSA — foram acesas em homenagem aos enfermeiros que se arriscam e se expõem quase todos os dias. Um deles, o enfermeiro chamado Dudu, que trabalhava cerca de 70 quilómetros a oeste, numa pequena cidade chamada Reivilo, faleceu em Julho.
Com cerca de 28 milhões de enfermeiros no mundo, a OMS estima que são necessários mais 6 milhões, e 90% da carência ocorre em países de baixa e média renda, como a África do Sul.
Quando Dudu faleceu, os colegas enfermeiros em Reivilo tiveram de trabalhar mais horas além das 12 horas do turno.
As condições em toda a África do Sul incidiram sobre os enfermeiros, quando o país se debatia com um pico de Agosto de 12.000 casos por dia. Instalações inadequadas, pagamentos esporádicos e uma generalizada falta de equipamento de protecção individual obrigaram os enfermeiros a frequentemente reutilizarem ou a trabalharem sem equipamento, levando a protestos em todo o continente.
Os pacientes muitas vezes passam pelo pior.
Vicky Shikwambana trabalha no hospital de Taung e gere a única enfermaria de atendimento de casos de COVID-19 num município de cerca de 200.000 habitantes. Se os sintomas dos pacientes pioram, devem ser transferidos para receber tratamento no Hospital de Klerksdorp, a 250 quilómetros.
“Somente temos um ventilador em todo o hospital,” disse Shikwambana à Reuters. “O que podemos fazer?”
A África do Sul rural apresenta uma série de desafios, de acordo com a Dra. Liesbet Ohler da organização Médicos Sem Fronteiras, que trabalhou na cidade de Eshowe, próximo da costa leste.
“As estratégias que funcionaram nas cidades não são necessariamente uma boa opção,” disse na página da internet da sua organização. “As distâncias entre as clínicas são grandes, existem poucos recursos de saúde e os sistemas do governo são muitas vezes multifacetados, só para mencionar alguns dos desafios.”
O Secretário-Geral da DENOSA, Cassim Lekhoathi, queixou-se, em Abril, da formação inadequada sobre como lidar com pacientes suspeitos de estarem infectados com a COVID-19. A organização também emitiu alertas sobre a falta de equipamento. Isso levou a um caso de tribunal que obrigou os ministros de saúde e de trabalho a comprarem mais equipamento quando os preços a nível global estavam a subir.
“Não podemos ir de face desprotegida para a zona de guerra,” disse Lekhoathi ao jornal online da África do Sul, The Daily Maverick. “Eles irão trabalhar, mas não se vão colocar numa posição de estarem expostos à COVID-19. A minha consciência não me vai permitir estar a enviar o nosso pessoal de saúde para a morte.”
A ajuda veio na forma de organizações como o Projecto de Advocacia de Saúde Rural, que comunica a falta de equipamento e medicamento, assim como na forma de donativos internacionais. O embaixador dos EUA na África do Sul anunciou, em Agosto, donativos de equipamento no valor de mais de 350.000 dólares.
Para os primeiros socorristas na África do Sul rural, a perseverança é fundamental.
“Temos de continuar a trabalhar porque isto é uma pandemia,” disse Shikwambana, acrescentando que “a minha família está nervosa pelo facto de eu trabalhar aqui, mas também está orgulhosa.”
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