EQUIPA DA ADF
Promessas repetidas pelo Secretário-Geral da China, Xi Jinping, de que os países africanos teriam acesso prioritário à vacina contra a COVID-19, geraram uma mistura de emoções.
Alguns olham para as promessas de Xi como uma manobra diplomática e uma forma de evitar culpa internacional quanto à epidemia mortal, que é amplamente vista como tendo sido originada num mercado chinês de produtos perecíveis. Actualmente não existe nenhuma vacina eficaz para a COVID-19 aprovada para a distribuição.
À medida que o vírus se alastrava pela África, a China fazia o envio de máscaras, equipamento de protecção individual e pessoal de saúde para o continente. Ao fazer isso, a China estava a “moldar a narrativa” da sua resposta ao surto, disse Guy Burton, professor-adjunto de relações internacionais do Colégio Vesalius em Bruxelas, à ADF , num e-mail.
“Ter esta actividade em vigor também desvia algumas das críticas direccionadas contra os chineses depois da discriminação que aconteceu contra residentes africanos de Guangzhou (China), em Março e Abril,” disse Burton. “As autoridades começaram a testar o povo [africano] [para a COVID-19] contra a sua vontade e a colocá-los em quarentena, ao mesmo tempo que os proprietários das casas de renda os despejavam.”
Não está claro se a China ofereceria uma futura vacina da COVID-19 aos países africanos a custo zero. O relatório oficial da China sobre a forma como ela lida com a epidemia diz “a vacina da COVID-19 [é] para ser utilizada como um produto público global logo que esta for desenvolvida e implementada na China,” de acordo com a BBC.
Um diplomata europeu caracterizou as promessas da China de enviar uma encomenda da vacina da COVID-19 para África como sendo a “diplomacia da vacina,” semelhante ao envio, por parte de Pequim, de caixas de medicamentos para a Sérvia e Itália, à medida que a epidemia se propagava, reportou a BBC.
Actualmente, empresas chinesas estão a realizar três dos seis ensaios de uma vacina global, que se encontram no estágio final de testes em humanos, reportou o Wall Street Journal. Mas a China ficou indignada com o facto de aparentemente se estar a relacionar o acesso à vacina aos seus objectivos geopolíticos. Prometeu dar doses ao Paquistão, um parceiro geograficamente importante na sua Iniciativa do Cinturão e Rota, assim como às Filipinas, um país que a China espera conquistar como um corredor nas ambições que tem no Mar da China Meridional.
“Eu preocupo-me muito com a escolha da China de países favoritos para a vacina,” Lawrence Gostin, professor de Lei de Saúde Global (Global Health Law), na Universidade de Georgetown, disse à Voz da América. “Pode haver um alto preço, beneficiando a China politicamente, economicamente e militarmente. Uma vacina que salva vidas nunca devia ser trocada por ganhos políticos ou influência.”
A China também parece estar a condicionar o acesso à vacina à participação em ensaios clínicos. Por exemplo, o Egipto é um dos países que participa na terceira fase dos ensaios clínicos. Os dois países assinaram recentemente um acordo para a criação de um centro de produção da vacina, que estará localizado no Egipto, logo que a vacina for aprovada.
“Parte do entendimento com os países que cooperarem com os ensaios chineses é que se irão também beneficiar quando a vacina estiver disponível — algo que os Estados Unidos, as firmas e os governos europeus têm tido mais receio em afirmar,” disse Burton. “Então, esse é um pequeno golpe diplomático da China — a Rússia fez quase a mesma coisa.”