Bright Tsai Kweku conhece bem os perigos de trabalhar a bordo de embarcações de pesca de proprietários chineses, em Gana.Ele disse que testemunhou um membro da tripulação morrer de cólera porque a tribulação chinesa não quis levá-lo para a costa para receber tratamento. Ele também viu dois membros da tripulação morrer: um de queimaduras graves e outro de ferimento causado por um propulsor.
Kweku, que trabalha como um oficial de equipamento e da tripulação, disse à BBC que já foi obrigado a trabalhar três dias sem dormir, ficou sem comer e foi obrigado a beber água suja. Ele disse que os membros chineses da tripulação de forma rotineira tratam os pescadores locais como “escravos.”
“Eles batem neles, cospem neles, dão pontapés neles,” disse Kweku. “Eu já passei por isso.”
Histórias semelhantes têm sido comunicadas durante anos.
Um pescador de nome Michael recontou uma situação aterrorizante em Maio de 2022, quando estava a trabalhar na embarcação chinesa MV Comforter 2. O arrastão estava a pescar durante tempestades fortes, e a tripulação ordenou que o pescador puxasse uma quantidade excessiva de peixe para o barco. Já carregado de peixe, o barco virou, por causa do peso da captura e das águas agitadas.
Michael e outros nove apegaram-se a um tambor de óleo que flutuava e ficaram aproximadamente 24 horas antes de serem resgatados. Onze pessoas continuam desaparecidas, e o corpo do capitão chinês foi recuperado.
“Foi uma noite aterrorizante,” disse Michael à BBC. “Não sabíamos se iríamos conseguir sobreviver ou não.”
Michael disse que ainda não se recuperou da situação, nem mental nem fisicamente.
Steve Trent, fundador e PCA da Fundação para a Justiça Ambiental, disse que o número elevado de arrastões de proprietários chineses é um problema em toda a África Ocidental, mas o problema é “particularmente grave” no Gana.
“Estes proprietários chineses habitualmente colocam um capitão chinês encarregue das embarcações para comandar uma tripulação essencialmente de ganeses e são estes capitães chineses que têm causado maus-tratos,” disse Trent à BBC.
Um caso famoso de alegados maus-tratos a bordo de um arrastão chinês envolveu o observador de pescas ganês, Emmanuel Essien, de 28 anos de idade, que estava a bordo do arrastão chinês Meng Xin 15, quando gravou um vídeo da tripulação envolvida em saiko, a transferência ilegal de peixe de um arrastão para uma canoa grande. Duas semanas depois, no dia 5 de Julho de 2019, ele desapareceu quando trabalhava na mesma embarcação.
As evidências de Essien podiam ter significado uma multa de 1 milhão de dólares para o capitão da embarcação, de acordo com o The Guardian. Não há sinal de Essien desde que foi dado como desaparecido. A sua família acredita que ele foi assassinado em retaliação, por ter enviado o vídeo às autoridades.
Em meados de Janeiro, Mavis Hawa Koomson, Ministro das Pescas do Gana, anunciou que não será atribuída qualquer licença para pescar no Gana a proprietários de arrastões que maltratem os observadores de pescas. Koomson comprometeu-se em fazer com que todas as reclamações relacionadas com abuso e com violação de direitos humanos submetidas contra qualquer operador de embarcação industrial serão investigadas e que seriam aplicadas sanções quando necessário.
“Maltratar um observador de pescas é como maltratar a mim, o Ministro, porque os observadores representam a mim,” disse Koomson à estação de televisão do Gana, MyJoy. “Quem os maltrata não é digno de operar nas águas. Não iremos hesitar em retirar as licenças dos que ganharem notoriedade no abuso de pessoas que eu coloquei para monitorizarem as embarcações.”
Para além de violações de direitos humanos, os arrastões chineses, no Gana e em toda a África Ocidental, roubam toneladas de peixe do mar, através da pesca ilegal, não declarada e não regulamentada (INN) que ameaça os meios de subsistência, dizima as unidades populacionais de peixe e destrói os ecossistemas. A China é o pior infractor da pesca INN do mundo, de acordo com o Índice de Pesca INN.
Analistas afirmam que 40% a 60% de todo o peixe capturado na África Ocidental constitui captura ilegal. De acordo com um relatório da Financial Transparency Coalition, mais de 40% da pesca INN do mundo ocorre naquele ponto. A região perde qualquer coisa como 2,3 a 9,4 bilhões de dólares anualmente para a pesca ilegal.
A fundação afirma que, no Gana, 90% dos barcos de pesca ilegal são de proprietários chineses.