EQUIPA DA ADF
A pandemia da COVID-19 pressionou os sistemas de saúde em muitos países africanos até ao limite extremo. Mas existem boas notícias entre os desafios: o continente registou uma explosão em termos de tecnologia ligada aos cuidados de saúde, incluindo a telemedicina, robots, drones e produções criativas.
Um relatório feito em 2021 pela empresa de consultoria da área da saúde, Salient Advisory, focalizou-se em alguns dos mais activos centros da África Subsaariana — Gana, Quénia, Nigéria e Uganda — e descobriu que mais de 60 empresas de tecnologia “agora estão a trabalhar para transformar a distribuição de produtos de saúde com novos modelos que servem directamente aos clientes, facilitando a provisão de produtos para os fornecedores e oferecendo serviços de dados de produtos.”
“As empresas em fase de início de actividades pelo continente estão a desenvolver modelos inovadores e comerciais para transformar a distribuição de produtos de saúde para os consumidores assim como para os provedores,” afirmou o relatório.
A COVID-19 está a transformar o futuro da prestação de cuidados de saúde de muitas formas.
Telemedicina
As plataformas digitais de saúde podem ser a maior indústria em crescimento que sofreu um impacto da pandemia no mundo inteiro, uma vez que limita o contacto para os profissionais de saúde; trata dos pacientes infectados vulneráveis e provenientes de zonas recônditas; e poupa o dinheiro através da redução da necessidade de infra-estruturas físicas.
“Nos últimos 12 meses, houve uma explosão de provedores e de plataformas de tecnologia,” Mason Marks, membro do conselho de ética de inovações tecnológicas e biomédicas, disse durante um painel de debate virtual, em Abril de 2021.
“Houve o relaxamento de certas medidas de restrição e existem cada vez mais e mais opções para pacientes que procuram atendimento através da telemedicina, tanto em termos dos tipos de cuidado que recebem como das pessoas que podem prestar tais cuidados.”
Babyl, um provedor de cuidados digitais no Ruanda, registou um aumento nas consultas diárias de cerca de 3.000, em Março de 2020, para mais de 5.000, em Agosto de 2021.
O provedor ugandês, Rocket Health, disse que as consultas por via telefone e de vídeo aumentaram em 500% em 2020 e quadruplicaram em 2021.
Um relatório de Agosto de 2021, feito por três empresas africanas de telecomunicações, demonstrou que 75% dos países africanos possuem uma estratégia de saúde digital e que o envolvimento de smartphones com os serviços de saúde continua a aumentar.
Robots hospitalares
Assim como a telemedicina protege os profissionais de saúde enquanto servem os pacientes no isolamento, os robots provaram que são importantes para os hospitais africanos.
O Ruanda ganhou elogios no início da pandemia quando enviou uma pequena frota de robots espertos e de cor branca, com olhos azuis que piscavam, para comunicar com os pacientes. Os robots são capazes de medir a temperatura de 50 a 150 pessoas por minuto.
Eles também poder fazer a manutenção de registos médicos, o que irá ajudar o país a fazer a transição de ficheiros médicos dos pacientes de formato em papel para formato digital.
Inventores de Egipto, Senegal, África do Sul e Tunísia também criaram os seus robots.
“Isso reduz a taxa de infecção do nosso pessoal para zero,” um gestor hospitalar de Cairo disse à Reuters, falando sobre um robot produzido a nível local.
Drones-estafetas
A dificuldade de transporte de medicamento e materiais médicos para os centros de saúde e para os doentes das zonas rurais e recônditas foi espectacularmente facilitada com o advento dos drones.
Costa do Marfim, Gana, Nigéria e Ruanda entraram em parceria com o serviço de entregas, Zipline International, que opera uma frota de drones autónomos para transportar amostras laboratoriais, bolsas de sangue para transfusão e outros materiais médicos para pontos distantes de forma rápida e a custos baixos.
O Ruanda estabeleceu-se como um local de testagem popular para a tecnologia de drones, tendo suscitado a criação de inúmeras empresas em fase inicial.
Produção de suprimentos médicos
A pandemia demonstrou que não existe maior necessidade no sector de saúde de África do que de medicamentos e materiais produzidos no continente para abordar os problemas globais de fornecimento e acesso.
Quando a COVID-19 eclodiu, as grandes fábricas e pequenas empresas desdobraram-se em medidas para redefinir as operações e criar equipamento de protecção individual.
Pesquisadores do Instituto Pasteur, em Dakar, Senegal, começaram a desenvolver um kit de testagem que custaria 1 dólar e que produziria resultados em menos de 10 minutos.
Mas a necessidade de fármacos produzidos em África ainda existe.
Com a ajuda da Organização Mundial de Saúde, a Afrigen Biologics, da África do Sul, irá servir de um centro de produção de farmacêuticos mRNA, partilhando conhecimento com outros produtores africanos, para aumentar a capacidade do continente.
Uma delas é a Biovac, uma empresa de produção de fármacos formada em 2003, em parceria com o governo sul-africano, para criar capacidade local para o fabrico de medicamentos.
O Banco Africano de Desenvolvimento está a desenvolver a visão 2030 para a indústria de fármacos de África, de acordo com a Secretária-Geral Adjunta da ONU, Amina J. Mohammed.
“A Zona de Comércio Livre Continental Africana abre novas oportunidades e cria um mercado de fármacos de 250 bilhões de dólares com um potencial para crescer ainda mais,” disse durante o encontro de Setembro. “Vamos utilizar o ritmo destas iniciativas para impulsionar a produção de medicamentos acessíveis e de alta qualidade para África.”