EQUIPA DA ADF
A descoberta de combatentes líbios a treinar num campo na África do Sul deu origem a uma série de questões e preocupações. Os analistas perguntam-se se existem outras instalações de treino no país e se o Marechal Khalifa Haftar, da Líbia, está a preparar um ataque que irá reacender e internacionalizar o conflito no seu país.
No dia 26 de Julho, as autoridades sul-africanas detiveram 95 cidadãos líbios que, segundo as mesmas, tinham entrado no país com “vistos de estudantes,” mas que foram encontrados a receber treino militar em White River, cerca de 360 quilómetros a leste de Joanesburgo. O operador do campo, Milites Dei Security Services, foi suspenso enquanto se aguarda um inquérito. As acusações contra os formandos foram posteriormente retiradas e estes foram deportados em Agosto, mas subsistem dúvidas sobre quem os enviou para o país e com que objectivo.
“Se olharmos para a Líbia, vemos que é actualmente um país em conflito, um Estado falhado. O Governo de Unidade Nacional controla menos de 20% das terras,” Willem Els, do Instituto de Estudos de Segurança, disse numa entrevista transmitida pela Newzroom Africa. “Então, quem mandou aquelas pessoas para cá? São do Governo de Unidade Nacional? Ou são de alguma das outras milícias? Porque isso vai mudar o jogo e torná-lo um pouco mais sério.”
O Governo de Unidade Nacional da Líbia, sediado em Trípoli, negou qualquer ligação aos combatentes e vários relatos ligaram-nos a Haftar. O Libya Observer noticiou que os homens faziam parte do famoso Grupo 20/20 da Brigada Tariq bin Ziyad (TZB), que apoia Haftar e é liderada pelo seu filho, Saddam.
A Amnistia Internacional disse que a TZB surgiu em 2016 e é responsável por um “catálogo de horrores,” incluindo tortura, violação, rapto e assassinatos. Os meios de comunicação social locais relataram incidentes de assalto à mão armada e violação na África do Sul, perto do centro de formação, que podem estar relacionados com os homens aí capturados. Os homens teriam passado algum tempo na cidade e bebido muito e ameaçado matar os residentes locais.
“Ficámos confusos com o que as pessoas de tal país estão a fazer nas nossas costas,” disse um residente ao Sowetan Live. “Saber que as pessoas que frequentam a nossa aldeia são soldados em treino assustou-nos e alguns conseguiram informar a polícia.”
Julian Rademeyer, da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional, disse que parece que o grupo tencionava treinar na Líbia, mas os formadores recusaram e pediram aos combatentes que viajassem para a África do Sul.
“Há indícios de que vários grupos estão a armar-se e a receber treino, com a perspectiva de que poderá haver um conflito,” Rademeyer disse ao news24.
Haftar e as suas forças, incluindo os mercenários russos do Grupo Wagner, tentaram tomar Trípoli em 2019, mas foram travados nos arredores da capital. Foram forçados a recuar depois de o governo da Líbia ter recebido apoio da Turquia. Alguns observadores temem que a descoberta do campo de treino signifique que Haftar está a planear outro ataque à capital.
“Estou profundamente preocupado com o facto de a Líbia estar a entrar em colapso muito rapidamente,” Tarek Megerisi, especialista sobre a Líbia, do Conselho Europeu de Relações Externas, disse ao Daily Maverick. “Nas últimas semanas, os órgãos políticos fracturaram-se todos e a competição entre eles tornou-se mais fracturante. As forças armadas são mobilizadas, com as tropas de Haftar a deslocarem-se para oeste. A Argélia está em alerta máximo, o maior campo petrolífero está encerrado e os Haftars não esconderam que estão a planear regressar a Trípoli.”