EQUIPA DA ADF
A esposa e o filho de Maliko Sempewo estão entre as mais de 140 pessoas que morreram de Ébola desde que o vírus apareceu em Uganda, em Setembro.
“Disseram que devemos estar sob vigilância por pelo menos 21 dias,” disse Sempewo à Deutsche Welle (dw.com) sobre os restantes membros da sua família. “Eles medem frequentemente a nossa temperatura.”
Enquanto Uganda luta contra o contínuo surto do vírus Ébola, o país está a desenvolver a sua própria experiência com a COVID-19. Entre outras coisas:
- Uganda agora produz o equipamento de protecção para profissionais de saúde, antes importado.
- O governo redireccionou a força-tarefa consultiva da COVID-19 para passar a fazer a gestão da resposta ao Ébola daquele país.
- A capacidade laboratorial que se expandiu para a COVID-19 agora possibilita obter resultados de testes do Ébola dentro de horas, ao invés de dias ou semanas.
“A formação de profissionais de saúde e a mobilização das comunidades da COVID — esse tipo de experiência foi trazido para o Ébola,” Dr. Emmanuel Paul Batiibwe, director do Hospital de Referência Regional de Mubende, disse à dw.com.
Desde que foi inicialmente declarado o surto da estirpe do Sudão, no dia 20 de Setembro, o Ministério de Saúde do Uganda registou 141 casos confirmados e 55 mortes relacionadas com o Ébola — uma taxa de mortalidade de 40%. Aquele país registou 79 recuperações.
Ao contrário da estirpe do Zaire, encontrada na África Ocidental, a estirpe do Sudão não possui vacina. A Organização Mundial de Saúde aprovou ensaios de três possíveis vacinas durante o actual surto.
O distrito de Mubende, onde o surto começou, representa aproximadamente 50% de todos os casos e continua a ser o local mais activo em termos de infecções. Contudo, o vírus propagou-se para outras nove províncias, incluindo a capital e várias outras zonas urbanas.
Desde que o surto iniciou, as autoridades utilizaram o rastreamento de contactos para garantir que qualquer pessoa potencialmente infectada ficasse em quarentena voluntária durante 21 dias para prevenir mais propagações. O governo encerrou muito cedo as escolas e prorrogou os períodos de quarentena dos distritos de Mubende e Kassanda até meados de Dezembro para conter o vírus.
Buscando das experiências do confinamento obrigatório da COVID-19, o governo está a permitir que os veículos comerciais entrem em zonas de quarentena para evitar interromper o fornecimento de produtos alimentares, equipamento e outros suprimentos de crucial importância.
Os profissionais de saúde representam nove das 55 mortes confirmadas causadas pelo Ébola e continuam em alto risco.
O surto da COVID-19 motivou o governo do Uganda a providenciar incentivos financeiros para as empresas produzirem máscaras e outros equipamentos de protecção a nível interno, em vez de concorrer internacionalmente para importá-los.
A Biogenics, com sede no Uganda, é uma das empresas que se tornou uma grande produtora do mesmo equipamento de protecção que protegia os profissionais de saúde durante o surto de Ébola. A empresa produz cerca de 100.000 máscaras cirúrgicas de três camadas por dia para distribuição em Uganda.
As lições da COVID-19 melhoraram a resposta do governo ao surto do Ébola, em particular, através das ligações que foram criadas entre o governo e os seus parceiros dos sectores público e privado, disse Batiibwe.
“Vocês viram a resposta desta vez dos parceiros e o governo é muito, muito mais rápido,” disse à dw.com.
A capacidade laboratorial durante a COVID-19 fez com que a resposta do Ébola fosse mais rápida. Antes da pandemia, o país apenas tinha uma instalação — o Instituto de Pesquisa do Vírus do Uganda (UVRI) — com capacidade de testar amostras. A pandemia ajudou a expandir a capacidade para outros centros de saúde pelo país.
De acordo com o Director do UVRI, Pontiano Kaleebu, agora são necessárias cinco horas desde a altura em que a amostra chega para se determinar se uma pessoa está infectada com o Ébola. Os passos necessários para confirmar a infecção fazem com que o total de horas do tempo de resposta seja de cerca de 12 horas.
Devido à COVID-19, as autoridades podem rapidamente saber se uma pessoa é uma fonte potencial de Ébola e isolá-la.
“Antes levava-se mais tempo — dias, semanas — antes de intervirmos. E esse era o problema,” Kaleebu disse à dw.com. “Mas agora temos os laboratórios. Obtêm-se os resultados rapidamente e faz-se a intervenção.”