Lições do Passado Podem Ajudar a Conter o Surto do Ébola no Uganda
EQUIPA DA ADF
Com os casos de Ébola a continuarem a aumentar no Uganda, as autoridades sanitárias estão a analisar as lições aprendidas do surto da África Ocidental de 2014-16, para orientar a sua estratégia.
Mosoka Fallah, gestor do programa para salvar vidas e meios de subsistência, no Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), possui uma experiência profunda da linha da frente da luta na África Ocidental.
Ele disse que o Uganda possui algumas vantagens enquanto luta contra o surto. O país possui pessoal médico bem treinado e boas infra-estruturas de saúde. Também respondeu a quatro anteriores surtos do Ébola, o que dá ao país experiência.
“Os sistemas de saúde são tão eficazes quanto as respostas e o apoio que podem obter da comunidade,” escreveu Fallah.
O surto do Uganda, que matou 17 pessoas nas primeiras três semanas, produziu cerca de 48 casos confirmados e outros 20 prováveis casos. A variedade do Ébola que agora se propaga no Uganda, conhecida como a estirpe do Sudão, não possui vacina. Existe uma vacina para a estirpe da África Ocidental, conhecida como o Ébola de Zaire.
Assim como com os surtos anteriores do continente, a propagação de casos no Uganda seguiu uma auto-estrada, neste caso, a estrada que parte de Kampala em direcção à República Democrática do Congo (RDC). Isso coloca ambos os países em risco, de acordo com Fallah.
O Comité Internacional de Salvamento (IRC) está a trabalhar com o Ministério da Saúde do Uganda para fazer a sensibilização sobre o surto entre o pessoal de saúde da linha da frente e para reforçar os centros de saúde ligados ao IRC para se prepararem para um aumento da propagação.
“Estamos preocupados com o impacto que a propagação do vírus pode ter,” Elijah Okeyo, director nacional do IRC no Uganda, disse num comunicado.
Escrevendo recentemente para o The Conversation, Fallah definiu quatro passos que podem conter o surto do Uganda:
- Criar um sistema robusto de vigilância transfronteiriça: um sistema com comunicação simples e um mínimo de burocracia, utilizando aplicativos móveis, podem ajudar as autoridades sanitárias de ambos países a identificarem, testarem e isolarem as infecções. “Uma das maiores fraquezas que enfrentámos durante o surto do Ébola foi que os funcionários ligados à resposta na Libéria, Serra Leoa e Guiné não eram capazes de comunicar facilmente com os colegas de outros países,” escreveu Fallah.
- Criar um exército de rastreadores de contactos comunitários: é importante que os rastreadores conheçam as pessoas da sua comunidade e possam visitar as suas casas e identificar pessoas que podem tentar esconder as suas infecções. Durante o surto da África Ocidental, a Organização Mundial de Saúde recrutou pastores, imames, professores e outros líderes comunitários na Libéria, que serviram como monitores. “Esses voluntários derrotaram o Ébola, porque as comunidades confiavam neles,” escreveu Fallah.
· Recrutar mensageiros de confiança: a desinformação pode criar hostilidade contra as equipas de resposta. Sendo assim, recrutar pessoas influentes como mensageiros para partilhar informação exacta pode desenvolver confiança e comunicar mensagens correctas.
· Devem ser utilizados testes rápidos de campo: “Testagens rápidas e resultados em curto período de tempo são cruciais para isolar os casos e prevenir mais propagação,” escreveu Fallah. Durante o surto da África Ocidental, os testes rápidos possibilitaram que as equipas de resposta soubessem, em poucas horas, se um paciente estava infectado.
· Aumento da vigilância de todas as viaturas: pelo facto de o surto do Uganda estar a acontecer ao longo de uma auto-estrada principal, que liga Kampala e a RDC, a monitoria de passageiros nas viaturas é de extrema importância para prevenir a propagação. Durante o surto da África Ocidental, os motoristas das transportadoras informaram sobre algum dos seus colegas motoristas que havia faltado ao serviço para que essas pessoas pudessem ser visitadas em casa.
A capacidade que o Ébola tem de propagar-se não deve ser subestimada, escreveu Fallah.
“É, por conseguinte, de crucial importância que a região esteja preparada para trabalhar em conjunto a fim de conter a propagação do vírus,” acrescentou.
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