EQUIPA DA ADF
O Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director-Geral da Organização Mundial de Saúde, revelou que não consegue ajudar as famílias que estão a passar fome na região de Tigré, da Etiópia.
“Tenho muitos familiares lá,” disse durante uma conferência de imprensa emotiva, depois de os conflitos terem sido reiniciados em Agosto, depois de vários meses de relativa calmaria. “Eu quero enviar-lhes dinheiro. Não consigo enviar dinheiro.Estão a passar fome. Sei que não sou capaz de ajudá-los. Estão completamente isolados. Não posso falar com eles.”
O governo da Etiópia isolou a região nortenha de Tigré, bloqueando as telecomunicações, a electricidade, os bancos, a cobertura da imprensa e a maior parte das organizações de ajuda humanitária desde que os conflitos começaram em Novembro de 2020. Aproximadamente 80% da população de Tigré enfrenta insegurança alimentar e 13 milhões de pessoas a nível nacional precisam de ajuda alimentar, comunicaram as Nações Unidas.
O Primeiro-Ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, disse que o isolamento é necessário para controlar e conter a violência, mas o bloqueio da imprensa implica que uma guerra que ameaça alastrar-se para toda a região está a ser escondida do mundo exterior.
Zacharias Zelalem, um jornalista independente da Etiópia, que vive fora do país, descreveu algumas das tácticas que alegadamente são empregues por todos os combatentes. Os conflitos são dominados por unidades de infantaria, o que, por vezes, significa que combatentes armados com AK-47 enfrentam brigadas mecanizadas e sofrem derrotas pesadas. Mas, reconheceu ele, confirmar esses relatos é extremamente difícil numa região onde não existe comunicação.
“Existe uma tendência de ambos os lados utilizarem o termo ‘onda humana’ como parte da propaganda de imprensa para desmoralizar os seus inimigos e pressionar os combatentes inimigos para desertarem das suas fileiras,” disse à ADF, falando sobre os relatos de assaltos de infantaria sem protecção.
Pode ser verdade, disse, porque todas as facções envolvidas recrutaram e enviaram milhares de novos combatentes sem treinamento adequado.
“Esses novos recrutas, lançados para o calor da batalha, perecem em massa quando não se rendem,” frisou. “Com muito pouco em termos de ganhos e avanços militares, é um emaranhado mortal para todos os envolvidos.”
Poucos canais de imprensa internacional possuem uma presença na Etiópia, onde as autoridades já expulsaram alguns correspondentes estrangeiros.
“O acesso a comunicações e outros serviços básicos, e principalmente à ajuda humanitária, é explicitamente utilizado como uma moeda de troca pelo governo da Etiópia,” analista político Goitom Gebreluel disse à Reuters.
“É utilizado como vantagem contra Tigré e contra a comunidade internacional.”
O âmbito e o nível dos conflitos na Etiópia expandiram-se para proporções históricas desde que os conflitos recomeçaram, de acordo com o analista Cameron Hudson.
“Esta é a nova Grande Guerra de África,” disse ao jornal The Telegraph, fazendo referência à primeira e à segunda guerra do Congo, que causaram a morte de mais de 5 milhões de pessoas, há duas décadas.
Temos a presença confirmada de forças que, por livre vontade ou por obrigação, estão a combater neste conflito, provenientes de Estados vizinhos: Eritreia, Somália e Sudão do Sul e agora sinais crescentes de que forças provenientes de locais distantes como Chade, Níger e Líbia podem também estar a desempenhar um papel.
“Isso vem como um acréscimo ao fluxo de entrada da próxima geração de drones e munições de campo de batalha provenientes da Turquia, Emirados Árabes Unidos, Rússia, Irão e China.”
Assim como toda a Etiópia tem estado envolvida na violência étnica, todos os combatentes do conflito de Tigré foram acusados de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, de acordo com a ONU.
William Davison, analista sénior etíope do Grupo Internacional da Crise, disse que o mais recente aumento da violência na guerra civil da Etiópia provavelmente faça com que ela seja a guerra mais mortal do mundo, com o maior número de combatentes.
“Esta é uma guerra dominada pela infantaria, particularmente do lado de Tigré que se encontra cercado, que nos últimos cerca de dezoito meses criou uma força que se afirma que seja de centenas de milhares,” disse ao The Telegraph.
“Com os acampamentos federal e de Tigré afirmando que a outra parte está a utilizar tácticas de ‘onda humana,’ ambos comunicaram de forma privada que houve dezenas de milhares de mortes em campo de batalha somente no mês passado, desde que os conflitos reiniciaram.”
Quando um cessar-fogo, que teve a duração de um mês, este ano, ofereceu algum alívio aos milhares de pessoas que residem na região, o conflito saiu nas manchetes internacionais. Desde Fevereiro, a invasão russa à Ucrânia dominou a atenção do mundo.
Em Agosto, Tedros disse que a situação de Tigré é pior que a da Ucrânia.
“Em nenhum lugar do mundo existem 6 milhões de pessoas isoladas de serviços básicos, de seu próprio dinheiro, de telecomunicações, de alimentos, de medicamentos,” concluiu. “Este é o pior desastre do mundo.”