EQUIPA DA ADF
Pesquisas recentes sugerem que o impacto da COVID-19 no sistema respiratório pode abrir caminho para a ocorrência de infecções bacterianas potencialmente letais.
Tais infecções ocorrem porque a COVID-19 danifica as células que revestem as vias respiratórias e os pulmões, que geralmente são a primeira linha de defesa do corpo.
“Esta redução significa menos células imunitárias a actuar na zona da infecção viral, o que permite à bactéria iniciar outra infecção,” Hayley Muendlein, investigadora da Universidade de Tufts, escreveu recentemente no The Conversation.
Neste sentido, de acordo com os investigadores, a COVID-19 assemelha-se à pandemia global de gripe de 1918, bem como a epidemias de gripe mais recentes.
Em muitos casos, as bactérias, como as que causam pneumonia já se encontram presentes no sistema respiratório. Juntamente com fungos e outros agentes patogénicos, tais bactérias são combatidas pelas defesas do corpo, presentes no tracto respiratório, até ao aparecimento da COVID-19.
Nalguns casos, as infecções bacterianas ocorrem em simultâneo com a COVID-19, o que é apelidado de co-infecção pelos investigadores. É mais comum as infecções acontecerem depois de um paciente com COVID-19 ser internado e tratado no hospital — esta situação é apelidada de superinfecção.
Quando conjugadas com a COVID-19, as infecções bacterianas resultam num impacto mais severo da COVID-19 e piores resultados para o paciente do que se tivesse apenas COVID-19, segundo Charles Feldman, professor de pulmonologia na Universidade de Witwatersrand, na África do Sul.
Segundo Muendlein, para tratar os pacientes de forma adequada e gerir pandemias futuras, é crucial entender a interacção entre as bactérias e os vírus durante as infecções.
“A forma como as infecções virais e bacterianas interagem umas com as outras aumenta o potencial de danos por elas causados,” escreveu a investigadora no The Conversation.
Um estudo publicado em 2021 na revista PLOS One revela que 24% dos pacientes hospitalizados com COVID-19 tiveram uma infecção bacteriana. Quando comparados com pacientes que apenas tiveram COVID-19, os pacientes com infecções bacterianas ficaram hospitalizados o dobro do tempo e apresentaram uma probabilidade quatro vezes maior de precisarem de um ventilador. Além disso, a probabilidade de virem a morrer era três vezes maior.
Segundo os investigadores, em países como a África do Sul, com taxas elevadas de tuberculose, a interacção entre a tuberculose e a COVID-19 pode agravar o impacto da pandemia.
“Além dos pacientes com tuberculose activa ou latente serem mais susceptíveis, a progressão dos sintomas da infecção por COVID revelou-se mais rápida e mais intensa,” escreve Feldman num estudo publicado na revista Pneumonia.
Feldman e outros investigadores recomendam iniciar um tratamento com antibióticos assim que os pacientes de COVID-19 dêem entrada no hospital, por forma a contornar qualquer infecção bacteriana. Se os exames demonstrarem não existir qualquer infecção bacteriana, o tratamento deve ser interrompido, por forma a evitar contribuir para a resistência aos antibióticos, escreve Feldman.
Isso porque os antibióticos não tratam infecções virais como a COVID-19. Em caso de infecção dupla (bacteriana e viral), os antibióticos eliminam a vertente bacteriana e, desta forma, os médicos podem incidir no tratamento da vertente viral.
Feldman salienta que a solução para evitar infecções bacterianas durante uma infecção de COVID-19 é quase idêntica às recomendações para a prevenção da disseminação da própria COVID-19:
“… Distanciamento social com limitações no contacto entre as pessoas, uso de máscara e recomendações relativas à lavagem das mãos, assim como o isolamento dos casos de infecção e subsequente esterilização cuidada do seu ambiente.”