EQUIPA DA ADF
A Covid-19 levou Sikhulile Moyo numa volta de montanha russa em 2021.
O director zimbabwiano do laboratório, da Parceria Botswana-Harvard AIDS Institute, liderou a equipa que sequenciou e descobriu, em Novembro, a variante altamente infecciosa Ómicron.
Em poucas semanas, contudo, o orgulho sentido pela contribuição dele e dos seus colegas sul-africanos transformou-se em indignação e frustração, numa altura em que uma vasta lista de países impunham restrições de viagem à região.
Pouco depois, contraiu a COVID-19, o que levou a sintomas de COVID longa.
Quase um ano depois, numa entrevista à ADF, Moyo fez uma reflexão sobre o caminho percorrido.
“A resposta à identificação da variante Ómicron mostrou-nos o triunfo da ciência colaborativa e o fracasso da saúde pública global ou a falta de coerência na resposta, depois de muitos meses de pandemia”, afirmou.
Não levou muito tempo para os cientistas de todo o mundo sequenciarem as suas próprias amostras e descobrirem que a variante Ómicron já estava presente antes da descoberta de Moyo ser anunciada.
A origem da variante Ómicron continua desconhecida, mas os danos causados pelas proibições de viagem subsequentes deixaram marcas profundas. O cientista salienta o prejuízo económico a que assistiu na região, que tem vindo a recuperar-se devagar graças ao turismo e a outros sinais de normalidade.
“Quando olhamos para trás, para a forma como a Ómicron se tornou a variante preocupante mais dominante do mundo, percebe-se claramente que as proibições de viagem não faziam sentido, em contrapartida, prejudicaram tantas economias,” afirmou.
Quando testou positivo para a estirpe Ómicron, Moyo ficou em casa com sintomas fortes durante três dias.
Os sintomas de COVID longa que se seguiram permaneceram por três meses e implicaram alterações na sua medicação para diabetes, por forma a estabilizar os seus níveis de açúcar no sangue.
Em Maio de 2022, a revista Time reconheceu Moyo como uma das suas “100 figuras mais influentes de 2022.”
O Dr. John Nkengasong, antigo director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, escreveu sobre a descoberta de Moyo num artigo de 23 de Maio para a revista:
“Foi um momento de transformação e uma mudança de paradigma — para mim, este momento simbolizou que a excelência na ciência pode ter origem em África. A resposta internacional… fez-me reflectir no que a cooperação e a solidariedade globais devem ser quando se trata de lutar contra uma ameaça comum como a COVID-19.”
Hoje, Moyo está novamente orgulhoso.
A descoberta resultou naquilo que ele apelida de “despertar global” para a necessidade de cooperação científica.
“Embora não tenha sido fácil no início lidar com as reacções, olho para trás confiante de que a ciência e a transparência de dados salvam vidas,”, disse.
“Ironicamente, a reacção negativa do mundo voltou a reunir as pessoas em torno da saúde pública global, quando a pandemia nos lembrou que os vírus não conhecem fronteiras, especialmente numa era em que estamos tão conectados.”
O seu trabalho de investigação e sequenciamento de amostras virais no Botswana continua.
“Hoje falamos a mesma língua de preparação para enfrentar pandemias,” afirmou. “Estamos a preparar-nos para o Agente Patogénico X.”