EQUIPA DA ADF
Desde que a pandemia da COVID-19 começou, a pesquisa feita sobre o tratamento centrou-se, em linhas gerais, em abordar os piores cenários possíveis da doença: internamentos e mortes.
Agora os cientistas estão a centrar as suas atenções para os tratamentos medicinais de formas ligeiras da doença.
Os investigadores afirmam que fazer isso resolve várias coisas de uma só vez:
- Reduz os perturbadores cinco a 10 dias do período de quarentena para aqueles que contraem a COVID-19.
- Previne a propagação, interrompendo o vírus mais cedo quando as pessoas estão no seu momento mais contagioso.
- É relativamente não dispendioso, fazendo com que seja possível abordar a COVID-19 em países onde os tratamentos mais dispendiosos são difíceis de obter.
“Precisamos de certificar que reflectimos isso [estes factos] enquanto avançamos com ensaios clínicos neste espaço,” investigadora Susana Naggie, uma especialista em doenças contagiosas na Universidade de Duke, Estados Unidos, disse à revista Nature.
Interromper o contágio mais cedo também pode dar ao vírus poucas oportunidades de criar novas variantes. As estirpes mais recentes da COVID-19, as subvariantes BA.4 e BA.5 da variante Ómicron, demonstraram ser capazes de escapar do sistema imunológico para causar infecções generalizadas.
Cientistas afirmam que tratar a COVID-19 quando os sintomas são ligeiros também ajuda a combater um dos aspectos mais problemáticos do vírus: é impossível prever como o sistema imunológico de um individuo irá responder a infecções.
Para algumas pessoas, a COVID-19 produz poucos ou nenhum sintoma. Outros podem experimentar uma “tempestade de citocinas” esmagadora e potencialmente fatal quando o seu sistema imunológico começar a atacar o resto dos sistemas do seu organismo.
“A realidade é que toda a gente está em risco,” imunologista britânico, Marc Feldman, disse à Nature.
Feldman faz parte de uma equipa que está a desenvolver um composto conhecido como um aminoacúcar que tem o potencial para tratar de COVID-19 ligeira e acabar com as infecções antes de estas progredirem.
O tratamento depende do facto de que os vírus precisam de açúcar das suas células hospedeiras para completarem as proteínas spike que utilizam para destrancar as células humanas.
Os aminoaçúcares aparecem na natureza em plantas como amoras, mas também podem ser produzidos num laboratório. Como tratamento, os aminoaçúcares sedimentam as células hospedeiras com uma forma de açúcar que leva ao mau funcionamento das proteínas spike, interrompendo a capacidade de o vírus se reproduzir.
Os aminoaçúcares estão a passar pela revisão de segurança e podem chegar a um ensaio clínico dentro de dois anos, de acordo com o bioquímico da Universidade de Oxford, Raymond Dwek, que trabalha com eles.
Embora os aminoaçúcares demonstrem ser promissores para tratar a COVID-19 ligeira, eles são apenas o mais recente potencial tratamento a emergir. Vários outros estudos, incluindo o projecto ANTICOV de África, procuraram soluções para a COVID-19 ligeira, utilizando medicamentos já existentes.
O ANTICOV está a testar uma variedade de medicamentos já disponíveis, conhecidos e não dispendiosos para determinar se eles podem ser acrescentados ao arsenal da COVID-19.
Quando foi lançado, em Setembro de 2020, o projecto planificava alistar cerca de 3.000 sujeitos com formas ligeiras de COVID-19. Até agora, alcançou apenas metade desse número, de acordo com a sua página da internet.
Outros programas, como o ACTIV-6 e TOGETHER também estão à procura de tratamentos para a COVID-19 ligeira entre os fármacos já existentes.
Um medicamento que demonstra ser promissor é a fluvoxamina, que é utilizada para tratar a depressão. Os projectos ACTIV-6 e TOGETHER testaram a fluvoxamina no Brasil e concluíram que ela previne que a COVID-19 ligeira progrida para transformar-se em casos mais graves. A fluvoxamina tem a vantagem de custar cerca de 4 dólares por tratamento e não ter patente, o que significa que pode ser desenvolvida como um genérico não dispendioso.
Em Julho, a Organização Mundial de Saúde disse que a fluvoxamina não deve ser utilizada fora dos ensaios clínicos que já estão a decorrer, mas continua aberta para investigação, o que pode mudar este posicionamento.
A fluvoxamina pode tornar-se um substituto para anticorpos monoclonais dispendiosos como um tratamento para os sintomas iniciais da COVID-19. Também pode substituir o Paxlovid, que é prescrito para pessoas em alto risco por causa da idade ou problemas de saúde. O Paxlovid demonstrou causar uma “recaída” da COVID-19, casos em que o vírus retorna depois de os pacientes pensarem que já se recuperaram.