EQUIPA DA ADF
Com a rápida propagação das estirpes BA.4 e BA.5 da variante Ómicron pelo mundo, os cientistas concordam que esses vírus são mais contagiosos do que os seus predecessores. O que não está claro, contudo, é com que rapidez eles se podem reproduzir.
De acordo com uma equipa de especialistas australianos, a afirmação amplamente divulgada de que a BA.4 e a BA.5 se reproduzem tão rapidamente como o sarampo, a doença mais contagiosa do mundo, é incorrecta.
Esta afirmação utilizou um cálculo que era preciso no início da pandemia quando ninguém tinha imunidade contra o vírus, mas já não se aplica à mistura actual da evolução do vírus e a imunidade da população, o grupo dirigido por Freya Shearer, pesquisador sénior da Universidade de Melbourne, escreveu recentemente no The Conversation.
“Com o surgimento da BA.4/5, houve alguma confusão sobre como estes conceitos nos ajudam a compreender por que uma variante se propaga de forma mais rápida do que a outra,” escreveram os especialistas.
Os epidemiologistas medem o potencial de uma doença de propagar-se, determinando o seu número R0 (que se pronuncia “R-zero”), que é o número de pessoas a quem uma única pessoa infectada pode transmitir a doença. O cálculo aplica-se melhor para populações com pouca a nenhuma imunidade para uma doença emergente.
O vírus original da COVID-19 tinha um valor médio de R0 de cerca de 3. Isso significa que cada pessoa infectada com o vírus tinha o potencial de transmiti-lo a outras três pessoas.
Cada evolução subsequente do vírus da COVID-19, desde Alfa até a BA.5 da Ómicron, substituiu o seu predecessor, encontrando uma forma de propagar-se mais facilmente no seio da população. Mas isso não significa que o vírus tenha aumentado a sua taxa de reprodutividade.
“Uma variante pode ter uma vantagem de crescimento e não ser intrinsecamente mais contagiosa,” escreveu a equipa de pesquisadores australianos. “Na verdade, o R0 da variante A pode ser mais elevado, mais baixo ou o mesmo que o da variante B.”
Outros factores influenciam a capacidade de um vírus propagar-se entre as populações:
- O vírus pode ter um tempo de geração mais curto, significando que se torna passível de propagar-se de forma cada vez mais rápida do que as outras estirpes.
- Pode ter uma maior capacidade de transmissão devido às mudanças genéticas, como alterações nas proteínas spike que “destrancam” as células para possibilitar infecção.
- O vírus pode passar pela imunidade existente de uma pessoa — o que os cientistas chamam de “escape imunológico” — permitindo que a pandemia continue enquanto o vírus se espalha novamente no seio da população. Esse foi o caso da Ómicron.
“As variantes com níveis muito elevados de escape imunológico podem propagar-se rapidamente em populações altamente imunes, porque simplesmente existem mais pessoas na população que podem ficar infectadas,” escreveu a equipa australiana. “Mas isso não significa que elas sejam intrinsecamente mais contagiosas.”
A BA.4 e a BA.5 apresentam uma maior habilidade de escapar-se da imunidade criada, demonstrou uma pesquisa. Juntas, elas representam cerca de 40% de novos casos de COVID-19 em África, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
Graças ao escape imunológico, a BA.4 e a BA.5 causaram uma quinta vaga de infecções em Abril e Maio, na África do Sul, onde estudos demonstram que 98% da população possui um certo nível de imunidade à COVID-19. Aquelas estirpes também parecem estar a criar uma quinta vaga na Nigéria, de acordo com recentes relatórios.
Os especialistas de saúde pública promovem o uso da máscara, o distanciamento social e a higiene para interromper a propagação do vírus. Cada nova infecção constitui uma nova oportunidade para uma outra estirpe de COVID-19 que pode prolongar a pandemia.
“Até a esta altura, já compreendemos que subestimámos este vírus para o nosso próprio prejuízo,” Director-General da Organização Mundial de Saúde, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse durante uma conferência de imprensa pouco depois do aparecimento da Ómicron na África Austral, em finais de 2021.
Mas será que a BA.4 e a BA.5 estão a reproduzir-se mais rapidamente do que as estirpes interiores?
É difícil afirmar, de acordo com a equipa australiana.
“Com o surgimento de cada nova variante, a tarefa tornou-se mais difícil, uma vez que o histórico de infecção da população (se já foi infectado antes, quando e quantas vezes) faz com que a interpretação dos dados seja cada vez mais difícil,” escreveu a equipa. “E, por isso, agora é muito difícil estimar o R0 da BA.4/5”