EQUIPA DA ADF
A mais recente estirpe do vírus da COVID-19 deixa os cientistas preocupados com a velocidade com que ela se propaga e apelam a população para continuar a tomar precauções contra a infecção.
Conhecida com a alcunha “Centauro,” a nova estirpe foi identificada como BA.2.75, uma ramificação da versão BA.2 da variante Ómicron, que também deu origem às altamente contagiosas subvariantes BA.4 e BA.5, que, em conjunto, representam mais de 40% de casos em África, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças.
A estirpe Centauro foi inicialmente identificada na Índia, que foi a fonte da variante mortal Delta, que rapidamente chegou ao continente africano. Também apareceu na Europa, América do Norte e na Austrália.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a Centauro como uma “variante de interesse,” o que significa que continua em observação para se aferir o seu potencial de causar infecções em massa.
Não foi a OMS que atribuiu esta acunha à estirpe. Esta veio de um utilizador do Twitter que identificou a BA.2.75 em homenagem à galáxia Centauro. A escolha foi rapidamente aceite.
A OMS atribui nomes de variantes utilizando letras do alfabeto grego e identifica subvariantes como a BA.2.75 pelas suas designações científicas.
A Centauro foi identificada em Maio. Em certas regiões da índia, a estirpe Centauro estava a ser superada pela sua predecessora, BA.2, mas não estava a propagar-se em zonas onde a BA.5 era prevalecente. Dados das autoridades sanitárias de Mumbai revelam que as infecções pela Centauro, naquele ponto, atingiram o pico em meados de Junho e entraram em declínio pouco tempo depois.
De acordo com os investigadores, a estirpe Centauro apresenta muitas variações únicas para as proteínas spike que continuam inalteradas até agora. As proteínas spike são as chaves que o vírus utiliza para “destrancar” e infectar as células nas quais ele se reproduz.
As proteínas spike também são a principal forma através da qual o sistema imunológico identifica o vírus para combatê-lo. Quando o vírus altera as suas proteínas spike, ganha a capacidade de infectar pessoas que já tinham desenvolvido imunidade natural ou adquirida para estirpes anteriores.
Assim como com a BA.4 e a BA.5, quanto mais antiga for a imunidade de uma pessoa, maior é o risco de reinfecção. Qualquer nova infecção oferece ao vírus uma outra oportunidade de mudar, transformando-se numa forma mais potente.
“Isso pode levar ao reaparecimento mesmo num país como a África do Sul, embora não tenhamos ainda identificado um caso desta subvariante do vírus,” Dr. Shabir Madhi, director da faculdade de ciências de saúde, da Universidade de Witwatersrand, disse ao programa de rádio, Cape Talk, da África do Sul.
De acordo com algumas estimativas, 98% dos sul-africanos estiveram expostos à COVID-19 desde que a pandemia começou, no início de 2020, e, como resultado, possuem alguma imunidade.
Pesquisas feitas em países onde a Centauro está a propagar-se demonstram que a imunidade protege contra a infecção grave assim como faz com as outras subvariantes da Ómicron.
Quanto às outras versões da COVID-19, as pessoas sem nenhuma imunidade encontram-se em maior risco de doença grave ou morte. Pessoas com problemas de saúde como HIV, tuberculose, diabetes ou obesidade também correm um risco elevado de infecção grave se tiverem imunidade.
Tratamentos com mRNA ou medicamentos orais como o Paxlovid podem reforçar a imunidade e reduzir o risco de infecção grave.
Os investigadores afirmam que ainda estão a aprender sobre a BA.2.75. Os números de infecções a nível mundial são baixos, mas em crescimento, e os actuais níveis de testagem não são suficientes para saber se a estirpe irá tornar-se a próxima versão dominante da COVID-19, afirmam os cientistas.
“A preocupação quanto à BA.2.75 é que ela teve muitas mutações, o que pode indicar que esta variante pode evadir-se da imunidade,” Dr. Ben Krishna, um investigador em virologia e imunologia, da Universidade de Cambridge, escreveu recentemente no The Conversation.