EQUIPA DA ADF
As mulheres grávidas que são infectadas pela COVID-19 estão em muito maior perigo do que se suspeitava anteriormente, de acordo com um novo estudo que analisou dados de seis países africanos.
O estudo concluiu que o risco de as mulheres grávidas com SARS-CoV-2, o vírus que causa a COVID-19, ficarem internadas numa unidade de cuidados intensivos é duas vezes maior e o risco de morrer num hospital é quatro vezes maior em relação às mulheres grávidas sem COVID-19.
Dra. Nadia Sam-Agudu, que trabalha para o Instituto de Virologia Humana, da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, e para o Instituto de Virologia Humana da Nigéria, foi co-autora do estudo.
“Não ficámos surpreendidos pelas conclusões de que a COVID-19 estava associada a fracos resultados para mulheres grávidas que estavam internadas,” disse à ADF. “Dados disponíveis de fora de África e de experiências clínicas nos nossos ambientes já nos indicavam isso.
“O que foi surpreendente foi a taxa de mortalidade. Uma surpreendente taxa elevada de 10% de mulheres grávidas infectadas pelo SARS-CoV-2 morreram, em comparação com 5% de mulheres não grávidas infectadas pelo SARS-CoV e 2% de mulheres grávidas não infectadas.”
O estudo, publicado no dia 8 de Julho na revista Clinical Infectious Diseases, foi dirigido pelo Fórum Africano de Investigação e Educação em Colaborações de Investigação de Saúde sobre COVID-19 e Gravidez.
O mesmo analisou dados de 1.315 mulheres que foram internadas na República Democrática do Congo, Gana, Quénia, Nigéria, África do Sul e Uganda, incluindo 510 mulheres grávidas com COVID-19, 403 mulheres não grávidas com COVID-19 e 402 mulheres grávidas sem COVID-19.
Cerca de 32% de mulheres grávidas com COVID-19 necessitaram de terapia de oxigénio no hospital em comparação com 16% de mulheres grávidas sem COVID-19.
Cerca de 19% de mulheres grávidas com COVID-19 foram internadas na UCI em comparação com 6% de mulheres grávidas que não tinham COVID-19.
“A mortalidade materna já se encontra em níveis inaceitavelmente altos em muitos países africanos, devido a complicações de nascimento, incluindo hemorragia materna, infecções e hipertensão arterial e complicações relacionadas,” disse Sam-Agudu. “A maior parte da mortalidade em excesso causada por estas doenças está relacionada ao fraco acesso a, e disponibilidade de, prestação de cuidados clínicos de qualidade e intervenções médicas.
“Não nos podemos dar ao luxo de acrescentar a COVID-19 a estas doenças maternas.”
Mulheres com outros factores de risco como a diabetes, o HIV, um histórico de tuberculose ou anemia falciforme também se encontram em maior risco de COVID-19 grave.
Dr. Eduard Langenegger, especialista em medicina fetal materna, do Hospital de Tygerberg e da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, foi o principal investigador obstétrico do estudo.
“As mulheres grávidas no terceiro trimestre foram as mais gravemente afectadas do que as mulheres durante a fase inicial da gravidez quando desenvolveram pneumonia da COVID-19,” referiu num comunicado. “Isso se deve provavelmente ao impacto do útero e do crescimento do bebé sobre a função respiratória da mãe.”
No início da pandemia, o Hospital de Tygerberg criou uma unidade obstétrica de COVID-19 dedicada à gestão de mulheres grávidas com casos complicados de COVID-19.
“Aproximadamente um terço de mulheres internadas com pneumonia da COVID-19 tinham doenças que colocavam a vida em risco e precisavam de apoio respiratório e cuidados intensivos e, infelizmente, muitas delas morreram,” disse Langenegger.
“A COVID-19 também afecta o feto, e eles têm maior probabilidade de nascer de forma prematura e desenvolver outras complicações. Quando uma mãe fica instável, o seu feto pode desenvolver hipoxia [baixos níveis de oxigénio], o que pode resultar em danos cerebrais e morte intra-uterina.”
Sam-Agudu apelou as mulheres grávidas africanas para comparecerem sempre às consultas pré-natais para garantir que os profissionais de saúde prestem os cuidados necessários durante a gravidez, o parto e pós-parto.
Ela também recomenda as mulheres grávidas a continuarem a utilizar as máscaras N95 para protegerem a si próprias e os seus bebés bem como evitar grandes aglomerados e visitantes nas suas casas durante a gravidez.
“A pandemia ainda não acabou,” disse. “Embora a COVID-19 pareça não afectar tanto os países africanos, comparativamente aos países europeus e americanos, o nosso estudo demonstrou que as mulheres grávidas africanas que precisam de internamento têm a maior probabilidade de ter maus resultados.”