EQUIPA DA ADF
A palavra “entusiasmo” foi repetida muitas vezes durante o primeiro Simpósio Africano de Líderes da Infantaria Naval-África (NILSA-A) presencial, ocorrido em Dakar, Senegal. Para os líderes de segurança que dele participaram, reflecte um crescente consenso da necessidade de criar parcerias e investir nas infantarias navais, que são os “soldados que estão na linha da frente” das mais fortes lutas do continente contra o terrorismo, tráfico e pirataria nas suas zonas do litoral.
“Todos viemos aqui pelas mesmas razões, para defender a liberdade,” disse o Major-General Tracy King, o Comandante das Forças de Fuzileiros Navais dos EUA Europa e África. “Sinto entusiasmo nesta sala, de nós, os 30 países aqui reunidos … todos sentimos o valor de uma equipa como esta.”
Líderes navais de 22 países africanos e oito outros países reuniram-se para partilhar experiências e estratégias sobre como as infantarias navais do continente podem adaptar-se para enfrentar novas ameaças. O simpósio contou com apresentações sobre questões que variam desde combates em zonas ribeirinhas, tecnologia de fontes abertas até estratégias para ampliar o acesso à formação militar profissional.
O evento de dois dias terminou no dia 7 de Julho com a assinatura de uma carta, em que os participantes se comprometeram a aprofundar as parcerias criadas em Dakar e continuar a partilhar informação.
“Não existe nada vinculativo [na carta], mas é um ponto de partida com portas abertas, e nós temos de entrar por essas portas,” disse o Contra-Almirante Oumar Wade, Chefe do Estado-Maior da Marinha Senegalesa e co-organizador do evento.
Lições Aprendidas de Ambientes Exigentes
O conhecimento que esteve em exposição no simpósio não veio apenas de África, atravessou oceanos. O Capitão de Guerra e do Mar, André Guimarães, do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil, desenhou a imagem de uma realidade dura para o combate contra piratas e traficantes da região da Amazónia, onde o inimigo se esconde numa vegetação espessa. Lá, disse ele, as tropas enfrentam ameaças como cobras, malária, calor intenso e chuvas. “É impossível fazer qualquer coisa sozinho na Amazónia,” disse.
Acrescentou que os Fuzileiros Navais não podem depender do equipamento e devem confiar na sua formação. “Os aparelhos de comunicação não funcionam, não existem radares,” disse. “É tão importante certificar que os operadores possam tomar boas decisões.”
O Brasil desenvolveu o curso ribeirinho na Amazónia, do qual graduaram 3.000 fuzileiros. Guimarães disse que é necessário que haja treinos constantes para manter as habilidades no ponto, acrescentando que o curso brasileiro está aberto para fuzileiros de todo o mundo.
“Toda a tecnologia do mundo não significa nada se não tivermos fuzileiros na unidade prontos para serem líderes,” disse.
Os participantes destacaram o valor dos programas de treino e imersão para colocarem os marinheiros africanos e os fuzileiros navais em ambientes em que não estão familiarizados. Isso irá promover novas habilidades e interoperabilidade, desse o Contra-Almirante da Marinha Senegalesa reformado, Samba Fall, um convidado de honra no evento. “É importante que tenhamos programas de intercâmbio que permitem que as forças pratiquem exercícios noutros países e experimentem o ambiente e as ameaças que eles enfrentam,” disse Fall.
Adaptar-se às Diversas Ameaças
Numa altura em que as ameaças nas zonas do litoral se multiplicam nos últimos anos, os países estão a recorrer à infantaria naval. Estas unidades possuem diferentes nomes: No Senegal, elas são chamadas Comandos; no Gana, são o Esquadrão de Barco Especial, em Angola, são Fuzileiros. Foram concebidas para serem versáteis, capazes de proteger as infra-estruturas de energia ao largo da costa, perseguir traficantes nos pantanais dos mangais ou salvar reféns em terra.
São treinados para tarefas específicas como abordagem hostil de embarcações que não estejam a cooperar. Mas os participantes afirmam que devem estar preparados para o combate em terra.
Por exemplo, o Serviço Nigeriano de Barco Especial está envolvido em seis missões, desde a perseguição de militantes no Delta do Níger, até o combate à Província da África Ocidental do Estado Islâmico (ISWAP) em terrenos áridos do nordeste.
“Passamos a aceitar que o nosso papel não seja de ir apenas para ambientes marítimos, mas para qualquer lugar,” disse o Capitão Olayinka Aliu, comandante do Serviço de Barco Especial da Nigéria. “O nosso desenvolvimento, a nossa formação foi modelada para sermos capazes de operar no mar, em terrenos ribeirinhos e em terra.”
Esta diversidade de missões necessita de treinos regulares e troca de melhores práticas. No Gana, o Chefe do Estado-Maior da Marinha colocou ênfase particular no exercício de questões ligadas à capacidade de intervenção marítima, uma vez que o país enfrenta ataques de piratas no Golfo da Guiné. O Capitão-Tenente Seth Dzakpasu, Comandante do Esquadrão do Barco Especial da Marinha do Gana saiu do NILS-A com uma nova conexão regional e uma apreciação das ameaças que eles devem abordar juntos.
“A partir do debate, vemos claramente a natureza envolvente das ameaças do Golfo da Guiné e podemos falar com clareza com outras unidades de Infantaria Naval experientes que foram capazes de empregar certas habilidades para vencer os seus desafios,” disse.
Ele tem planos de trazer estas lições para o Gana e adaptar os treinos para o seu país. “Isso oferece-nos conhecimentos sobre que habilidades precisamos incluir na nossa planificação de modo a ter mais domínio de resistência do nosso espaço marítimo,” disse.