EQUIPA DA ADF
Os pescadores artesanais da África Oriental dependem de pepinos-do-mar para alimentação e rendimentos durante gerações.
Agora a espécie endurecida e com o formato de picles encontra-se sobreexplorada em muitas partes da região, incluindo Quénia, Madagáscar, Moçambique, Seicheles e Zanzibar. A espécie é cada vez mais contrabandeada para China e Hong Kong, onde é considerada uma iguaria e, muitas vezes, utilizada na medicina tradicional chinesa.
“O comércio ilegal de pepinos-do-mar é essencialmente resultado de operações de pesca ilegal nos países de origem; ou foram comercializados sob a declaração de outras espécies; ou não foram declarados e contrabandeados com outros bens,” de acordo com um relatório da organização não-governamental (ONG), TRAFFIC, que faz campanhas contra o comércio de produtos ilegais da fauna bravia.
O cenário implica uma perda de alimentos e rendimentos por parte dos pescadores locais, que arriscam as suas vidas, realizando mergulhos para retirar os pepinos-do-mar do fundo do oceano. Uma falta de supervisão e de transparência exacerba o problema.
Apenas seis dos 30 países africanos com recursos de pepinos-do-mar registaram os totais das suas exportações na passada década, de acordo com a TRAFFIC.
Em 2003, o Quénia baniu o uso de equipamentos de mergulho na pesca de pepinos-do-mar, mas a proibição raramente foi cumprida. Em 2006, a Tanzânia baniu o comércio de pepinos-do-mar no seu território, mas este continua a decorrer nas regiões próximas de Zanzibar, comunicou a TRAFFIC.
O comércio de pepinos-do-mar de África para Hong Kong disparou de 2012 a 2018, quando 3,8 milhões de quilogramas chegaram ao território chinês, onde os clientes pagam preços muito mais elevados do que em África, de acordo com a ENACT, que está afiliada ao Internacional para Estudos de Segurança em África e à Interpol.
Em Zanzibar, por exemplo, um quilograma de pepinos-do-mar custa entre 9 e 40 dólares, enquanto 1 quilograma na China ou Hong Kong pode ser vendido a até 3.000 dólares.
Até 2021, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura reportou que a população de pepinos-do-mar em 12 dos 30 países de África e na região do Oceano Índico “[parece] estar sobreexplorada ou totalmente explorada.”
Muitas vezes, descritos como “os aspiradores do oceano,” os pepinos-do-mar consomem plantas mortas e matéria animal depois excretam areia mais limpa e mais
. A sua sobreexploração pode resultar num enfraquecimento dos ecossistemas, uma vez que eles são cruciais para a saúde das algas marinhas e dos corais, que ajudam a sustentar as outras espécies marinhas.
“Um pepino-do-mar é quase que semelhante a um ecossistema em movimentação por si,”
, zoólogo e investigador associado do Museu Nacional de História Natural Smithsonian, disse ao National Geografic.
Talvez por causa do declínio da população
de pepinos-do-mar, o comércio legal registado de pepinos-do-mar de África para a Ásia diminuiu gradualmente ao longo dos anos, principalmente devido ao declínio na espécie exportada do Madagáscar, de acordo com a TRAFFIC.
Mesmo assim, comunicou a organização, a demanda “continua a ser elevada, visto que o número de países envolvidos no comércio continua a crescer e como as espécies de pepinos-do-mar comercialmente capturadas estão a ser sobreexploradas, espécies de valor inferior estão a ser capturadas para sustentar a demanda.”
Para reduzir o comércio ilegal de pepinos-do-mar, a TRAFFIC fez várias recomendações, incluindo:
* A Tanzânia e o Zanzibar devem ter uma estrutura legislativa consistente para que
o comércio ilegal proveniente da Tanzânia não seja disfarçado como comércio legal proveniente do Zanzibar.
* As ONGs de países exportadores emergentes, como Moçambique, devem explorar a possibilidade de aquacultura para reduzir a pressão sobre populações selvagens e apoiar os meios de subsistência locais.
* Consciencializar os agentes de fiscalização da lei e as agências alfandegárias, através da capacitação e partilha de informação, para melhorar a comunicação de exportação de pepinos-do-mar.