EQUIPA DA ADF
Cidadãos camaroneses estão a rejeitar aquilo que afirmam ser promessas falsas de um ganho económico inesperado proveniente de investidores chineses.
Várias centenas de pessoas na pequena cidade costeira de Lolabé protestaram, no dia 23 de Maio, contra um acordo do governo recentemente anunciado que concede direitos de mineração de ferro à subsidiária de uma empresa estatal chinesa chamada Sinosteel.
A manifestação trouxe controvérsia e um novo escrutínio ao acordo, visto que os residentes locais dizem que estes contratos fazem pouco para ajudar a comunidade e podiam ser adjudicados a empresas camaronesas.
“Financeiramente, este é um crime económico, uma verdadeira incitação à revolta, um truque de máfia,” político Jean Michel Nitcheu disse num comunicado emitido dias depois de o acordo ter sido assinado, no dia 6 de Maio.
O contrato concede à Sinosteel CAM, S.A. um direito de exploração de 50 anos na mina, que se afirma possuir 632,8 milhões de toneladas métricas de minério de ferro de alta qualidade.
A Sinosteel concordou em pagar 3,69 dólares por tonelada métrica aos Camarões com planos de extrair 10 milhões de toneladas métricas de minério de ferro por ano. Contudo, a Sinosteel também tem planos para enriquecer o minério de ferro, de 33% de ferro para 60%, o que melhora drasticamente o seu valor de mercado para aproximadamente 2.400 dólares por tonelada métrica.
A margem de lucro fez com que Michel Nitcheu exigisse um inquérito parlamentar.
“Não podemos aceitar que um grupo de pessoas desrespeitosas sacrifique futuras gerações,” disse. “Uma empresa estrangeira não pode conquistar a maior fatia de um contrato mineiro, investindo apenas [676 milhões de dólares] num projecto mineiro com mais de 63 anos, cujos rendimentos chegarão a [96,3 bilhões de dólares].
“Mesmo nos dias da escravatura, tal fraude nunca teria prosperado. Este é, sem dúvidas, o roubo do século.”
Cabral Libii, deputado e antigo candidato presidencial, disse que organizou o protesto em Lolabé por causa da revolta relacionada com os pormenores financeiros do contrato mineiro.
De acordo com os termos, a Sinosteel irá investir 676 milhões de dólares nos Camarões como parte do projecto mineiro, com planos para a construção de um mineroduto para o transporte do minério de ferro para o porto, um terminal de minérios, uma fábrica de processamento para o enriquecimento e uma central eléctrica.
“Independentemente do investimento que fizerem nos Camarões, a sua lucratividade continua enorme,” disse Libii num vídeo publicado no Facebook, no dia 17 de Maio. “Imagine com um depósito como estes, o que os Camarões seriam capazes de produzir por ano. Simplesmente não é aceitável.”
A Sinosteel não disse quando a mineração irá iniciar, mas, de acordo com a lei camaronesa, a empresa deve iniciar as actividades no prazo de cinco anos depois da obtenção da licença.
O Ministro das Minas dos Camarões, Dodo Ndoke Gabriel, disse que o projecto irá criar pelo menos 600 postos de trabalho directos e 1.000 postos de trabalho indirectos.
A mina, localizada próximo da cidade costeira de Lobé, encontra-se na região sul, 40 quilómetros a sul da cidade portuária de Kirbi e 200 quilómetros a sul da capital económica daquele país, Duala.
Nenhuma das cidades possui um porto de águas profundas, mas firmas estatais chinesas possuem um projecto extensivo a caminho para contruir o maior porto marítimo da África Central, próximo de Lolabé.
A empresa estatal China Harbour Engineering Corp., conhecida a nível local como CHEC, irá fazer a supervisão da construção do porto.
A primeira e a segunda fases do novo complexo portuário custarão 1,3 bilhões de dólares. A CHEC também está a construir uma auto-estrada avaliada em 453 milhões de dólares que liga o porto, possui um contrato para a dragagem do porto de Duala e assinou um contrato para construir uma linha férrea até ao depósito de minério de ferro de Mbalam, no interior da região sudeste do país.
Desde que o contrato de 2009 para a construção do porto foi assinado, 10 firmas chinesas, incluindo a CHEC, conseguiram concessões mineiras para exploração de minério de ferro, bauxite e outros minerais.
Assim como a Sinosteel, a CHEC prometeu um relançamento económico na região. Mas a frustração aumenta à medida que os residentes locais continuam a sentir-se deixados para trás.
O economista Fred Duven, membro do grupo da sociedade civil camaronesa, Dynamique Citoyenne, disse que a população está chateada com o governo por ter dado licenças de mineração a firmas chinesas enquanto camaroneses qualificados estão prontos para desenvolver o seu país.
“As empresas chinesas vêm para cá com a sua mão-de-obra — não ajudam a comunidade,” disse à Voz da América. “Camaroneses que são dignos e ricos podem desfrutar do negócio da exploração e podem criar mais postos de trabalho do que os postos de trabalho directos que a convenção procura dar a conhecer, que dependem de caprichos de empresas chinesas.”
Pescadores que não aceitaram sair de Lolabé para uma cidade construída especialmente pela CHEC estavam entre os que se juntaram ao recente protesto organizado por Libii.
No fim do seu vídeo, Libii juntou as mãos em oração enquanto exortava o presidente dos Camarões, Paul Biya, “Não assine esta licença,” e apelou que houvesse mais manifestações.
“Povo de Camarões,” disse, “levantemo-nos contra aquilo que o Ministro das Minas assinou. É um acto criminoso.”