EQUIPA DA ADF
Meses depois de a junta que governa o Mali convidar o Grupo Wagner da Rússia ao país, mais de 450 pessoas morreram em acções militares levadas a cabo pelas Forças Armadas Malianas (FAMa), em parceria com os mercenários do Grupo Wagner, de acordo com relatórios das Nações Unidas e de outros organismos.
“As Forças Armadas Malianas, apoiadas em algumas ocasiões por elementos de exércitos estrangeiros, aumentaram as operações militares para combater o terrorismo … algumas das quais terminaram numa série de alegadas violações de direitos humanos,” a missão da ONU no Mali, conhecida como MINUSMA, disse num relatório.
A experiência do Mali está a ser repetida noutros países: onde quer que o Grupo Wagner se estabeleça, violência e morte seguem-no. “Eles alimentam-se da desgraça da população e prosperam com as crises político-militares, em todo o mundo,” escreveu recentemente a equipa do Corbeau News Centrafrique, da República Centro-Africana, falando sobre o Grupo Wagner. “Ao invés de construírem um exército republicano e soberano ao serviço da pátria, as FACA (Forças Armadas Centro-Africanas) têm a permissão de comprometer e ‘treinar’ com os famosos ‘parceiros.’”
Como parte destes acordos com os governos, o Grupo Wagner, por vezes, é financiado por contratos mineiros concedidos a empresas afiliadas também controladas pelo chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, um aliado próximo do presidente russo, Vladimir Putin. A venda de recursos como ouro e petróleo posteriormente flui para o Grupo Wagner como pagamento pelo seu envolvimento.
Para além do Mali e da RCA, os mercenários do Grupo Wagner têm espaço na Líbia, onde lutaram ao lado do General Khalifa Haftar. Eles já operaram no Sudão e, por curto tempo, em Moçambique, até que foram obrigados a sair.
Na Líbia, as forças do Grupo Wagner encheram zonas de civis no sul de Trípoli com minas terrestres do tipo armadilhas, incluindo algumas ligadas a brinquedos para crianças, depois de terem sido derrotados durante um assalto fracassado contra Trípoli em 2020.
As Nações Unidas estimam que o Grupo Wagner possua mais de 2.100 mercenários na RCA, onde foram acusados de rapto, tortura e execuções sumárias de suspeitos oponentes do governo.
As forças do Grupo Wagner também colocaram minas em estradas e plantaram bombas próximo de escolas. Civis disseram ao Pass Blue, um site que produz reportagens sobre as Nações Unidas, que os mercenários do Grupo Wagner confiscam smartphones quando entram numa comunidade, como forma de impedir que os residentes documentem as suas atrocidades.
“Existem provas convincentes de que forças identificadas como sendo russas, que apoiam o governo da República Centro-Africana, cometeram graves abusos contra civis com total impunidade,” Ida Sawyer, directora de crises e conflitos, na Human Rights Watch, disse num relatório da organização.
As forças do Grupo Wagner, trazidas para treinar o exército maliano, alegadamente dirigiu uma campanha em Março, em Moura, que causou a morte de 300 pessoas, incluindo cerca de 100 pessoas desarmadas, sob suspeitas de serem rebeldes, de acordo com um relatório da HRW.
Testemunhas que sobreviveram ao ataque, no mercado de Moura, disseram à Reuters que um grupo de homens de raça branca, falantes da língua russa, chegaram de helicópteros juntamente com as forças do Mali e foram os primeiros a abrir fogo contra civis que fugiam. As forças permaneceram em Moura durante quatro dias a interrogar e a executar residentes. Mais tarde, a Rússia bloqueou uma tentativa da ONU de investigar as mortes.
Como resultado da violência do Grupo Wagner, para se protegerem, os civis no Mali estão a recorrer aos mesmos grupos extremistas que o exército maliano pretende combater.
Um residente de Gossi disse ao Le Figaro da França: “Na verdade, tememos muito mais o Grupo Wagner do que os terroristas. Os terroristas nunca vieram para destruir um mercado.”