EQUIPA DA ADF
Por muitos anos, especialistas em segurança alertaram que a violência extrema que assola o Sahel inevitavelmente iria propagar-se para o sul, em direcção à costa.
Quatro países ao longo do Golfo da Guiné, nomeadamente Beni, Costa do Marfim, Gana e Togo, responderam colaborando na segurança regional e movimentando algumas das suas forças de defesa para o norte, próximo da fronteira com Burkina Faso e Mali.
Um após o outro, contudo, os países costeiros estão a ver os seus receios tornarem-se realidade.
Em 2021, houve 13 ataques de militantes islamitas na Costa do Marfim, cinco no Benin e um em Togo, de acordo com dados do Projecto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Evento (ACLED). Em 2019, não houve ataques de militantes nesses países.
“Parece que os jihadistas têm como objectivo chegar até ao mar,” Brigadeiro-General das Forças Armadas Ganesas, Felicia Twum-Barima, disse à imprensa durante o exercício militar anual dirigido pelos Estados Unidos, Flintlock, que teve lugar na Costa do Marfim, em Fevereiro de 2022.
“Não estou surpreendida de que estejam aqui, mas a velocidade é alarmante.”
Este ano, o Togo foi acrescido à lista em expansão de países atingidos pela violência extremista.
Muito cedo de manhã, no dia 11 de Maio, dezenas de terroristas com armamento pesado, fazendo-se transportar em motorizadas, atacaram um posto militar na prefeitura de Kpendjal, no norte de Togo, a poucos quilómetros da fronteira com o Burkina Faso. Mataram oito soldados e feriram 13.
O ataque incluiu uma emboscada coordenada ao reforço do exército depois de a sua coluna ter sido atingida por um dispositivo explosivo improvisado (DEI) na estrada em direcção ao posto militar.
Não se tratou do primeiro ataque de militantes islamitas na história do Togo. Este ocorreu em Novembro de 2021. Mas o ataque de Maio foi o primeiro ataque terrorista mortal em solo togolês.
Em Novembro, as autoridades togolesas disseram que militantes armados atravessaram a fronteira desde o Burkina Faso até à prefeitura de Kpendjal e foram repelidos.
“A ameaça terrorista é real e a pressão é muito forte,” presidente togolês, Faure Gnassingbé, disse durante uma recente viagem ao norte. “Sentimos a violência a aumentar um pouco a cada dia.”
Depois do ataque de Maio, uma das maiores bases de dados de grupos terroristas do mundo, o Consórcio de Pesquisa e Análise Terrorista, disse que provavelmente tenha sido perpetrado por Jamaá Nusrat al-Islam wa al-Muslimin (JNIM), um afiliado saheliano ligado à al-Qaeda.
“A pergunta é por que estes ataques começaram e o que é que eles implicam para a paz e segurança da região,” analista de segurança, Folahanmi Aina, escreveu para o The Conversation Africa.
“Tendo feito uma monitoria próxima do conflito e das dinâmicas de segurança na África Ocidental por mais de uma década, estou convencido de que os ataques têm a ver com a necessidade de as organizações extremistas violentas estabelecerem uma presença no Togo, como parte de um impulso mais amplo de recrutamento.”
O vizinho do Togo a leste, o Benin, experimentou o aumento de ataques próximo da sua fronteira com o Burkina Faso. Em Abril, cinco soldados foram mortos quando a sua coluna foi atingida por um DEI.
Em Fevereiro, uma patrulha organizada pelo grupo de conservação sem fins lucrativos, African Parks, foi atingida por uma série de DEIs, causando a morte de cinco fiscais de parque, um oficial, um soldado e um formador francês e deixando outros 10 feridos. Dois dias depois, um outro DEI atingiu uma equipa de comandos do exército do Benin, causando a morte de um.
A Costa do Marfim teve pelo menos 17 incidentes, incluindo fortes batalhas com recurso a armas e bombas nas bermas das estradas, no norte, ligados ao JNIM, de acordo com o ACLED. O governo respondeu movimentando um grande número de tropas para aquele ponto.
As autoridades ganesas afirmam que não registaram quaisquer incidentes no seu território. Contudo, os ataques ocorreram a poucos quilómetros a norte, do outro lado da fronteira com o Burkina Faso.
O ataque de Maio em Togo colocou o Gana em grande alerta.
“Não podemos sentar e cruzar os braços, pensando que tudo está bem. Nem tudo está bem e precisamos de estar preparados. Precisamos de ser vigilantes,” Vice-Ministro da Defesa, Kofi Amankwa-Manu, disse à JoyNews TV. “Falar de Togo, Benin, Nigéria, Burkina Faso, Mali e Níger — todos eles experimentaram o comprimido amargo destes extremistas. Nós somos o único país que ainda está em pé.
“Quando se olha para o movimento direccionado para o sul destes agrupamentos, claramente, uma coisa é óbvia — estão à procura de um país costeiro.”