EQUIPA DA ADF
Uma filmagem de vídeo de um smartphone mostra um gestor de minas chinês a chicotear dois empregados ruandeses na zona da cabeça, com recurso a um pedaço de corda, enquanto eles estavam sentados com as suas mãos amarradas nas costas, viralizou em Agosto de 2021.
O vídeo foi um escândalo. Pessoas revoltadas seguiram com muita atenção o julgamento que resultou em consequência disso e a recente história de abusos perpetrados por nacionais chineses em todo o continente esteve a ser analisada atentamente.
Um tribunal ruandês concluiu que Sun Shujun é culpado de tortura e o sentenciou a 20 anos de prisão, no dia 20 de Abril de 2022. Sun tinha acusado os dois homens de terem roubado minerais na sua empresa, Ali Group Holdings.
“Está claro que [Sun] torturou as vítimas e infringiu castigos corporais com intenção maliciosa,” disse o juiz Jacques Kanyarukiga, de acordo com relatos locais. “Este é um crime grave.”
Este caso de grande visibilidade causou uma rara repreensão pública por parte do governo chinês.
“A embaixada chinesa exige que as empresas e os cidadãos chineses em Ruanda respeitem as leis e os regulamentos locais,” lê-se num comunicado emitido pela embaixada em Kigali. “Quaisquer suspeitas de comportamento ilegal descobertas devem ser denunciadas à polícia a tempo, em vez de se lidar com elas de forma ilegal com suas próprias mãos.”
Especialistas observaram a importância de o tribunal ruandês ter tomado uma posição.
“É um precedente no contexto daquilo que significa para os trabalhadores africanos e para o espaço judicial, não apenas para os países africanos, mas também levanta a questão para a União Africana,” disse Sanusha Naidu, directora de pesquisa do Programa China em África, na organização sem fins lucrativos de justiça social, sediada em Quénia, Fahamu, durante um debate ao vivo no Twitter, no dia 21 de Abril.
“Elas [as empresas chinesas] devem compreender que esta não é mais a África do passado.”
Embora o incidente tenha evocado revolta no continente, foi apenas um exemplo de um padrão de abusos de que os cidadãos chineses têm sido acusados em África.
Um relatório de 2021 do Centro de Informação sobre Empresas e Direitos Humanos encontrou 181 acusações de violações de direitos humanos ligadas a investimentos chineses em África, entre 2013 e 2020. O relatório alistou 679 alegações ligadas a empresas chinesas a nível internacional.
O maior número de incidentes ocorreu na República Democrática do Congo, Quénia, Uganda e Zimbabwe, onde outros piores e mais publicitados abusos acorreram.
O proprietário da mineradora de carvão chinesa, Zhang Xuen, disparou e feriu gravemente dois trabalhadores zimbabweanos depois de uma discussão sobre o seu pagamento na cidade de Gweru, em 2020.
Zhang foi acusado de tentativa de assassinato e aguarda julgamento.
A embaixada chinesa em Harare disse que estava “muito preocupada,” mas insistiu que o caso é “um incidente isolado.”
Shamiso Mtisi, director-adjunto da Associação de Leis Ambientais do Zimbabwe (ZELA), discordou da caracterização da embaixada.
“A ZELA tem conhecimento de vários casos de abuso perpetrado contra trabalhadores zimbabweanos por funcionários chineses e isso acontece de forma regular em algumas empresas de mineração chinesas,” disse à Voz da América. “Penso que o problema é que eles se consideram superiores.”