EQUIPA DA ADF
Até ao dia 5 de Abril, mais de 251.300 africanos morreram de COVID-19, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC).
Mas as estatísticas da morgue da cidade capital da Zâmbia, Lusaca, demonstraram que aproximadamente um terço dos mais de 1.000 corpos, em 2020 e 2021, estavam infectados com a COVID-19, noticiou a revista Nature. Especialistas em matéria de saúde afirmam que estas estatísticas sugerem que os efeitos da pandemia em todo o continente são mais elevados do que aquilo que os números oficiais indicam.
A falta de testes e os sistemas de saúde sobrecarregados são citados como as razões pelas quais o verdadeiro impacto da COVID-19 em África é subnotificado. Christopher Gill, um especialista em matéria de saúde pública global, da Universidade de Boston, Massachusetts, que foi co-autor do estudo da morgue de Lusaca, disse que é errado ignorar os verdadeiros efeitos da pandemia.
“As pessoas estavam doentes,” Gill, que perdeu um colega na Zâmbia que trabalhava no projecto, disse à Nature. “As suas famílias ficaram destruídas.”
A noção de que a taxa de mortalidade por COVID-19 de África é mais elevada do que o registado “não é hipotética para mim,” acrescentou Gill.
De acordo com o estudo feito pela equipa de Gill, 32% dos corpos testados em Lusaca testaram positivo para a COVID-19 enquanto estavam vivos e a maioria nunca sequer tinha sido testada; 80% dos que foram testados nunca foram tratados num hospital, sendo a maioria proveniente de bairros mais pobres da cidade.
“Estamos numa população que já está afectada e pouco saudável e depois – bum! Entra a COVID,” disse Gill à revista Nature.
Até ao dia 4 de Abril, pouco menos de 4.000 pessoas da Zâmbia tinham alegadamente morrido de COVID-19, de acordo com o Africa CDC. Contudo, o número de “mortes em excesso” — mortes além daquilo que é esperado — na Zâmbia, desde Janeiro de 2020 até aos finais de 2021 excedeu 80.000, de acordo com uma reportagem da revista Nature.
Um estudo de 2021, realizado na África do Sul, indicou que o verdadeiro efeito da COVID-19 naquele país também foi subnotificado. O estudo concluiu que apenas 4% a 6% de infecções por COVID-19 em duas comunidades eram registadas.
Cheryl Cohen, co-autora do estudo da África do Sul e epidemiologista da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo, disse à revista Nature que muitas pessoas que contraíram a COVID-19 naquelas comunidades eram assintomáticas e que muitas pessoas com sintomas não tinham a possibilidade de ser testadas.
Um estudo do Banco Mundial, publicado em Fevereiro, demonstrou que houve cerca de 28.000 mortes em acesso no Quénia desde que a pandemia começou. Contudo, o Africa CDC registou pouco menos de 5.700 mortes, no Quénia, devido à COVID-19 até ao dia 4 de Abril.
“Dadas as deficiências de dados em muitos países de baixa e média renda vale a pena olhar para fontes alternativas de dados para obter uma ideia sobre o âmbito e a dinâmica da pandemia,” afirma o estudo do Banco Mundial.
A nível mundial, mais de 6 milhões de pessoas morreram devido à COVID-19, de acordo com os registos oficiais. Mas, um estudo publicado no dia 10 de Março pelo jornal de medicina, The Lancet, sugere que o número real é até três vezes superior.
“Podemos dizer com confiança que a pandemia matou um número extra de 18,2 milhões de pessoas,” Dr. Chris Murray, director do Instituto de Métricas de Saúde, da Universidade de Washington, e co-autor do documento, disse à revista Times.