EQUIPA DA ADF
Quando a pandemia da COVID-19 assolou África, os especialistas em saúde pública do continente viram a sua resposta ser prejudicada pela falta de condições básicas como equipamento de protecção individual, unidades de cuidados intensivos e fornecimentos de oxigénio médico.
Embora África tenha saído da pandemia com menos números de casos e de mortes do que as outras regiões, agora é o tempo de tomar as lições aprendidas nos passados dois anos e utilizá-las para se preparar para o futuro, disse o Dr. Christian Happi, director do Centro Africano de Excelência em Genómica de Doenças Infecciosas da Nigéria.
“O futuro de África está intrinsecamente relacionado com a sua segurança sanitária,” disse Happi durante um webinar patrocinado pela Brookings Institution. Happi e outros participantes do webinar da Brookings são autores do relatório “Foresight Africa 2022” da Brookings.
“Precisamos de nos preparar hoje como se a próxima [pandemia] fosse amanhã,” acrescentou Happi. “Isso precisa de estar na linha de prioridade.”
Happi, cujo laboratório foi o primeiro em África a identificar o vírus da COVID-19, faz parte de um conjunto de cientistas e especialistas em matéria de saúde pública que apela aos países do continente a investir mais na saúde pública, em parte, acrescentando os investimentos na formação de cientistas e no desenvolvimento de instalações de pesquisa.
“Precisamos de aumentar a nossa capacidade de pensar e aumentar as nossas ambições à escala dos desafios que enfrentamos,” disse o Dr. Chikwe Ihekweazu, director do novo Centro de Inteligência sobre Pandemias e Epidemias, da Organização Mundial de Saúde (OMS), sediado na Alemanha.
O Dr. John Nkengasong, director do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças, disse que África precisa de triplicar o seu número de epidemiologistas para 6.000 somente para satisfazer a demanda da população actual.
O surgimento da COVID-19 no continente deixou os países a lutar para conseguirem equipamento para proteger os profissionais de saúde e para tratar os pacientes. Os países foram obrigados a competir no mercado global por EPIs e outros materiais — itens que já deviam ter de antemão, disse Muhammad Ali Pate, antigo ministro da saúde da Nigéria.
“Tivemos de importar máscaras do estrangeiro quando a COVID-19 iniciou,” disse Pate num tom de frustração. “Nós cultivamos algodão aqui.”
Com 25% do fardo da doença a nível global e apenas 3% dos profissionais de saúde, África depende em grande medida de doadores internacionais e de apoio de fora para gerir os seus sistemas de saúde, observou Pate.
“E, como consequência, isso permite que os líderes do continente escapem da responsabilidade que eles têm de investir nos seus sistemas de saúde em primeiro lugar,” disse Pate.
A pandemia da COVID-19 mostrou como o sistema deixa os países africanos vulneráveis a emergências de saúde, disse Happi. Os países precisam de gastar mais dinheiro no ensino de ciência e tecnologia e na pesquisa e desenvolvimento, acrescentou.
A Comissão Económica para África (ECA) está a trabalhar com o Quénia e o Senegal para criar a capacidade de produção de mais medicamentos no continente, disse Stephen Karingi, director da Divisão de Integração Regional e Comércio da ECA.
África importa 94% dos seus fármacos e 90% dos seus materiais médicos do estrangeiro. A maior parte da produção de medicamentos do continente refere-se ao empacotamento de fármacos importados.
A pandemia começou a mudar essa dinâmica quando as empresas de produção de medicamentos africanas assinaram acordos com produtores de fármacos europeus e norte-americanos para produzirem certos medicamentos desde o início até ao fim no continente.
A pandemia demonstrou que os investigadores da área de saúde pública de África podem ter um desempenho a nível global, disse Happi. O laboratório de Happi identificou uma das variantes Eta da COVID-19. As variantes Beta e Ómicron foram identificadas em laboratórios sul-africanos.
Sempre que os cientistas africanos foram desafiados e receberam os recursos, eles superaram as espectativas, disse Happi.
“Precisamos de começar a pensar como pessoas que querem assumir o seu destino em suas mãos e posteriormente correr com ele,” acrescentou.