Abusos Excessivos Ligados ao Projecto de Estradas em Lesoto
EQUIPA DA ADF
Quando Thomas Thabane, o então primeiro-ministro do Lesoto foi pioneiro num proeminente projecto de construção de estradas financiado pelos chineses em 2018, ele declarou que o objectivo do governo era de desenvolver o país e libertar o povo do Lesotho da pobreza.
“Foi um sonho antigo ver esta rota ser transformada de terra batida para uma estrada asfaltada,” disse.
Para alguns, o projecto não passou de um curto pesadelo.
Uma recente investigação feita pelo Centro de Jornalismo Investigativo MNN, em Lesotho, descobriu abusos generalizados na empresa de construção multinacional chinesa Qingjing (CNQC), que trabalhava no pequeno país montanhoso cercado de terra dentro da África do Sul.
Os funcionários do Lesotho queixavam-se de persistente exploração sexual, de mão de obre e no local de trabalho, como mortes injustas, ferimentos, falta de supervisão e cobertura coordenada.
Quase todas as mulheres que procuravam defender os seus direitos foram despedidas do serviço, enquanto o grupo Qingjing rapidamente enviava os suspeitos de volta para China como parte de um plano elaborado para proteger os nacionais chineses de possíveis processos, comunicou MNN no dia 10 de Fevereiro.
A um custo de 128 milhões de dólares, que inclui um empréstimo de concessão avaliado em 100 milhões de dólares, concedido pelo governo chinês, a CNQC está a pavimentar um troço de 91 km que liga a aldeia de Qacha’s Nek ao Parque Nacional de Sehlabathebe, onde se encontra o único local daquele país considerado património histórico mundial.
A estrada de duas faixas irá encurtar o tempo de condução entre as duas cidades de 4 para cerca de 1 hora e meia e espera-se que impulsione o negócio e o turismo. Estava prevista para conclusão em 2021, mas sofreu um atraso de oito meses devido à COVID-19, uma greve de trabalhadores e disputas de pagamento entre a CNQC e os contratados.
A CNQC que foi designada para o projecto pelo Banco de Exportação e Importação (Exim) da China, administrado pelo Estado, afirma ter criado empregos para mais de 500 pessoas do povo de Lesotho. As mulheres locais trabalharam nas estradas como sinalizadoras do tráfico, na limpeza e como cozinheiras.
Algumas mulheres não casadas são mantidas nos acampamentos dos projectos chineses contra a sua vontade, comunicou o MNN.
Lisemelo Moreki, de 20 anos de idade, acusou um supervisor chinês de segurar nela sem a sua permissão, entre frequentes ofertas e propostas de natureza sexual. Ela denunciou-o ao chefe de recursos humanos.
“Eu vivia com medo quando estava a trabalhar com os chineses,” ela disse ao MNN. “Algumas vezes, eu fugia para ir dormir na aldeia por ter medo de ser abusada à noite.
“Ele, [o supervisor] ficou cheio de irá quando foi confrontado por um outro [oficial] chinês sobre a sua conduta para comigo. Em retaliação, ele começou a castigar-me. Às vezes, eu era instruída para varrer a neve ao redor enquanto ainda estava a nevar e fazia muito frio. Por último, ele me dispensou, afirmando que eu tinha desafiado as suas instruções.”
Um órgão de defesa dos trabalhadores, no distrito de Qacha’s Nek, deverá ouvir os casos de despedimentos injustos feitos pela CNQC, em Fevereiro de 2023.
Também de grande interesse para o governo do Lesoto são os prazos dos empréstimos predadores que são uma marca dos projectos da Iniciativa do Cinturão e Rota da China, em África.
A imprensa do Lesoto comunicou que o antigo Primeiro-Ministro, Pakalitha Mosisili, que vive no distrito de Qacha’s Nek, obrigou o Ministro das Finanças a assinar um contrato de empréstimo com o Exim Bank da China.
Na folha dos prazos encontra-se uma cláusula controversa que iria permitir que a China se apoderasse de propriedades do Lesoto, incluindo equipamento militar, se o país não conseguir pagar a sua dívida. As autoridades governamentais estão a procurar declarar o contrato ilegal.
Embora o reino do Lesoto tenha uma história de comércio com a China que remonta desde 1778, as relações hoje estão cheias de alegações, investigações e processos judiciais.
Mahlomola Manyokole, da direcção de infracções económicas e corrupção do Lesoto, foi mais longe em acusar os chineses de influência indevida no governo depois de anos a evitar investigações do governo sobre corrupção, emigração ilegal e licenças ilegais de trabalho.
“A parte triste destas investigações é que existe muita corrupção com raízes profundas e estes cidadãos chineses capturaram o governo,” disse ao jornal Lesotho Times, em Outubro de 2020. “Todos os governos que vieram e foram, de uma forma ou de outra, beneficiaram-se deles e estão a fazer tudo o que podem para impedir investigações.”
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