EQUIPA DA ADF
A recente notícia de que a África do Sul estava a levantar as restrições da COVID-19 foi recebida com celebrações.
As pessoas reuniram-se em restaurantes e bares, nas praias e nos parques.
Alguns ainda usavam máscaras em lugares fechados e mantinham uma distância em relação aos outros, mas um sentimento de normalidade está finalmente a voltar para o país mais atingido do continente.
Olhando para a sua sala de jantar lotada, um proprietário de restaurante da Cidade do Cabo recordou-se dos problemas financeiros que o obrigaram a encerrar nos primeiros dias da pandemia.
“Eu gostaria de nunca mais ter de ouvir o nome COVID,” Mfundo Mbeki disse ao site de notícias, Deutsche Welle (DW). “É o que desejamos ver acontecer.”
O sonho da reabertura é partilhado por pessoas de todo o continente. Na África do Sul, está a tornar-se uma realidade.
O Presidente Cyril Ramaphosa citou a queda do número de casos da COVID-19 na quarta vaga, a mais recente do vírus, quando anunciava planos para acabar com o estado de calamidade pública a nível nacional, imposto em Março de 2020.
“A nossa abordagem foi fundamentada ao longo de todo o processo pelas melhores provas científicas disponíveis, e nós nos destacamos pela qualidade dos nossos cientistas e pelo seu envolvimento em cada passo da nossa resposta,” disse na sua comunicação à nação, no dia 10 de Fevereiro perante os parlamentares.
“Agora estamos prontos para entrar numa nova fase da nossa gestão da pandemia. É minha intenção terminar o estado de calamidade pública a nível naciona logo que concluirmos as outras medidas constantes da Lei Nacional de Saúde e outra legislação sobre a pandemia.”
Na altura em que proferiu o discurso, a África do Sul tinha o registo acumulado de mais de 3,6 milhões de casos e aproximadamente 100.000 mortes desde que a pandemia começou.
A altamente contagiosa variante Ómicron mudou tudo.
Fareed Abdullah, director do Gabinete de Pesquisa da SIDA e Tuberculose, no Conselho Sul-Africano de Pesquisa Médica, descreveu a experiência da Ómicron em Tshwane, onde o primeiro caso foi identificado.
“A velocidade com a qual a quarta vaga impulsionada pela variante Ómicron aumentou, atingiu o pico e depois registou um declínio foi surpreendente,” publicou no Twitter. “Atingiu o pico em quatro semanas e teve um declínio precipitado nas outras duas. A vaga da Ómicron já chegou ao seu fim na cidade de Tshwane. Foi uma inundação repentina mais do que uma vaga.
“As mortes na vaga da Ómicron reduziram em 80%, os internamentos na UCI foram 75% a menos e o tempo de estadia no hospital foi de 50% em comparação com os resultados e internamentos das vagas anteriores [combinadas].”
Até finais de Dezembro de 2021, as decisões sobre as políticas eram feitas com base nos dados do Departamento da Saúde da África do Sul, que demonstravam que a maior parte da população já tinha estado exposta ao vírus.
O país revogou o seu recolher obrigatório no dia 31 de Dezembro, em antecipação às celebrações do Ano Novo. Mais regulamentos foram implementados no dia 31 de Janeiro, quando o governo anunciou que estava no nível de alerta 1 da COVID-19, o menor de cinco estágios.
“As estratégias de confinamento já não são adequadas; a mitigação é a única estratégia viável,” Director-Geral do Departamento de Saúde, Sandile Buthelezi, escreveu num memorando para as autoridades provinciais em finais de Dezembro, anunciando o fim do rastreamento de contactos.
Entre as novas directrizes, deixam de existir os requisitos de testagem ou isolamento para qualquer pessoa assintomática. As escolas já regressaram ao normal sem o distanciamento social.
“A fundamentação para estas emendas foi informada por um número de pessoas com imunidade para a COVID-19, que aumentou substancialmente, excedendo 60% a 80% em várias pesquisas serológicas,” disse o Departamento de Saúde num comunicado.
Enquanto outros países africanos emergem da quarta vaga da COVID-19, África do Sul oferece esperança para um fim de muitas das mais duras restrições que o país teve durante aproximadamente dois anos.
Apesar da ameaça de mais variantes no horizonte, África do Sul retomou algumas das semelhanças da normalidade e o resto do continente pode estar ansioso por fazer o mesmo.
Mas os especialistas em matéria de saúde alertam que cada país possui circunstâncias diferentes e taxas de infecção e internamento diferentes a ter em conta na determinação da sua possibilidade ou não de reabrir.
“É por essa razão que não se pode dizer: Esperamos que as coisas ocorram da mesma forma que na África do Sul,” epidemiologista da Universidade de Stellenbosch, Dr. Wolfgang Preiser, disse à DW.