EQUIPA DA ADF
O ano de 2021, em África, será recordado como semelhante a 2020 — o ano da COVID-19. Mas houve outros grandes eventos em 2021, em África, o continente com crescimento mais rápido do mundo.
GOLPES MILITARES — Nas passadas duas décadas, África registou grandes declínios na frequência de golpes de Estado. Contudo, em 2021, essa tendência foi revertida. Chade, Guiné, Mali e Sudão tiveram golpes militares, somando mais em 2021 do que os anteriores cinco anos juntos em África.
O golpe do Sudão foi o segundo naquele país, num período de dois anos. O exército sudanês depôs o presidente Omar al-Bashir, em Abril de 2019, depois de manifestações em massa contra o seu regime ditatorial. Os líderes militares realizaram um segundo golpe de Estado, em Outubro de 2021, e afastaram o Primeiro-Ministro, Abdulla Hamdok. Mais tarde, ele foi restituído ao cargo, nos termos de um acordo com o exército. Desde essa altura, ele substitui todos os governadores estatais interinos nomeados pelo líder militar daquele país. Continuam os protestos em todo o país numa altura em que a população clama por um governo verdadeiramente democrático.
GUERRA CIVIL NA ETIÓPIA — A guerra civil etíope começou em Novembro de 2020, na região de Tigré, com as Forças de Defesa do Tigré a atacar as forças de defesa nacional daquele país e a sua polícia federal.
Até finais de 2021, a guerra civil tinha-se tornado uma crise humanitária, com todas as partes a serem acusadas de crimes de guerra e combatentes de milícias étnicas a desempenharem um papel de desestabilização. Mais de 8,6 milhões de pessoas da região enfrentam insegurança alimentar grave.
Até finais de 2021, os líderes mundiais estiveram a alertar que a violência e a fome na Etiópia colocam em risco a paz e a estabilidade de todo o Corno de África.
O TERRORISMO NO SAHEL — Os terroristas do Sahel obrigaram mais de 2 milhões de pessoas a abandonarem as suas residências e o ano passado continuou com uma tendência de violência com mais de 5.000 pessoas sendo mortas no conflito armado em cinco países sahelianos. A maior parte da violência ocorreu em Burkina Faso, Mali e Níger.
A operação Barkhane, da França, e as operações de combate aos insurgentes, que iniciaram em 2014, podem estar a chegar ao seu termo, visto que a França procura substituir a missão com uma coligação internacional de tropas que irá treinar e acompanhar as forças locais. A Força Conjunta G5 do Sahel, um esforço militar regional, continua a desempenhar um papel importante, mas enfrenta desafios de financiamento e de equipamento.
A COVID-19 — Em 2021, o coronavírus causou mais de 8,7 milhões de infecções registadas e mais de 222.000 mortes registadas em África. A África do Sul e o Egipto foram os países mais afectados do continente. A pandemia causou uma superlotação dos hospitais, desvio de recursos do combate a outras doenças, carências de coisas como oxigénio médico e um prejuízo económico enorme.
BARRAGEM DISPUTADA — Em Julho, a Etiópia começou o segundo enchimento do seu projecto da Grande Barragem do Renascimento Etíope sobre o Rio Nilo. O Egipto e o Sudão continuaram a exercer pressão para medidas diplomáticas a fim de impedir o enchimento, por preocupações de que este poderá afectar o seu acesso a água potável.
A barragem, que irá gerar 6,45 gigawatts de electricidade, será a maior estação hidroeléctrica de África e a sétima maior barragem do mundo. A Etiópia afirma que o volume do Nilo não será afectado, porque o enchimento será estrategicamente feito durante a época chuvosa de Julho e Agosto.
AS FORÇAS DEMOCRÁTICAS ALIADAS — Soldados ugandeses formaram uma equipa com a sua contraparte da República Democrática do Congo (RDC) para iniciar rusgas conjuntas contra o grupo terrorista conhecido como Forças Democráticas Aliadas, em finais de 2021. O grupo opera ao longo da fronteira de ambos os países.
As autoridades ugandesas culparam o grupo de bombardeamentos suicidas, na capital Kampala. O grupo levou a cabo dezenas de ataques na região leste da RDC. O grupo terrorista matou mais de 6.000 civis, desde 2013.
A CRISE DE CABO DELGADO — Num esforço para controlar a insurgência de longa data, no norte de Moçambique, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral e o Ruanda lançaram uma intervenção durante o verão. Os esforços ajudaram o governo de Moçambique a libertar zonas como a principal cidade portuária de Mocímboa da Praia. Em Novembro, Moçambique criou uma força especial de soldados de elite e da polícia para combater a insurreição. Os insurgentes islamitas estiveram a liderar uma insurreição na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, desde 2017. Pelo menos 3.340 pessoas foram mortas e mais de 800.000 encontram-se deslocadas.
O GRUPO WAGNER — O grupo militar privado da Rússia, Grupo Wagner, continuou a desempenhar um papel de desestabilização na República Centro-Africana (RCA) e na Líbia, em 2021, e tem planos para entrar em parceria com o Mali.
Enquanto Mali procura fazer uma transição para um governo democrático, a junta militar que está no poder tentou contratar 1.000 “contratados” do Grupo Wagner para lidar com os terroristas da região. Na RCA, estima-se que 3.000 combatentes do Grupo Wagner operam a partir de 30 bases espalhadas pelo país. Na Líbia, os mercenários do Grupo Wagner ignoraram apelos para abandonar o país e depois de saírem de regiões próximas de Trípoli plantaram minas terrestres em bairros civis. Acusações de violações de direitos humanos, mineração ilícita e tráfico continuam a seguir o grupo russo.
CESSAR-FOGO NA LÍBIA — Uma unidade frágil do governo manteve-se no poder na Líbia, em 2021, e um cessar-fogo entrou em vigor. Foram marcadas eleições para os finais de 2021.
As autoridades líbias e internacionais tiveram dificuldades em unificar a Líbia, desde a guerra civil de 2011. Desde 2014, duas autoridades rivais afirmaram estar a governar a Líbia, o que causou uma segunda Guerra Civil Líbia, de 2014 a 2020. Uma série de ordens judiciais anulou as decisões da comissão eleitoral da Líbia de bloquear figuras de maior notoriedade, como Saif al-Islam Gadhafi, o filho do antigo ditador, para que não concorresse à presidência. O Primeiro-Ministro interino, Abdul Hamid Dbeibah, e Khalifa Haftar, o líder do autoproclamado Exército Nacional da Líbia, foram por enquanto aprovados pela comissão, com recursos interpostos.
CRISE DE SEGURANÇA DA NIGÉRIA — As crises de segurança incluem uma insurgência de extremistas na região nordeste, raptos em massa de crianças em idade escolar para obtenção de resgate e uma violência entre pastores e agricultores assolaram a Nigéria em 2021. O país também enfrenta movimentos separatistas na região leste de Biafra.
A Nigéria, que possui a maior economia de África, deve lutar contra os terroristas do Boko Haram, que mataram mais de 36.000 pessoas e obrigaram aproximadamente 2,3 milhões de pessoas a abandonarem as suas residências. Muitas partes do país também estão a contratar mercenários para protegerem a si próprios dos grupos de criminosos que circulam nos arredores sem qualquer agenda senão a violência e pilhagem. O presidente Muhamadu Buhari comprometeu-se em devolver a estabilidade, mas, em Junho, suspendeu o uso do Twitter, numa disputa com o gigante de tecnologia, depois da remoção de um dos seus tweets da sua conta pessoal. A proibição do Twitter foi cancelada depois de quatro meses.