EQUIPA DA ADF
A variante Ómicron da COVID-19 representa um risco elevado de reinfecção para milhares de pessoas em toda a África que recuperaram da doença, de acordo com especialistas em matéria de saúde pública.
“Infecção anterior já protegeu contra Delta, mas agora com Ómicron parece que isso não acontece,” Professora Anne von Gottberg, uma microbióloga do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul, disse durante uma recente conferência de imprensa dos escritórios regionais da África da Organização Mundial de Saúde.
“Mesmo aqueles que têm a imunidade natural podem ficar infectados,” disse von Gottberg. “Isso é o que devemos monitorar.”
A variante Ómicron, que começou a substituir a variante Delta em partes da África Austral, propaga-se duas vezes mais rapidamente do que a Delta, de acordo com os pesquisadores. Também apresenta dezenas de mutações, incluindo várias que podem ajudá-la a escapar das defesas do corpo.
Analistas da firma biomédica nference dizem que a Ómicron carrega um pouco do código genético semelhante ao material encontrado num vírus que pode causar uma gripe comum. Eles acreditam que a variante Ómicron possa ter evoluído de alguém infectado por ambos os vírus.
De acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC), 8,1 milhões de africanos recuperaram de infecções pela COVID-19, uma situação que significa que eles têm alguma imunidade natural ao vírus. A pesquisa demonstra que a imunidade natural diminui com o tempo, mas não desaparece completamente.
Apesar disso, as infecções pela Ómicron estão a aumentar rapidamente. Na última semana de Novembro, o Africa CDC comunicou que os casos de COVID-19 duplicaram em comparação com a semana anterior.
Os 52.300 novos casos incluíram mais de 31.000 somente da África do Sul, um aumento motivado pelos casos de Ómicron detectados na província de Gauteng, onde se encontra a cidade de Joanesburgo.
O NICD comunicou que os testes da COVID-19 naquele país estão a demonstrar uma taxa de positividade de mais de 24%, aproximadamente três vezes a taxa de uma semana atrás.
Apesar da rapidez da propagação da Ómicron, o director do Africa CDC, Dr. John Nkengasong, apelou a população para permanecer calma.
“Apenas precisamos de ser pacientes e sabermos que não estamos sem ajuda,” disse Nkengasong durante uma conferência de imprensa. “Nós possuímos muito mais ferramentas no campo da batalha contra este vírus.”
Nkengasong disse que a variante Ómicron pode ser gerida com os mesmos métodos que o continente utilizou para impedir a propagação da COVID-19 desde que a pandemia começou, no início de 2020. Esses métodos incluem máscaras, lavagem das mãos e evitar grandes aglomerados.
“As medidas de saúde pública são aplicáveis a tudo,” disse Nkengasong. “Elas funcionam contra qualquer variante.”
Cada infecção cria uma nova oportunidade para que o vírus da COVID-19 crie uma nova versão de si própria, potencialmente mais virulenta.
A Ómicron, assim como outras variantes, propaga-se através de transmissão entre pessoas não protegidas. Dado o número de mutações, é provável que a Ómicron tenha evoluído a partir de um paciente com o sistema imunológico comprometido.
“Especialmente naqueles com sistema imunológico comprometido, o indivíduo terá dificuldades de desfazer-se do vírus,” disse Nkengasong. “Quanto mais a luta continua, mais o vírus vence.”
Os cientistas chegaram à uma conclusão semelhante sobre uma variante diferente — C.1.2 — que apareceu durante a vaga da Delta, mas nunca se tornou numa ameaça como a Ómicron.
As mutações do vírus da COVID-19 estiveram maioritariamente centradas nas proteínas spike, as projecções que ajudam o vírus a invadir as células onde se pode reproduzir. A Ómicron possui cerca de 50 mutações, incluindo 32 de uma variedade da proteína spike, de acordo com os pesquisadores.
“A situação da Ómicron será uma lição, por causa do número excessivo de mutações que existem por aí,” disse Nkengasong. “Os locais críticos em que as mutações estão a ocorrer irão ensinar-nos muito sobre aquilo que o futuro nos espera.”