EQUIPA DA ADF
Mais de 8 milhões de sul-africanos vivem com sistemas imunológicos comprometidos pelo HIV, uma situação que faz com que sejam vulneráveis à infecção pela COVID-19 e — caso fiquem infectados — potenciais fontes de novas variantes enquanto os seus corpos lutam contra o vírus.
Num estudo, uma mulher seropositiva lutou contra a COVID-19 por mais de sete meses enquanto o vírus passava por rápidas mutações em resposta.
Os pesquisadores do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis (NICD), da África do Sul, recentemente descobriram a variante C.1.2, a versão da COVID-19 com mais mutações até hoje. É um possível resultado de uma batalha semelhantemente prorrogada entre um sistema imunológico comprometido e o coronavírus.
“Qualquer paciente com um sistema imunológico enfraquecido, por exemplo, aqueles que estejam infectados pelo HIV ou doentes com cancro sujeitos a medicamentos imunossupressores, podem ser incapazes de lutar contra o coronavírus de forma tão rápida quanto um indivíduo saudável,” Catherine Scheepers, cientista médica sénior do NICD, disse à ADF.
Quanto mais tempo a pessoa estiver infectada com a COVID-19, maior é o potencial para o surgimento de mutações.
As mutações ocorrem como uma consequência natural da infecção. Elas são a forma de o vírus lutar pela sobrevivência contra o sistema imunológico do corpo. Cada infecção produz mutações e a maior parte delas são inofensivas.
O problema surge quando ocorre uma mutação que ajuda o vírus a vencer o sistema imunológico e escapar para a população. Isso é o que causou o surgimento da variante Delta, que foi primeiramente anunciada na Índia, em Maio, e rapidamente propagada pelo mundo.
Somente em África, a vaga da variante Delta, que agora está a desaparecer, contribuiu para 72.000 mortes pela COVID-19, entre Junho e Agosto, de acordo com o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças. Este número representa mais de um terço de todas as mortes pela COVID-19 que o continente já registou desde que a pandemia começou no início de 2020.
Durante toda a pandemia, a África do Sul registou o maior número total de casos e de mortes pela COVID-19 do continente, em parte, devido ao seu grande número de pessoas que vivem com HIV, tuberculose e outras doenças que as colocam em elevado risco de infecção.
Aproximadamente 3 milhões de casos de COVID-19 também podem ser vistos como aproximadamente 3 milhões de oportunidades para que o vírus crie variantes mais mortais. A variante Beta, que circulou pelo mundo em meados de 2020, foi primeiramente anunciada na África do Sul.
“Não se sabe quantas pessoas infectadas pelo HIV e outras pessoas com sistemas imunológicos comprometidos contribuem para a evolução geral e global das variantes,” disse Scheepers. “Contudo, esta não é uma circunstância única para África.”
Muitos dos residentes da África do Sul infectados pelo HIV vivem nas zonas rurais pobres à margem das campanhas de saúde pública. Os centros de saúde que fazem testes de COVID-19 podem estar longe das pessoas que precisam deles. A desinformação e a falta de informação continuam a ser problemas para os profissionais de saúde que procuram prevenir a propagação da doença.
Entretanto, especialistas sul-africanos em matérias de saúde receiam que uma quarta vaga de infecções esteja no horizonte durante as festas do final do ano.
“Há evidências fiáveis que indicam que uma infecção prolongada e um sistema imunológico comprometido são alguns dos mecanismos para o surgimento das variantes do SARS-Cov-2,” disse Tulio de Oliveira, director da KRISP, a Plataforma de Inovação e Sequenciamento de Pesquisa de Kwa-Zulu Natal. “África do Sul realmente arrisca-se a tornar-se uma das fábricas de mutações do mundo.”