EQUIPA DA ADF
Enquanto a mais recente vaga de infecções pela COVID-19 reduz em toda a África, os governos e os especialistas em matérias de saúde pública estão a perguntar o que vem a seguir na resposta do continente à pandemia global.
A resposta é multifacetada. Eis algumas das questões que a África enfrenta numa altura em que trabalha para derrotar a COVID-19 nos próximos meses e anos.
Novas Variantes
Com cerca de 12% de testes da COVID-19 produzindo resultados positivos, a doença continua a propagar-se de forma contínua. Isso levanta a possibilidade de desenvolvimento de variantes novas e potencialmente mais mortais, de acordo com Mark Ainsworth, director de dados, conhecimento e analítica, do gestor de activos, Schroders, com sede no Reino Unido.
“Não podemos saber se existirá outra variante ao longo do percurso com a escala de vantagem que a Delta tem em relação às variantes anteriores, mas trata-se sem dúvidas de um risco,” Ainsworth disse à Bloomberg.
Até agora, os pesquisadores africanos já identificaram duas variantes que a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera dignas de observação. A variante Eta foi descoberta na Nigéria em finais de 2020. A variante C.1.2. apareceu na província sul-africana de Guateng durante o decurso da vaga da Delta que agora vai desaparecendo.
A variante Eta propagou-se para a África Ocidental e agora é a segunda variante mais comum do continente. A variante C.1.2 representa um pequeno número de casos na África Austral e na República Democrática do Congo.
Poderá alguma destas variantes subir para alcançar a proeminência numa altura em que a variante Delta reduz o seu impacto? Até agora, os especialistas seguiram uma abordagem de esperar para ver.
Aumento de Testagem e Vigilância
Para permanecer adiante de qualquer futuro surto das variantes, o Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (Africa CDC) pretende expandir a testagem em todo o continente, na esperança de acabar com uma nova vaga antes que a mesma saia do controlo.
O director do Africa CDC, Dr. John Nkengasong, disse que a sua agência irá aumentar as testagens utilizando testes rápidos de antigénio, que são simples de utilizar e fáceis de transportar para as zonas recônditas. Os testes rápidos não são tão exactos quanto os mais complexos testes laboratoriais PCR, mas podem detectar se alguém esteve exposto ao vírus e precisa de ir para o isolamento para impedir que o vírus se propague mais ainda.
Os testes PCR, que são mais precisos, podem levar vários dias para produzir resultados. Eles deverão continuar a ser o teste padrão para que as pessoas façam antes de viajarem, disse Nkengasong.
Incrementar o Sequenciamento de Genomas
África possui uma capacidade limitada de identificar variantes da COVID-19 com base no seu código genético. Desde que a pandemia começou em 2020, os laboratórios africanos realizaram apenas 1% das 3 milhões de sequências genéticas realizadas no mundo.
Contudo, é provável que esta situação mude, visto que a OMS, as universidades e os benfeitores privados investem recursos para incrementar as capacidades de sequenciamento do continente.
O continente está a aproximar-se do sequenciamento de até 50.000 genomas, cinco vezes o número que era feito no início de 2021.
“Existem várias e grandiosas histórias de sucesso de países que estão bem estabelecidos, tais como África do Sul, Angola, Nigéria e Quénia, e países que estão a recuperar rapidamente, como o Botswana,” disse o Dr. Tulio de Oliveira, director da Plataforma de Pesquisa, Inovação e Sequenciamento de KwaZulu-Natal e do Centro de Resposta à Epidemias e de Inovações (CERI, sigla inglesa), ambos sediados na África do Sul.
O CERI recentemente formou pesquisadores do Malawi, que rapidamente produziram os seus próprios resultados quando regressaram a casa. Os pesquisadores do Uganda também aprenderam novas técnicas de sequenciamento no CERI para melhorar a sua capacidade.
O sequenciamento genómico tem sido importante na resposta à COVID-19, de acordo com de Oliveira.
“Novas variantes estão a formar-se a todo o momento, por isso, os dados genómicos orientaram os países a tomarem decisões rápidas e informadas sobre saúde pública no início da pandemia,” disse.
Melhoria dos Sistemas de Saúde
As exigências da pandemia da COVID-19 revelaram as falhas nos sistemas de saúde em toda a África. Nkengasong está a apelar os países a utilizarem as lições aprendidas durante a pandemia para fortalecerem os seus sistemas de saúde pública de modo a estarem preparados para futuras epidemias ou pandemias.
“Penso que todos reconhecemos, durante esta pandemia, que não é mais um conceito teórico que devemos investir nos nossos sistemas de saúde,” disse Nkengasong. “Eles são as pedras angulares para o nosso crescimento económico e o nosso ganho em termos de segurança em saúde.”
Os países precisam de criar as suas próprias versões do Africa CDC para ajudá-los a fazer a monitoria e a responder a surtos de doenças, disse Nkengasong.
Criar esse tipo de capacidade significa desenvolver uma força de trabalho de cientistas, especialistas em matérias de saúde pública e um sistema de operações de emergência que possa responder de forma rápida a crises. Num continente de 1,3 bilhões de pessoas, seria necessário triplicar o número de epidemiologistas dos actuais 1.900 para 6.000.
“Estas são algumas das áreas-chave que representam um desafio para os países e nós devemos investir nesse espaço,” disse Nkengasong.