EQUIPA DA ADF
Num vídeo amplamente divulgado em meados de Julho, um director de hospital em Mateur, Tunísia, foi visto a irromper em lágrimas quando uma carência de oxigénio a nível nacional colocava em risco as vidas dos pacientes de COVID-19.
“Pessoas estão a morrer à minha frente, e não posso fazer nada. Por quê?” chorava ele. “Tenho 40 camas e apenas 40 cilindros de oxigénio. Como serei capaz de salvar as pessoas? Por amor de Deus, por quê?”
Cenários semelhantes foram vistos em toda a África do Norte, numa altura em que a mais contagiosa variante Delta se associava ao relaxamento das restrições para provocar um grande aumento em Julho e Agosto.
Mas agora, apenas algumas semanas depois, o número de novas infecções está a reduzir drasticamente.
É uma viragem bem acolhida pelos quatro países da região do Magrebe — Argélia, Líbia, Marrocos e Tunísia — que se encontravam entre os países mais afectados de África.
Tunísia
Até 26 de Setembro, a Tunísia tinha registado 704.914 casos de COVID-19 e 24.732 óbitos, num país de aproximadamente 11,7 milhões de habitantes.
Isso fez com que o país tivesse uma taxa de mortalidade per capita de 2.115 por milhão, centenas mais por milhão em comparação com a próxima taxa de mortalidade mais elevada na África do Sul (1.487).
Com uma média semanal de 7.901 casos no dia 13 de Julho, o pico da Tunísia chegou mais cedo do que o resto da região.
Os hospitais e as casas mortuárias ficaram superlotados, quando o país registou 175.429 casos e 5.108 óbitos em Julho. Corpos eram deixados em salas com outros pacientes de COVID-19 por até 24 horas pela falta de pessoal para gerir as transferências.
“Estamos numa situação catastrófica,” a porta-voz do Ministério de Saúde, Nisaf Ben Alaya, disse à imprensa no dia 8 de Julho. “O sistema de saúde entrou em colapso. Os médicos estão a sofrer de uma fadiga sem precedentes. … O barco está a afundar.”
Depois de manifestações de protestos contra o governo, o Primeiro-Ministro, Hichem Mechichi, exonerou o Ministro de Saúde, Faouzi Mehdi, no dia 21 de Julho. Quatro dias depois, o presidente Kais Saied exonerou Mechichi, dissolveu o parlamento e atribuiu a responsabilidade da resposta à pandemia ao exército.
As autoridades impuseram restrições de viagem rigorosas e um recolher obrigatório desde o início da noite.
Os números de casos começaram a reduzir. No dia 24 de Setembro, a média semanal era de 662 casos, a mais baixa registada desde Março último.
Argélia
De acordo com o Instituto Pasteur, um centro estatal de pesquisa, a variante Delta causou 71% dos novos casos de infecções pela COVID-19 na Argélia, em Julho. Dos 202.772 casos daquele país, desde que a pandemia começou, 67.000 ocorreram de Junho a Agosto.
O país atingiu o pico com cerca de 2.000 novos casos no dia 28 de Julho. Mas apesar de ter havido 268 óbitos na primeira semana de Agosto, apenas houve 132 mortes na semana de 12 de Setembro.
Alguns observadores, como o professor Reda Djidjik, director de imunologia, no Hospital Universitário de Beni-Messous, suspeitaram que o número de casos era muito elevado por causa de uma fraca testagem.
“Provavelmente temos cerca de 25.000 a 30.000 casos por dia,” disse à revista The Africa Report, no início de Agosto. “Isso explica por que os hospitais chegam a estar saturados, porque 1% a 3% de pacientes precisa de hospitalização e assistência com oxigénio.”
As autoridades tornaram as restrições mais rigorosas no dia 1 de Agosto, voltando a impor um recolher obrigatório e proibindo aglomerados, incluindo protestos.
Marrocos
Depois de aliviar o recolher obrigatório e de abrir as suas fronteiras em Junho, o vírus atingiu o pico com aproximadamente 10.000 novos casos no dia 10 de Agosto. Dos 929.305 casos do Marrocos, mais de 237.000 ocorreram em Agosto, em comparação com menos de 8.000 em Maio.
As autoridades impuseram um novo recolher obrigatório, restringiram os aglomerados e restringiram as viagens de e para Agadir, Casablanca e Marraquexe.
Abdelkrim Meziane Bellefquih, do Ministério de Saúde, disse no dia 28 de Setembro que as infecções tinham reduzido pela sétima semana consecutiva.
Líbia
Citando o aumento acentuado no número de casos de COVID-19 na vizinha Tunísia, a Líbia encerrou as suas fronteiras no dia 8 de Julho e suspendeu voos entre os dois países.
Mas o vírus continuou a propagar-se.
Depois de registar aproximadamente 8.000 casos em Junho, o país assolado por conflitos registou cerca de 60.000 em Julho, incluindo um registo de 6.061 novas infecções no dia 18 de Julho, de acordo com o Centro Nacional de Controlo de Doenças da Líbia.
“A curva de novos casos que aumenta constantemente demonstra que estamos a caminho de uma terceira vaga, especialmente agora que a variante Delta está a propagar-se nos países vizinhos,” o médico sénior do centro, Tareq Gibrael, disse ao jornal Arab Weekly no dia 12 de Julho. “Estamos numa situação muito difícil.”
A Líbia impôs um recolher obrigatório e um confinamento obrigatório de três dias no início de Agosto, em antecipação do ano novo muçulmano. Em Setembro, o número de casos e de óbitos finalmente começou a reduzir, quando a Líbia registou 83 óbitos na semana de 12 de Setembro e registou um declínio dramático para uma média semanal de 838 casos no dia 27 de Setembro.